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Caixa de e-mail de sueco levou PF a esquema de propinas das gigantes do petróleo

Julia Affonso, Ricardo Brandt e Fausto Macedo

São Paulo

05/12/2018 15h01

Mensagens recuperadas pela PF no e-mail de um sueco revelaram que funcionários da Petrobras ligados à Diretoria de Abastecimento estariam envolvidos em diversos outros esquemas de corrupção, envolvendo organizações criminosas paralelas, que ocorriam na área de trading (compra e venda) de produtos da estatal, inserida na estrutura da Gerência Executiva de Marketing e Comercialização.

A Sem Limites mira negócios da área de trading da estatal e também as gigantes do mercado internacional do petróleo, Trafigura, Vitol e Glencore. Também são alvo da investigação a Chemoil, Oil Trade & Transport e Chemium.

Um efetivo de 190 policiais cumpre no Paraná e no Rio 37 ordens judiciais nesta quarta-feira. A juíza Gabriela Hardt, que assumiu a Lava Jato com a saída de Sérgio Moro, futuro superministro da Justiça e da Segurança Pública do governo Bolsonaro, decretou o sequestro de imóveis, indisponibilidades de contas bancárias e bloqueio de valores.

A Lava Jato suspeita que, entre 2011 e 2014, as potências internacionais pagaram propinas para intermediários e funcionários da Petrobras nos montantes, respectivamente, de US$ 5,1 milhões, US$ 6,1 milhões e US$ 4,1 milhões, relacionadas a mais de 160 operações de compra e venda de derivados de petróleo e aluguel de tanques para estocagem.

A Operação Sem Limites apura o pagamento total de pelo menos US$ 31 milhões em propinas para funcionários da Petrobras, entre 2009 e 2014.

As trading companies compram e vendem petróleo e derivados. Tais negociações são celebradas pelas empresas com diversos agentes no mercado internacional de combustíveis, dentre eles a Petrobras.

"Os indícios apresentados pelos órgãos de persecução penal indicam que as trading companies, através da atuação de grupo criminoso intermediador, corrompiam funcionários da Petrobras encarregados destas negociações, e com isso a estatal vendia um produto por um preço mais baixo que o justo, em um ambiente de mercado idôneo, e comprava a um preço mais alto que o justo, em um ambiente de mercado idôneo", assinala Gabriela Hardt.

O valor da comissão paga ao grupo, com parte sendo entregue a executivos da Petrobrás, era denominada "Delta".

A juíza detalha, com base no inquérito da PF, quem é quem no esquema. "No aprofundamento das apurações do material probatório, foram colhidas provas da existência de um grupo composto por Luiz Eduardo Loureiro Andrade, Carlos Henrique Nogueira Herz, Bo Hans Vilhelm Ljungberg, Rodrigo Garcia Berkowitz, César Joaquim Rodrigues da Silva e Carlos Roberto Martins Barbosa, envolvido no pagamento de vantagem indevida a executivos da Petrobras em outros contratos e áreas de atividade da estatal, especialmente na área de trading, de compra e venda de petróleo ou derivados da ou para a Petrobras por empresas estrangeiras como a Trafigura, Vitol, Glencore, Chemoil, Oil Trade & Transport e Chemium", pontua a magistrada.

Os investigadores apontam pagamento de propinas em negócios de locação de tanques de armazenagem da ou para a Petrobrás pelas empresas estrangeiras.

Segundo a Procuradoria, o ex-diretor de Internacional da Petrobras Nestor Cerveró, em seu termo de delação premiada 17/23, "já havia traçado um panorama sobre os ilícitos perpetrados na área de trading de produtos da Petrobras, sobre a pulverização desses ilícitos por diversos cargos, produtos e países e sobre a existência de ingerência política nos negócios em tal área".

Ao autorizar a Operação Sem Limites, Gabriela Hardt anotou. "De tal depoimento (de Cerveró), extrai-se que as operações de trading (compra e venda) de petróleo, derivados e outros produtos da Petrobras, que são de responsabilidade da Diretoria de Abastecimento, mais especificamente, da Gerência Executiva de Marketing e Comercialização, o braço comercial da Petrobras, oferecem um ambiente propício para o surgimento de esquemas de corrupção".

Os investigadores seguiram o rastro de trocas de mensagens de Bo Hans com supostos operadores de propinas - Luiz Eduardo Loureiro Andrade, ora identificado por "Ledu", ora por "Tiger", ainda "Tigre" e "Dag" e Carlos Henrique Nogueira Herz, o "CHH".

A Lava Jato descobriu que os serviços da organização criminosa eram contratados pelas trading companies porque "viabilizava a celebração de negócios com a Petrobras a preços melhores do que os que poderiam ser praticados no mercado, dava cobertura aos executivos da trading company, que não precisariam entrar em contato diretamente com os funcionários corruptos da Petrobrás, e estruturava e ocultava os pagamentos de vantagens indevidas e de propina por meio de contas internacionais em nome de offshores".

A PF destacou que o sueco Bo Hans Wilhelm Ljungberg, "intermediador de pagamento de vantagem indevida, servia-se do primeiro nome Bo em suas comunicações.

A investigação aponta, ainda, para Carlos Roberto Martins Barbosa, ex-empregado da Petrobras, ex-gerente da área de Marketing e Comercialização, "beneficiário de pagamentos de propinas". O inquérito destaca que Barbosa usa os codinomes "CAB", "Phil" e "Phill Collins" em suas comunicações.

Outro da Petrobras, Rodrigo Garcia Berkowitz, empregado na sede em Houston (EUA), era "responsável por negociar com empresas estrangeiras compra e venda de óleo, beneficiário de pagamentos de propinas"; serve-se dos codinomes "Bat", "Batman", "Morcego", "Rod" e "Robson Santos" em suas comunicações

César Joaquim Rodrigues da Silva, ex-empregado da Petrobras, antecedeu Berkowitz em sua função, "beneficiário de pagamentos de propinas", serve-se dos codinomes "Dehl", "Deh", "Dehl Phin", "Flipper" e "Golfinho" em suas comunicações.

A investigação mostra, ainda, suposto envolvimento de diversos outros executivos no esquema de propinas.