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Para aliados, Previdência 'cacifa' Maia para eleição de 2022

Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara  - Pablo Valadares - 9.jul.2019/Câmara dos Deputados
Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara Imagem: Pablo Valadares - 9.jul.2019/Câmara dos Deputados

Vera Rosa e Fabrício de Castro

Brasília

12/07/2019 11h20

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), chegou nesta quinta-feira, 11, para uma reunião na casa do deputado Elmar Nascimento (BA), líder de seu partido, quando foi abordado por colegas que o chamaram de "Senhor Reforma".

Embora o tema do encontro fosse a continuidade da votação da reforma da Previdência, aliados lhe deram dicas sobre como tornar sua imagem mais popular e atrair votos até a eleição de 2022. Tratado como presidenciável por muitos de seus pares, Maia sorriu.

Desde que conseguiu cumprir a promessa de "entregar" aprovado o texto-base da proposta sobre mudanças no sistema de aposentadoria, antes do recesso parlamentar, Maia viu crescerem as apostas sobre uma eventual candidatura à sucessão do presidente Jair Bolsonaro.

Em conversas reservadas, ele não nega a intenção de entrar no páreo, mas afirma que sabe o seu tamanho e precisa examinar a posição das "nuvens", que cada dia está de um jeito.

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A aproximação de Maia com o governador João Doria (PSDB) --pré-candidato à sucessão de Bolsonaro-- incomoda o Palácio do Planalto. Nos bastidores do governo há comentários de que o deputado também pode compor chapa com Doria, repetindo a dobradinha PSDB-DEM que comanda o Bandeirantes. Em São Paulo, o vice-governador Rodrigo Garcia é do DEM.

"Você pode ser o nosso candidato, mas vamos ter de modernizá-lo", disse a Maia o deputado Paulo Pereira da Silva (SP), presidente do Solidariedade, na reunião de ontem, que teve a presença de ministros e do secretário especial da Previdência, Rogério Marinho.

"Esse cabelinho caindo na testa não vai dar. Além disso, você precisa sorrir, olhar para o eleitor quando apertar a mão dele e parar de ficar checando mensagem no celular na hora da conversa", disse Paulinho da Força. Após a "receita", arrematou: "E também falta um programa popular".

De todas as dicas recebidas, Maia tem investido mais na plataforma, que, segundo ele, não é de campanha. Depois da Previdência, a ideia é tocar uma agenda na Câmara que dê prioridade a medidas para destravar o crescimento e retomar o emprego, como a reforma tributária.

Maia adotou como mote uma frase que diz ter parafraseado do governador do Rio Grande do Sul, o tucano Eduardo Leite: "Coragem mesmo precisa quem tem a ousadia de ser ponderado".

Três meses depois de ter dito ao jornal O Estado de S. Paulo que o governo Bolsonaro é "um deserto de ideias", ele se movimenta agora com o objetivo de construir um programa para o País.

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'Rodriguetes'

Ao lado de deputados de primeiro mandato que ficaram conhecidos como "rodriguetes", o presidente da Câmara decidiu acelerar projetos de lei sobre modernização do Estado. Alguns já tramitam na Casa e precisam apenas de alterações pontuais para deslanchar. O pacote inclui melhorias na gestão de desempenho no serviço público e criação de uma política de governo digital na União, Estados e municípios.

As conversas de Maia fluíam bem com o ministro da Economia, Paulo Guedes, mas, desde que ele criticou o relatório do deputado Samuel Moreira (PSDB-SP) sobre a Previdência, o caldo entornou. Até hoje a relação entre os dois está estremecida. Maia, porém, se reúne quase toda a semana com o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. Informado de que famílias com salários de dois a três mínimos caem com frequência no cheque especial, o deputado quer aprovar um projeto que reduza a taxa de juros para essa modalidade. Trata-se de um programa bem popular.

O placar de votação da reforma, com 379 votos a favor --71 a mais do que o mínimo- surpreendeu até o governo. "Nós não teríamos conseguido chegar até aqui sem Rodrigo Maia", admitiu o líder do PSL na Câmara, Delegado Waldir (GO).

Para o ex-ministro Ciro Gomes, candidato derrotado do PDT na disputa presidencial, o Brasil vive momento de "ressaca política" a partir da aprovação de novas regras para a aposentadoria. "Essa é uma vitória do Maia, não do governo. E foi acachapante", argumentou ele.

No PDT e no PSB, partidos de oposição, 19 deputados votaram a favor da reforma, contra orientação das cúpulas. "A oposição teve uma lição muito amarga, de saber o tamanho que tem, para não transformar cada embate em um terceiro turno", avaliou Ciro, também pré-candidato em 2022. "Nosso papel é atrair Bolsonaro para o jogo democrático e, no Congresso, ter uma política de redução de danos, em uma tática de diálogo com Maia."

Questionado sobre o comentário de Bolsonaro, que o chamou de "general dentro da Câmara", Maia deu mais uma estocada na direção do Planalto. "Os generais estão apanhando muito do entorno do presidente. Acho que não é muito bom ser general nesse momento."