Brasil pode receber vacina da Pfizer até março; gelo seco é saída para armazenar
Murillo, que participou de evento na Academia Nacional de Medicina na quinta-feira, contou que as negociações com o governo brasileiro estão avançadas. Em nota, o Ministério da Saúde informou apenas que "todas as vacinas com estudos avançados no mundo" estão sendo analisadas, inclusive a da Pfizer.
Segundo Murillo, a empresa apresentou solução parcial para o problema logístico de armazenamento e distribuição da vacina. O imunizante demanda armazenamento a temperaturas de - 70 graus Celsius, o que poderia inviabilizar o uso desta vacina no País.
O executivo disse que já foi apresentada ao governo uma embalagem especial, com gelo seco, capaz de manter o imunizante na temperatura correta por 15 dias. Após o descongelamento, o produto se mantém estável por mais cinco dias em refrigeradores comuns.
"Ou seja, do momento em que o produto chega ao País até ser aplicado seriam 20 dias", disse Murillo. "Não é simples, não resolve toda a logística, mas muda muito o esquema de pensar em ter um freezer de baixas temperaturas em cada centro de vacinação."
O ministério ainda informou que " toda a rede de frio do Brasil dispõe de equipamentos para armazenamento de vacinas a -20°C, com exceção da instância local - as salas de vacinas e onde o armazenamento se dá na faixa de controle de +2°C a +8°C." Hoje, acrescenta a pasta, o padrão mundial é "de armazenamento entre +2°C e +8°C".
Para o virologista da UFMG Flávio Fonseca, a alternativa é interessante, mas há ressalvas. "A priori, a ideia é boa, porque o gelo seco tem a capacidade de armazenar a uma temperatura de até - 96°C por um período de tempo. Só que evapora muito rápido, você tem de repor para manter a temperatura baixa por mais tempo." Outra preocupação, diz, é encarecer a vacina.
O presidente da Pfeizer disse que a empresa investiu US$ 2 bilhões (cerca de R$ 10,9 bilhões) no desenvolvimento da nova vacina. A farmacêutica não revelou os preços que cobrará por cada dose, mas Murillo afirmou que a empresa está praticando três valores: um para EUA e Europa, outro para países em desenvolvimento como o Brasil e um terceiro para nações subdesenvolvidas.
Inicialmente, a produção do imunizante da Pfizer será totalmente concentrada em três fábricas nos Estados Unidos e outras duas na Alemanha. Serão 50 milhões de doses até o fim deste ano e 1,3 bilhão ao longo de todo o ano que vem. Em princípio, a vacina será aplicada em duas doses.
"A forma mais eficiente e mais rápida de que dispomos para oferecer o maior número de doses possível é concentrar essa produção nas cinco fábricas já adaptadas e com a devida infraestrutura para a fabricação dessa vacina", explicou Murillo, lembrando que o imunizante faz uso de uma tecnologia inédita. "Depois que a pandemia passar, vamos avaliar a transferência de tecnologia. Pessoalmente acredito que um país como o Brasil deve participar do desenvolvimento dessa nova plataforma vacinal."
Oxford
O vice-presidente de Produção e Inovação em Saúde da Fiocruz, Marco Aurélio Krieger, que também participou do evento, confirmou que a perspectiva da instituição é produzir 200 milhões de doses da vacina desenvolvida pela Universidade de Oxford e a farmacêutica AstraZeneca em 2021.
As primeiras 30 milhões de doses já estarão disponíveis no fim de fevereiro para serem aplicadas assim que o registro do produto for liberado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). O custo é de US$ 3,14 (cerca de R$ 17) por dose. Assim como a vacina da Pfizer, o imunizante de Oxford está na fase 3 de testes, em humanos, a mais avançada no desenvolvimento desse tipo de produto.
Segundo Krieger, essa produção nacional coloca o País no seleto grupo das regiões que mais vacinas per capita vão dispor no ano que vem, atrás de Reino Unido, Estados Unidos, União Europeia e Japão. Por meio do Programa Nacional de Imunizações, vacina, anualmente, 300 milhões de pessoas em todo o País, e dispõe de pelo menos 35 mil postos de vacinação. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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