Menor e menos renovado, 'centrão' reavalia estratégia com vistas a futuro governo
Menor, menos renovado e mais ligado a seus caciques. Esse é o novo perfil do "centrão", grupo de partidos que, com diferentes composições, ocupou cargos e deu sustentação a governos de orientações ideológicas distintas desde a redemocratização. O "centrão" voltou ao comando da Câmara dos Deputados em 2015 e trabalha para se manter no controle na próxima legislatura, liderado pelo presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ).
Aliados do tucano Geraldo Alckmin (SP), derrotado no primeiro turno, eles elegeram 142 parlamentares para os próximos quatro anos --22 a menos do que têm atualmente. Apesar da redução, há 82 deputados com mandato atualmente na Câmara, o que significa uma taxa de reeleição de 58%. A média da Câmara foi 10 pontos porcentuais menor, de 48%.
Entre os 60 novos integrantes do "centrão", há deputados de primeiro mandato e também alguns que voltam à Casa, como o ex-ministro da Agricultura Neri Geller (PR-MT). Destacam-se também familiares de caciques regionais, herdeiros políticos de clãs, policiais militares, estrelas nas redes sociais, líderes evangélicos e apresentadores de TV, além de deputados estaduais.
Unido no primeiro turno, o grupo rachou agora entre Jair Bolsonaro (PSL), que desfruta da simpatia do DEM e do PRB, e Fernando Haddad (PT), o preferido do Solidariedade. No PP e no PR não há preferências majoritárias.
Os dirigentes do "centrão" ainda não voltaram à mesa para definir os rumos de 2019, o que deve ocorrer após o segundo turno. Há quem defenda a união em um bloco formal e os que prefiram a informalidade, usando a força dos partidos apenas nas eleições internas.
Campeã de votos no Distrito Federal (120 mil), Flávia Arruda (PR-DF), mulher do ex-governador José Roberto Arruda, acredita que ainda é "cedo" para definir a atuação do bloco. "Não sei se o PR deverá ou não ser enquadrado como 'centrão'. Prudência não faz mal a ninguém. Vou esperar o resultado da eleição, a formação do novo governo, e a posição que o PR vai adotar, para só depois definir uma linha política", afirma.
Com trânsito na esquerda e na direita, Rodrigo Maia articula para ficar na presidência, mas há no grupo outros deputados interessados em ocupar o cargo. O bloco pretende trabalhar para que o partido do próximo presidente da República não comande a Casa.
Evangélicos
A única bancada do "centrão" que cresceu em relação aos eleitos em 2014 e à bancada atual foi a do PRB, que passou de 21 para 30 deputados. O partido privilegiou candidaturas de pastores e bispos ligados à Igreja Universal do Reino de Deus e apresentadores da TV Record.
Foram eleitos âncoras do programa policialesco "Balanço Geral" Wagner Montes, no Rio, Amaro Neto, no Espírito Santo, e Hélio Costa, em Santa Catarina.
Além disso, os partidos querem "engordar as bancadas" no início da próxima legislatura, nas palavras de um líder do PP. Dirigentes regionais começaram conversas individuais para atrair deputados eleitos por partidos que não atingiram a cláusula de barreira e que, por isso, podem migrar sem o risco de perder o mandato.
As cinco siglas do "centrão" direcionaram verbas do fundo eleitoral e do fundo partidário para garantir a reeleição dos deputados com mandato. Os caciques das siglas deram preferência a quem tentava a reeleição. O PP chegou a vincular a destinação dos recursos à fidelidade dos deputados.
Agora, pelo menos dois presidentes nacionais de partidos do bloco estarão no dia a dia do plenário. Paulinho da Força se reelegeu pelo Solidariedade, e Marcos Pereira elegeu-se pela primeira vez pelo PRB. No DEM, além de Maia, o presidente do partido, ACM Neto, terá João Roma (PRB), seu ex-chefe de gabinete na prefeitura de Salvador. No PP, o tesoureiro nacional, ex-ministro da Saúde Ricardo Barros, reelegeu-se, assim como os dois deputados mais influentes, Aguinaldo Ribeiro e Artur Maia, ligados ao senador Ciro Nogueira, presidente nacional. No PR, quem ainda dá as cartas é o ex-deputado Valdemar Costa Neto, por meio de José Rocha, líder da bancada reeleito na Bahia.
Puxadores de voto
O "centrão" ainda mostrou força individual com sete "puxadores de votos". Entre os mais votados do país, dois são do grupo: Celso Russomanno (PRB), o terceiro colocado no geral, e Tiririca (PR), o sexto, ambos eleitos por São Paulo. Nas disputas de cada estado, o "centrão" conseguiu eleger cinco campeões de votos dos 27 --todos deputados federais de primeiro mandato: Flávia Arruda (PR), no Distrito Federal, Amaro Neto (PRB), no Espírito Santo, Josimar Maranhãozinho (PR), no Maranhão, Hélio Costa (PRB), em Santa Catarina, e Tiago Dimas (SD), em Tocantins.
Apesar de alguns novos integrantes terem sido eleitos pelo voto de opinião -e possam mostrar posturas independentes--, dirigentes esperam respeito às orientações partidárias.
"Eu não digo (que vou ser) independente porque quero fazer o trabalho em conjunto com meu partido. Eu já faço um trabalho no partido de acatar algumas decisões a partir do diálogo, já que eu tenho alguns sonhos de ser prefeito da capital e governador do meu estado", diz Amaro Neto (PRB-ES).
Verba
Um trunfo dos caciques é a promessa ou a restrição de verba para campanha. Tanto o fundo partidário quanto o Fundo Especial de Financiamento de Campanha, principais fontes de dinheiro nas eleições deste ano, são divididos segundo regras estabelecidas pela cúpula das siglas.
Os novos deputados do "centrão" foram financiados majoritariamente por seus respectivos partidos. As siglas enviaram R$ 70 milhões aos eleitos. Ao todo, 57 de 60 deputados receberam dinheiro das direções partidárias --dez deles não tiveram nenhuma outra fonte de financiamento.
Só três (todos do DEM) não receberam recursos partidários, e dois (ambos do Solidariedade) não tiveram o dinheiro público como a principal fonte de receita, conseguindo arrecadação de apoiadores.
As informações são do jornal "O Estado de S. Paulo".
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