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Consequências do caso Flávio Bolsonaro podem ser "desastrosas", diz analista

Flávio Bolsonaro, senador eleito pelo PSL e filho de Jair Bolsonaro, presidente da República - Sergio Moraes/Reuters
Flávio Bolsonaro, senador eleito pelo PSL e filho de Jair Bolsonaro, presidente da República Imagem: Sergio Moraes/Reuters

Nayara Figueiredo

Em São Paulo

19/01/2019 12h04

As novas evidências de depósitos suspeitos na conta do senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) podem trazer consequências "desastrosas" para o governo de seu pai, o presidente Jair Bolsonaro (PSL), na avaliação do professor Carlos Pereira, da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Ele afirma que o "escândalo" cria um desgaste entre o governo e a sociedade, no momento em que a confiança da população é crucial para que o Planalto consiga obter vitórias no Congresso Nacional.

"Era importante que a sociedade pudesse pressionar o Congresso e inflasse o preço dos parlamentares que votassem contra o governo. Mas se o governo começa a sentir desgastes dessa natureza (como o caso de Flávio Bolsonaro), ele corre o risco de, muito rapidamente, se tornar refém do Congresso e ter dificuldade para aprovar projetos importantes", explica o especialista.

Trecho de um relatório do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), revelado na noite de ontem (18) pelo Jornal Nacional, da TV Globo, mostra que em um mês quase 50 depósitos em dinheiro foram feitos numa conta de Flávio, filho de Bolsonaro. A suspeita, segundo a reportagem, é que funcionários dos gabinetes devolviam parte dos salários, numa operação conhecida como "rachadinha".

O professor da FGV acredita que ainda é cedo para avaliar se a confiança da população em relação ao governo já foi, de fato, abalada. No entanto, o extrato do eleitorado que votou no ex-capitão por questões estratégicas, como o antipetismo ou a falta de opção, tende a apresentar desgastes mais rapidamente "caso o governo continue insistindo na negação ou na obstrução das investigações".

Na última quinta-feira (17), o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Luiz Fux decidiu suspender temporariamente a investigação sobre Fabrício Queiroz -- ex-assessor de Flávio--, a pedido do próprio Flávio Bolsonaro. Queiroz trabalhou na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro e é investigado por movimentações suspeitas em sua conta bancária. O filho do presidente pediu, também, a anulação das provas contra seu ex-assessor alegando que "o Ministério Público do Rio se utilizou do Coaf para criar atalho e se furtar ao controle do Poder Judiciário, realizando verdadeira burla às regras constitucionais de quebra de sigilo bancário e fiscal".

Pereira, da FGV, avalia que "mais desastroso" que o escândalo da movimentação financeira suspeita "é a posição do próprio Flávio de tentar minimizar as investigações".

Davos

Questionado sobre o efeito deste cenário para a participação de Jair Bolsonaro no Fórum Econômico de Davos, na Suíça, na próxima semana, Pereira diz que a expectativa é que a agenda reformista do governo federal se sobressaia ao envolvimento do filho do presidente em casos suspeitos e soe positivamente no encontro. "Até o momento, a perda do governo com os escândalos é muito mais interna do que externa", acrescenta.