MP abre inquérito para apurar preservação de salão modernista do Clube Pinheiros
Priscila Mengue
São Paulo
26/09/2019 17h14
O clube apresentou em junho um novo projeto arquitetônico para o salão, datado dos anos 50. A decisão tem gerado críticas de parte dos associados e, também, de alguns especialistas em patrimônio e arquitetura modernista. Um abaixo-assinado foi criado na internet, reunindo pouco mais de mil assinaturas.
A portaria do inquérito civil é assinada pelo promotor Luís Roberto Proença, da promotoria do Meio Ambiente. No texto, ele solicita informações sobre processos de tombamento envolvendo o salão, tanto em andamento quanto arquivados, em ofícios ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), ao Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico (Condephaat) e ao Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo (Conpresp).
Em 2018, o Conpresp chegou a aprovar o tombamento do salão de festas. Três meses depois, contudo, um recurso aberto pelo clube foi acatado, arquivando-se o pedido de preservação. Por isso, o promotor fez solicitações mais detalhadas ao conselho municipal, com o pedido de cópias de atas, listas de votação de reuniões e do regimento interno.
Na época, a manutenção do tombamento foi defendida pelo setor técnico do Departamento do Patrimônio Histórico (DPH), órgão municipal que faz os estudos dos imóveis sugeridos para preservação. A opinião não foi, contudo, acompanhada pela então diretora do DPH, Mariana Rolim.
Um movimento de associados requer a preservação do salão ao menos há cinco anos, já tendo levado a questão ao Condephaat, que também arquivou o pedido. O ECP é contrário ao tombamento, alegando que o salão está descaracterizado, pois o pórtico principal foi demolido na expansão da Avenida Faria Lima. Já os que defendem a preservação consideram que o espaço ainda mantém grande parte das características originais.
O inquérito também oficia o Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB), o núcleo Docomomo (voltado à arquitetura modernista), as faculdades de arquitetura da USP e da Mackenzie, a Escola da Cidade, o Instituto Itaú Cultural, o Museu Lasar Segall (projetado também por Warchavchik) e o Museu da Casa Brasileira, "informando a respeito da instauração do presente inquérito civil e solicitando, para instruí-lo, que sejam apresentados estudos, informações ou pareceres a respeito do valor cultural, histórico, artístico ou arquitetônico" do salão.
O novo projeto do salão é dos escritórios Biselli/Katchborian e Zanatta e Figueiredo e "propõe modernizar" o espaço, "preservando e resgatando os aspectos históricos" da construção. "A versatilidade é a marca do projeto e o salão de festas será cenário para festas, formaturas, apresentações musicais, tornando-se um espaço multiúso de qualidade internacional, para a programação interna e externa", aponta texto publicado na revista do clube.