Maio roxo: Dez questões sobre doenças inflamatórias intestinais
O ator Tyler James Williams, que conquistou sucesso ao interpretar o protagonista da série Todo Mundo Odeia o Chris, sofre com a síndrome de Crohn e usou as redes sociais, em abril, para desabafar sobre seu estado de saúde.
As doenças inflamatórias intestinais prejudicam significativamente a vida de 78% dos pacientes, segundo a pesquisa Jornada do Paciente com DII, feita pela Associação Brasileira de Colite Ulcerativa e Doença de Crohn (ABCD) com mais de 3 mil brasileiros afetados por essas condições.
Reconhecer os sintomas para o diagnóstico e o início do tratamento adequado são essenciais para proporcionar o bem-estar das pessoas. Para esclarecer as principais dúvidas sobre o tema, a gastroenterologista Marta Machado, presidente da ABCD, responde dez questões sobre as DIIs.
A retocolite ulcerativa e a doença de Crohn são iguais?
Não. As duas principais enfermidades que compõem o grupo das DIIs são inflamatórias, crônicas, sem cura e podem ter diversos fatores de origem. Entretanto, são enfermidades distintas. A doença de Crohn pode acometer desde a boca ao ânus, atingindo todas as camadas do trato digestivo e, por isso, pode evoluir para perfuração e estreitamento no intestino. Já a retocolite ulcerativa é restrita ao reto e ao intestino grosso, com o acometimento restrito à mucosa.
O paciente com DII tem febre e dor como sintoma?
Sim. A dor abdominal está presente quando a doença está em atividade e o paciente pode ter quadros de febre. Além disso, os principais sinais das doenças são diarreia ou constipação, presença de sangue ou muco nas fezes e distensão abdominal.
É possível ocorrer perda de peso e queda de cabelo?
Sim. A pessoa com DII pode sofrer um emagrecimento excessivo e também queda de cabelo. Isso ocorre por questões secundárias como a desnutrição, a falta de vitaminas ou como efeito colateral de alguma medicação.
As DIIs apresentam sinais apenas no trato gastrointestinal?
Não. As enfermidades podem apresentar manifestações além do intestino, como uveíte (inflamação no olho), artrite (inflamação das articulações), sacroileíte (inflamação na articulação do sacro, osso localizado na base da coluna vertebral), eritema nodoso (inflamação na pele), piodermite gangrenosa (feridas na pele), hidrosadenite supurativa (doença crônica de pele), hepatites, colangite (inflamação nos canais biliares), tromboses (coágulo no sangue), entre outras.
As DIIs podem ser confundidas com outras doenças?
Sim. Essas enfermidades podem ter inúmeras formas de apresentação com uma gama enorme de manifestações. Dessa forma, é essencial a realização correta e bem detalhada da história clínica do paciente e exame físico completo para o diagnóstico final.
Como é feito o diagnóstico?
As doenças inflamatórias intestinais são diagnosticadas por história clínica completa, exames físicos e laboratoriais, incluindo estudos de imagem endoscópica e radiológica.
A síndrome do intestino irritável é uma doença inflamatória intestinal?
Não. A SII não é considerada uma doença inflamatória intestinal, principalmente porque não causa inflamação no intestino. Trata-se de um transtorno funcional, uma vez que não há uma origem aparente para os sintomas, ao contrário das DIIs, que são enfermidades orgânicas. Além disso, muitos indivíduos com SII não apresentam quaisquer alterações em seus exames.
Como é o tratamento para DIIs?
Existem diversas opções de terapias e a escolha do tratamento indicado para cada paciente depende da gravidade e da localização da doença após uma criteriosa avaliação médica. Entre as alternativas terapêuticas estão os aminossalicilatos, os corticoides, os imunomoduladores, os antibióticos e os medicamentos biológicos, sendo que, nesta última classe, há três mecanismos de ação diferentes: os anti-TNF, anti-integrina e anti-interleucinas 12 e 23. Os tratamentos biológicos mais inovadores são capazes de aliviar os sintomas da doença de maneira rápida e manter a resposta por um período de tempo prolongado, sendo hoje mais indicados em quadros moderados e graves das DIIs, embora já se discuta a adoção mais precoce pelos benefícios que proporcionam.
Cuidar da alimentação é suficiente para o tratamento das enfermidades?
Não. Em casos mais leves, a mudança dos hábitos alimentares pode ser suficiente, mas essa situação é muito rara. Normalmente, é recomendado que o paciente evite os alimentos que pioram os sintomas das doenças. Além disso, em algumas fases, pode ser necessário diminuir o consumo de fibras e, em outras, de lactose. Um acompanhamento com nutricionista é muito importante.
O estilo de vida está relacionado com o desenvolvimento de DIIs?
Depende. Não há confirmações científicas sobre essa influência, porém é possível afirmar que estresse, uso abusivo de medicamentos desde a infância, consumo em excesso de alimentos industrializados, gordurosos e com agrotóxicos afetam o funcionamento do aparelho digestivo.
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