Paulistano ajuda a criar lagos em aldeia indígena no Jaraguá
Na adolescência, na companhia de seu pai, Valter Miranda Sampaio, fazia pescarias por rios selvagens de cidades como Juquitiba e Miracatu, em São Paulo frequentava a represa de Guarapiranga. A vida adulta veio rápido e ocupações para sobreviver que nada tinham a ver com meio ambiente foram realizadas por ele. Algo lá no fundo porém, o incomodava. Tinha sonhos recorrentes envolvendo água. "Parece estranho o que vou dizer, mas creio que foi um chamado mesmo. Tenho uma missão espiritual envolvendo esse elemento."
Morador do bairro da Pompeia, na zona oeste, próximo a praça Homero Silva, ele percebeu que o local possuía diversas nascentes, cuja água se esvaía em meio à canalização urbana. "Em 2013, em parceria com um amigo e mais alguns moradores da região, criamos o coletivo Ocupe & Abrace que existe até hoje, e fizemos um lago na praça, onde colocamos algumas espécies de peixes e plantas aquáticas."
A movimentação em torno do tema foi tão grande que hoje é difícil alguém conhecer a praça pelo antigo nome. Ela foi carinhosamente rebatizada, de modo informal, como praça da Nascente.
Em 2014 mudou-se para a Vila Clarice, próximo ao Parque Estadual do Jaraguá e ao território indígena dos guaranis, na zona noroeste. Começou a frequentar as aldeias e logo fez amizade, em particular com os índios da aldeia Itakupe, onde moram cerca de 15 famílias. Por lá existe um rio, o Ribeirão Manguinho, que por conta de desmatamento e plantações de eucaliptos próximas de suas nascentes se encontrava assoreado.
Suas águas, no entanto, permaneciam limpas. "Mal dava para saber exatamente qual o percurso do rio, que estava tomado por capim e taboa, vegetação que cresce em locais alagadiços", conta ele. Com relatos de indígenas mais antigos na região, iniciaram a retirada dessa vegetação e começaram a cavar o espaço para a construção de um reservatório. Na verdade três: "A ideia é construir um primeiro lago mais acima para conter o assoreamento dos outros dois abaixo. No meio, o principal deles, iremos colocar peixes, e no último, mais abaixo será o lago para as crianças e jovens se banharem nos dias quentes de verão", explica.
Muitos mutirões envolvendo os indígenas e voluntários foram feitos, usando técnicas ancestrais. "O pessoal entrou na lama mesmo, alguns com enxada, a maioria cavando na mão", diz Sampaio. Uma vaquinha virtual foi feita com o objetivo de arrecadar verba para a compra de peixes, como lambaris, pacus, tambaquis e tilápias; além dos peixes, plantas aquáticas como ninfeias e outras também serão compradas para ajudar no ecossistema local. A meta para a arrecadação foi batida antes do fim do prazo e os peixes devem ser comprados e colocados no lago no início de abril.
No Dia Mundial da Água, Sampaio nutre o sonho de construir outros lagos pelas aldeias próximas a Itakupe. "Gostaria que o poder público olhasse com mais carinho essa área, tão carente de atenção. Existe um rio mais abaixo, o Ribeirão das Lavras, que banha outras aldeias, e que está totalmente poluído."
Ele diz, no entanto, que é possível reverter a situação utilizando técnicas da biotecnologia, como por exemplo, os jardins filtrantes, onde são colocadas plantas que extraem, fixam e tratam os poluentes. "Esse local é uma espécie de portal, onde esquecemos por algum momento que estamos numa cidade com o tamanho de São Paulo. Temos de ajudar a preservar isso de alguma maneira", finaliza.
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