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Erosão pela maré abre canal e divide ilha em duas partes no litoral de SP

Foto de 2016 mostra faixa cada vez menor de areia na ilha do Cardoso; hoje, local está dividido em duas partes - Avener Prado - 23.nov.2016 / Folhapress
Foto de 2016 mostra faixa cada vez menor de areia na ilha do Cardoso; hoje, local está dividido em duas partes Imagem: Avener Prado - 23.nov.2016 / Folhapress

José Maria Tomazela

Sorocaba

29/08/2018 17h20

O movimento das marés abriu um canal de 170 metros e dividiu em duas partes a Ilha do Cardoso, em Cananeia, no extremo sul do litoral de São Paulo, divisa com o Paraná. O rompimento da barreira que ainda ligava as porções norte e sul da ilha foi acelerado pelas ressacas que atingiram a costa paulista nos últimos dias. Nesta quarta-feira, (29), a profundidade do canal já era de três metros e permitia a passagem de barcos. A areia levada pela maré causou também um assoreamento no canal do Ararapira, que separa a ilha do continente.

A Ilha do Cardoso foi transformada em parque estadual, unidade de conservação com proteção integral, em 1962. A área total é de 13 mil hectares. De acordo com o gestor Edison Nascimento, a abertura do canal é irreversível e resulta de um processo de erosão que atinge também outras partes da costa, como a Ilha Comprida e a região da Jureia, em Iguape. "A Praia do Leste, em Iguape, desapareceu e o canal entre Iguape e Ilha Comprida está estreitando", disse. Em dezembro do ano passado, após forte ressaca, a ligação entre as duas partes da Ilha do Cardoso ficou por um fio, ligada apenas por uma estreita faixa de areia.

Segundo Nascimento, ainda não se sabe com exatidão o tamanho da área que foi separada do corpo principal, formando uma segunda ilha. "É uma porção bem menor, mas expressiva, que abriga 15 famílias de comunidades tradicionais, como o Pontal do Leste, que recebe visitação turística. Ainda vamos levantar as dimensões." Os moradores, cerca de 50 pessoas, ficaram isolados da outra parte da ilha, onde ficam as comunidades de Vila Rápida e Enseada da Baleia, o que, segundo o gestor, não representa grande problema. "Nessa região, a embarcação é o principal meio de transporte."

Apesar da separação, as duas porções continuam integrando o Parque Estadual Ilha do Cardoso. Segundo o gestor, os impactos ambientais decorrentes da maior entrada de água do mar no canal ainda serão avaliados. "Isso já acontece, de forma natural em outros pontos do canal, tornando a água salobra", disse. Se o processo de assoreamento continuar, a nova ilha pode se ligar ao Parque Nacional do Superagui, no Estado do vizinho. Estudo do Departamento de Geologia da Universidade Federal do Paraná apontou que o leito natural do Canal do Ararapira, na divisa entre os dois Estados, está se afunilando. A largura, que era de quase 100 metros na década de 1980, agora não passa de 20 metros.

A prefeitura de Cananeia informou que está acompanhando a situação dos moradores das comunidades que ficaram isoladas. Conforme o município, o turismo não será afetado. A Defesa Civil mantém equipe de prontidão para o caso de se acentuar a erosão. Na tarde desta quarta, o movimento da maré continuava corroendo a borda do canal, mas com menor intensidade.

Valo Grande

Além das mudanças na geografia litorânea da região causadas pelos fenômenos naturais, há também episódios de intervenção humana. Em 1855, no Brasil imperial, para facilitar o escoamento da produção de arroz por barcos, foi aberto um canal de 4,4 m de largura por 2 de profundidade entre o Rio Ribeira e o Mar Pequeno, em Iguape, numa extensão de 4 quilômetros. Com o tempo e a erosão, o canal foi se alargando e hoje tem 330 m de largura e 7 de profundidade, sendo conhecido como Valo Grande. Os sedimentos acabaram assoreando a entrada do Porto de Iguape, que se tornou inviável. Recebendo menor volume de água, a foz original do Ribeira quase desapareceu.