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Bolsonaro atuou para levar aliado a Russomanno

Paula Reverbel e Pedro Venceslau

18/09/2020 07h05

O presidente Jair Bolsonaro atuou diretamente para atrair mais um partido para a chapa do deputado federal Celso Russomanno (Republicanos), candidato à Prefeitura de São Paulo, que pode servir como oposição ao governador João Doria (PSDB), um dos seus possíveis adversários em 2022. Dirigentes do PTB disseram ter recebido telefonemas de Bolsonaro anteontem para que o partido participasse da chapa com a indicação do vice, Marco da Costa.

O martelo foi batido 30 minutos antes da convenção, anteontem à tarde, segundo o presidente do PTB em São Paulo, o deputado estadual Campos Machado. Ele disse que, na ligação telefônica que recebeu, Bolsonaro reconheceu sua atuação em oposição a Doria em São Paulo e argumentou que seria "muito importante" ter um candidato forte para enfrentar o PSDB na capital. Bolsonaro teria ligado também para o presidente nacional da sigla, Roberto Jefferson. Procurado, o Palácio do Planalto não comentou o assunto.

O presidente da República intensificou sua articulação em São Paulo depois que MDB e DEM anunciaram apoio a Covas, na semana passada, com um discurso que prega uma aliança nacional entre as siglas para os próximos anos e que pode se refletir até nas eleições para a presidência da Câmara e do Senado, em fevereiro do ano que vem. Questionado sobre o apoio de Bolsonaro e a oposição a Doria, Machado respondeu: "O inimigo do meu inimigo é meu amigo", afirmou.

Apesar da aproximação, o deputado estadual não compareceu à convenção que lançou Russomanno como candidato, levando à especulação de que a aliança havia sido fechada a sua revelia. A negociação teve a participação do presidente nacional do Republicanos, Marcos Pereira, que estaria com Bolsonaro na hora dos telefonemas.

Reação

A entrada de Russomanno na disputa pela Prefeitura com a retaguarda de Bolsonaro mudou o cenário traçado originalmente pelos candidatos. A entrada de uma chapa abertamente bolsonarista frustrou a estratégia do PSDB, do prefeito Bruno Covas, de evitar a polarização e manter o presidente da República fora do debate. Na capital paulista, o PTB fazia parte do governo e ocupava, até anteontem, cargos na Subprefeitura de Guaianases e na Secretaria de Turismo.

Candidatos que, de alguma forma, têm alguma ligação com Bolsonaro e esperavam contar o voto bolsonaristas criticaram o apoio do presidente. Arthur do Val (Patriota) disse acreditar que grupos e redes sociais que têm seguidores do presidente não vão aderir de imediato a Russomanno. "São políticos fisiológicos, muitas vezes alinhados com a esquerda, que querem vestir uma roupagem ideológica em véspera de eleição para enganar parte do eleitorado. Espero que as pessoas enxerguem essas manobras", disse.

Filipe Sabará (Novo) afirmou que vê "risco" para a imagem do presidente. "Russomanno provou ser um 'cavalo paraguaio', com alta popularidade, mas com muita rejeição e que costuma cair em pontuação durante as campanhas", afirmou.

Ex-aliada de Bolsonaro, Joice Hasselmann (PSL) disse não acreditar que o presidente irá entrar na campanha. "Estamos falando do pior Centrão, que é o fisiológico e 'papa-cargos'. Esse Centrão chantageou o presidente", afirmou Joice. Ela chegou a ser sondada para a vice de Russomanno, mas não aceitou e manteve-se na disputa.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.