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Governador do Ceará acusa PT de 'preconceito'

Pedro Venceslau, enviado especial, e Ricardo Galhardo, com colaboração de Gabriel Weiner

Fortaleza

15/09/2018 08h52

Aliado do presidenciável Ciro Gomes (PDT), o governador do Ceará e candidato a reeleição, Camilo Santana (PT), se diz vítima de "preconceito" da cúpula do partido na distribuição das verbas do fundo eleitoral por causa de sua aliança com o adversário do petista Fernando Haddad na disputa presidencial.

"Eu questionei a direção do partido e solicitei que fosse revisto esse critério. O Ceará tem um grande colégio eleitoral. Dos governadores do PT, somos o terceiro - só perdendo para Minas Gerais e Bahia. Não acho que seja o critério correto. Estou aguardando uma posição da direção nacional", afirmou o governador cearense.

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A tensão entre Camilo e o PT aumentou após Haddad ser oficializado candidato à Presidência no lugar do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, condenado e preso na Lava Jato. A campanha à reeleição do governador ignora Haddad enquanto Camilo faz campanha ao lado de Ciro.

Nos materiais de campanha, bandeiras, adesivos e nos comerciais da TV quem aparece ao lado do governador petista é Cid Gomes, irmão de Ciro, que disputa o Senado. Quando questionado sobre em quem vai votar para presidente, Santana sorri e desconversa: "O voto é secreto".

Em uma caminhada do governador em Fortaleza a reportagem contou 42 "porta bandeiras" trabalhando para o petista - cada uma recebendo um salário mínimo por mês da campanha. Quatro deles disseram que não sabiam quem é Haddad. O presidenciável petista também é ignorado na TV, jingle e santinhos de Camilo.

Na semana passada, participou de uma carreata e discursou ao lado do pedetista em um grande comício em Sobral, base dos Ferreira Gomes. Fez elogios ao ex-ministro e no final chamou o pedetista para tirar um selfie no palco.

Em outro ato político, esse em Fortaleza, Camilo disse ter uma "forte admiração" por Ciro. E concluiu: "Você estimulou nossa geração na política e representa a esperança. Estamos juntos".

Em conversas reservadas, dirigentes petistas não escondem a irritação com Camilo. Alguns chegam a chamá-lo de "traidor". Segundo eles, as reclamações do governador em relação aos repasses são a preparação do discurso para deixar o PT depois das eleições.

Repasses

Até quarta-feira (13), quando concedeu a entrevista, Camilo havia recebido R$ 785 mil da direção nacional do PT. Nesta sexta-feira, 14, depois que o jornal O Estado de S. Paulo questionou o partido sobre as críticas do governador, o valor subiu para R$ 900 mil. O único candidato petista a governador que recebeu menos foi Wellington Dias, candidato à reeleição no Piauí, com R$ 882 mil. Candidatos desconhecidos e com poucas chances como Miragaya do PT (DF) e Jackeline Rocha (ES) receberam R$ 1 milhão cada.

Procurada, a direção do PT não respondeu sobre os repasses. A ordem é evitar polêmicas em nome de uma eventual aliança com Ciro no segundo turno.

Márcio Macedo, um dos vice-presidentes do PT, disse que as reclamações de Camilo são legítimas, mas fora de hora. "A divisão do fundo (eleitoral) foi amplamente debatida nas instâncias do PT com a participação de todos, inclusive representantes dele", disse Macedo.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.