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Galeria icônica do centro de SP vai virar museu

Priscila Mengue

São Paulo

10/12/2019 07h35

O ato que reuniu 1,5 milhão de manifestantes no Vale do Anhangabaú, no centro de São Paulo, pelas eleições diretas, em abril de 1984, é um dos momentos históricos que serão lembrados em um novo lugar de memória na capital paulista, e a poucos metros de onde tudo ocorreu: a Galeria Prestes Maia, que faz 80 anos em 2020. O novo espaço foi batizado de Museu da Cidadania e Direitos Humanos e será dividido em painéis de vídeo, três salões de eventos e exposições temporárias, um auditório de cem lugares e um hall, com espaço para intervenções artísticas.

O projeto deve ser anunciado este mês pela gestão Bruno Covas (PSDB). Uma proposta inicial foi avalizada nesta segunda-feira, 9, pelo Conpresp e enviada ao Conselho de Defesa do Patrimônio do Estado (Condephaat) e ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Com a aprovação, será contratado um projeto executivo que incluirá o restauro e a reforma de toda a galeria e a construção de um elevador na calçada do Viaduto do Chá.

O estudo conceitual é do diretor do Museu da Cidade, o arquiteto Marcos Cartum, que viajou em setembro com uma assessora para visitar o Museu da Memória e dos Direitos Humanos do Chile, que deve ser uma das inspirações para a Prefeitura de São Paulo e é focado no período da ditadura de Pinochet. "Será um espaço destinado a dar visibilidade à história das lutas e conquistas pelos direitos civis no Brasil, com foco nos fatos ocorridos na cidade de São Paulo.

"Apresentará um percurso expositivo, fundado na diversidade e na polifonia, sobre os caminhos da construção da cidadania para todos e do enfrentamento de suas violações", diz a descrição do projeto, a que a reportagem teve acesso.

O espaço ocupará o pavimento Almeida Júnior, abaixo do acesso da Praça do Patriarca. Já o piso Vale do Anhangabaú receberá uma unidade do Descomplica, o "Poupatempo municipal".

Ícone

Subutilizada, a Prestes Maia foi um marco arquitetônico e urbanístico desde a inauguração, em 1940. A galeria tem acabamento luxuoso, em estilo Art Déco, com duas esculturas de Victor Brecheret, Graça I e Graça II. A construção foi projetada pelo arquiteto Elisiário Bahiana, que trabalhava na reconstrução do Viaduto do Chá. "É um 'edifício' em três níveis, que conjuga as cotas que estão entre a Praça do Patriarca e o Vale do Anhangabaú. A bela e astuciosa solução encontrada tem a função de estabelecer uma ligação urbana exclusivamente pedestre, um projeto moderno na sua concepção funcional", afirma a professora Regina Meyer, da Faculdade de Urbanismo e Arquitetura da Universidade de São Paulo. O espaço é também pioneiro por ter recebido escadas rolantes em 1955.

O restauro da galeria e a criação do museu se inserem em uma série de iniciativas da Prefeitura para a região central, como a remodelação do Vale do Anhangabaú, a troca do piso dos calçadões e a criação do Parque Minhocão. "O centro vive um processo saudável de retomada da cidadania", diz Valter Caldana, da Arquitetura e Urbanismo da Mackenzie. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.