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Maia rejeita disputar cargo no Executivo

10.jul.2019 - O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), chora após aprovação da reforma da Previdência - Luís Macedo/Agência Câmara
10.jul.2019 - O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), chora após aprovação da reforma da Previdência Imagem: Luís Macedo/Agência Câmara

Adriana Fernandes e Felipe Frazão

Brasília

14/07/2019 09h14

Articulador. É esse papel que o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), disse enxergar para si mesmo no futuro. Cacifado como alternativa em 2022 para o Planalto por ter comandado a aprovação da reforma da Previdência em primeiro turno, ele rejeita disputar, pelo menos por enquanto, um cargo do Executivo.

"Não quero ser administrador de crise. Enquanto não organizar o Estado brasileiro, para que eu vou ser prefeito, governador ou presidente?", afirmou, em entrevista ao Estado ontem na residência oficial da Câmara.

Maia disse que entre os nomes mais bem posicionados para enfrentar o presidente Jair Bolsonaro, estão o apresentador de TV Luciano Huck e os governadores de São Paulo, João Doria (PSDB), e do Rio, Wilson Witzel (PSC).

"Quem vai disputar eleição com Bolsonaro é quem conseguir caminhar da direita para o centro, ou a centro-esquerda. O Doria prefere ocupar o espaço do Bolsonaro. Tem que tomar cuidado para não tentar disputar o núcleo duro do presidente. Ele não vai crescer para o eleitor mais radicalizado antipetista. O Huck está tentando construir esse espaço, um pouquinho mais à centro-esquerda em alguns temas. E o governador do Rio é sempre forte."

O presidente da Câmara afirmou não ter "compromisso político" com Bolsonaro e disse que a mudança no relacionamento entre Planalto e Congresso será fundamental para as votações na Câmara no segundo semestre. Mais do que as críticas do filhos do presidente, Maia reclamou de agressões de palacianos: "Mais grave é quem está nomeado dentro do Palácio, depende do governo, e ataca o Parlamento nas redes sociais".

Para Maia, Bolsonaro deve refletir sobre nepotismo e avaliar se o filho Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) "tem perfil" para ser embaixador em Washington. Maia disse não ser contra um político no cargo, mas questionou a legalidade da indicação do deputado: "Ou ele vai renunciar ou não vai ser embaixador".

O presidente da Câmara avisou que vai priorizar reformas e projetos de Estado e não, necessariamente, a pauta do governo no segundo semestre, como temas de costumes e autonomia do Banco Central. Se concretizada, a intenção de Maia pode atrasar a venda de estatais, programa estratégico do ministro da Economia, Paulo Guedes.

Maia pretende priorizar mudanças no marco do saneamento, a nova lei da recuperação judicial, a reforma tributária e uma reforma administrativa na Câmara e no serviço público. Ele disse ser "100% a favor" da quebra da estabilidade no emprego para o funcionalismo.

"Não é porque a gente é contra o governo que vamos boicotar tudo. Vamos deixar de votar aquilo que é de governo, o que não é urgente para o Estado. As pautas de governo, se esse diálogo não melhorar, vão ter muita dificuldade de tocar. É difícil ter voto para aprovar privatização nesse ambiente que ficou nos últimos meses na Câmara. Autonomia do Banco Central não sei se eu vou ter voto para aprovar, mas vou continuar defendendo."

Caneta

O presidente da Casa avaliou que a Previdência não "encheu" a carga da caneta de Bolsonaro, que afirmara ter "mais tinta" em sua Bic do que na Maia. Também declarou não se importar com a possibilidade de ter favorecido a reeleição de Bolsonaro.

"Não posso trabalhar com a tese de que, porque não quero ele reeleito, quero 20 milhões de desempregados. Essa é uma tese do mal. A reforma por si não beneficia o presidente. Apenas gera condições para que possa organizar o governo para tratar das áreas fundamentais e garantir segurança ao investimento privado", disse. "No Brasil de hoje ninguém tem caneta de tinta. Está tudo vazio, a Bic está toda branca. A dele, a minha, do Davi (Alcolumbre, presidente do Senado), a dos governadores."

Para Maia, o pagamento de emendas foi legítimo, mas não fundamental na conquista dos 379 votos. Ele disse que a liberação ajudou os deputados a votarem porque tirou os prefeitos do "sufoco" e eles passaram a defender os congressistas.

Do processo, guarda ainda uma mágoa. "Paulo Guedes falou algo falso, atacando a Câmara. Nós não defendemos as corporações. Mas é um grande quadro, vou continuar admirando e trabalhando com ele. Não tem problema. Troco WhatsApp. Eu não bloqueei ele ainda."

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.