Uip pede a Bolsonaro que respeite seu direito de não revelar tratamento
Gabriel Caldeira; Pedro Caramuru e Elizabeth Lopes
São Paulo
08/04/2020 13h57
Em entrevista coletiva nesta quarta-feira, Uip pediu ao presidente que respeite seu direito enquanto paciente de não revelar o que usou durante seu tratamento, afirmando que respeitou Bolsonaro quando ele preferiu não mostrar os resultados de seus exames para covid-19.
Na manhã desta quarta-feira, Bolsonaro postou em seu Twitter que "dois renomados médicos" recuperados da doença se recusaram a divulgar se usaram a hidroxicloroquina durante o tratamento, se referindo a David Uip e ao cardiologista Alexandre Kalil, do Hospital Israelita Albert Einstein, que pouco depois disse que consumiu a droga.
A postura do presidente motivou ataques virtuais de apoiadores de Bolsonaro aos dois médicos, em especial à Uip, por sua ligação com o governo de São Paulo, comandado por João Doria (PSDB), que protagoniza atritos com o chefe do Planalto durante a crise do coronavírus.
Segundo informou Uip, os ataques que recebeu serão levados à Justiça. "Tomarei providências legais por essa invasão à minha privacidade e à dos meus pacientes", disse o infectologista, ao afirmar que a privacidade de sua clínica particular também foi agredida.
Uip ainda lembrou que, durante reunião com o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, foi ele quem recomendou ao governo que autorizasse o uso da hidroxicloroquina para pacientes internados com covid-19, sob receita médica e autorização formal do paciente. A recomendação foi acatada pelo ministério, que mudou o protocolo para o uso da substância.
Para o Estado, o infectologista informou que o uso do medicamento é permitido a todos os hospitais do sistema público e privado. Segundo o secretário estadual da Saúde, José Henrique Germann, o governo de São Paulo recebeu cerca de 200 mil comprimidos de hidroxicloroquina do Ministério da Saúde, redistribuídos aos hospitais públicos.
'Gabinete do ódio'
O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), afirmou que repudia os ataques do "gabinete do ódio em Brasília" aos médicos, técnicos e autoridades da saúde, em especial a David Uip, ao ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, e ao médico cardiologista Roberto Kalil. "Nós precisamos de paz e não de confronto. Que país é esse onde o confronto através das redes sociais é feito para destruir as pessoas e a reputação?", disse o governador.
De acordo com Doria, "quem decide pelo uso desse medicamento (a hidroxicloroquina) não é o governador, são os médicos".
Na entrevista coletiva, Doria voltou a fazer referência ao presidente Jair Bolsonaro. "Não foi nenhum médico no Brasil que disse, por várias vezes, que a gravíssima crise do coronavírus era uma gripezinha ou um resfriadinho", disse o governador. "Portanto, respeito com os médicos do Brasil", finalizou.