Topo

Festas religiosas centenárias são canceladas no interior e litoral de SP

José Maria Tomazela

Sorocaba

07/07/2020 12h45

Festas religiosas centenárias no calendário da Igreja Católica brasileira, realizadas anualmente em julho, no interior e litoral de São Paulo, tiveram a edição de 2020 adiada ou cancelada devido ao novo coronavírus. Os eventos tradicionais mobilizam milhares de fiéis em Sorocaba e Piracicaba, no interior, e em Iguape, no litoral paulista. As três cidades estão atualmente na fase vermelha, a mais restrita do Plano São Paulo de retomada das atividades econômicas. Apenas comércio e serviços essenciais podem funcionar.

A romaria de Aparecidinha, em Sorocaba, que seria realizada no próximo dia 12, foi cancelada e nova data ainda será definida pela arquidiocese. No ano passado, 50 mil pessoas acompanharam o andor com a imagem de Nossa Senhora Aparecida, em uma caminhada de 15 quilômetros.

A tradição existe desde 1804, mas há 122 anos passou a ser realizada de forma ininterrupta, depois que uma epidemia de febre amarela atingiu o País. O bairro de Aparecidinha, na zona rural, passou incólume pela doença e a imagem passou a ser levada para a Catedral, no centro, para proteger a cidade. No primeiro dia de cada ano, a santa é devolvida ao bairro.

O arcebispo de Sorocaba, Dom Julio Akamine, pediu aos fiéis que celebrem a data em casa, orando pelo fim da pandemia do coronavírus. "Pela intercessão de Nossa Senhora Aparecida, Deus afastou de Sorocaba e de seus habitantes o flagelo da epidemia. Neste ano, vivemos um sofrimento semelhante. Exatamente para continuarmos o nosso combate à pandemia, a 112ª Romaria de Aparecidinha está adiada para outra data a ser ainda estabelecida", disse. Segundo ele, o adiamento é necessário para evitar que a própria romaria seja causa da disseminação do coronavírus. A nova data será anunciada "assim que as condições se tornarem favoráveis".

A Festa do Divino de Piracicaba é realizada há 194 anos, nas primeiras semanas de julho, conforme a tradição. A derrubada dos barcos, no Rio Piracicaba, para levar os festeiros às populações ribeirinhas, já deveria ter acontecido. "Por conta da pandemia, tivemos que adiar a nossa festa para a primeira semana de novembro próximo. Ainda é uma data incerta, por não sabermos como vai se desenrolar a pandemia", disse Sabrina Casarin, integrante da comissão organizadora.

Iniciada em 1826, quando os devotos do Divino Espírito Santo passaram a percorrer de barco as áreas ribeirinhas para levar alimentos à população pobre, a festa chegou a ser proibida em 1966 pelo bispo local, que seria contrário ao uso da tradição religiosa para fins comerciais. Historiadores dizem, no entanto, que houve pressão do regime ditatorial da época, que via na solidariedade aos mais pobres um ato de subversão. O povo continuou celebrando às margens do rio e a festa voltou para o calendário oficial da Igreja em 1971. Em 2016, a Festa do Divino foi reconhecida como patrimônio cultural de Piracicaba.

A Festa do Senhor Bom Jesus de Iguape, edição de 2020, que aconteceria de 28 de julho a 6 de agosto, foi cancelada devido à pandemia. O Santuário do Bom Jesus emitiu nota lamentando a necessidade do cancelamento devido ao "tempo atípico, de sofrimento, morte e enfermidade". A nota informa que as celebrações religiosas, como novenas e missas, serão realizadas sem público e transmitidas pelas redes sociais, permitindo que os devotos acompanhem de maneira segura, em suas casas.

Em comunicado, o prefeito Wilson Lima (PSDB) pediu que os romeiros não se dirijam à cidade no período do evento cancelado. "As barreiras sanitárias nos acessos a Iguape permanecerão ativos, de forma a bloquear a entrada e circulação de pessoas, veículos, barcos e animais", disse. Ele lembrou que o comércio e serviços não essenciais estarão fechados. Realizada desde 1787, a festa do Bom Jesus de Iguape atrai 150 mil romeiros de vários estados, sendo considerada a segunda maior romaria do Estado de São Paulo, atrás apenas da romaria de Aparecida.