Volta às aulas na rede privada tem adesão alta e fila de espera
"No fim do ano passado, emocionalmente para os meus filhos chegou ao limite ficar no ensino online, estavam menos motivados para estudar", conta a fonoaudióloga Tatiana Vilanova, de 41 anos, que tem três filhos no Colégio Porto Seguro, na zona sul. Ela diz que também considerou o baixo índice de contaminação. "Foi o melhor dia da minha vida, vi amigos, a professora nova, até li um livro", disse o mais novo, Felipe, de 7 anos, ao voltar da escola.
"Nossa casa se encheu de uma esperança de que as coisas vão voltar ao normal", conta a pedagoga Patrícia Lopes, de 48 anos, sobre a volta da filha Lorena, de 9, às aulas. Os pais tiveram muito medo de mandar a menina em 2020 e, este ano, também mudaram de ideia. No Pentágono, onde ela estuda, 83% das famílias fizeram o mesmo. "Conversamos com o pediatra, que falou que as crianças se contaminam menos, e achamos que seria melhor para ela", conta o pai Sergio Lopes, de 53 anos.
A filha da publicitária Mirela Fernandes passou a dormir melhor depois que voltou. Os do empresário Adalberto Moscal, adolescentes de 12 e 15 anos, não enrolam mais na cama na hora de levantar para ir à escola. Mas há também os esforços que as famílias passaram a fazer para garantir o retorno - e de maneira segura. Muitos vão deixar de ver familiares e precisam se organizar para uma rotina diferente para cada um dos filhos.
Os meninos de Moscal vão dois dias seguidos para a escola presencialmente, depois ficam quatro em casa. "Eles têm de aprender a conviver com isso", diz o empresário. A filha de Mirella está indo para a escola uma semana sim e outra, não. "Eu tive muito medo no ano passado e crise de ansiedade. Estávamos precisando." Na casa de Rita Cunha, de 44 anos, foi preciso até desenhar planilhas para lembrar a rotina de cada filho: Theo, de 13 anos; Luca, de 9; e Felipe, de 5. Casinhas coloridas no papel indicam as aulas que vão acontecer longe do colégio. "O Luca estava muito triste, chorava sem motivo aparente, teve perda de apetite." Já o mais velho permanece no ensino remoto porque se adaptou bem e para reduzir o risco.
"A ideia dos pais acabou mudando porque passaram cinco meses, muitos estão saturados das crianças em casa, com os filhos até ansiosos", diz o psiquiatra especializado Miguel Boarati. Ele se preocupa com o fato de a criança fazer tudo pelo computador, socializar, brincar, estudar. "Perde experiências sensoriais porque está tudo bidimensional." Para Boarati, a volta é boa para a saúde mental de pais e filhos, mas é preciso observar a estrutura das escolas para cumprir os protocolos.
Nos últimos meses foi intensa a mobilização a favor do retorno. Grupos de pais e de pediatras fizeram campanhas enfatizando a importância da escola e divulgando dados científicos sobre a baixa contaminação em unidades de ensino. Por outro lado, sindicatos dos professores da rede estadual declararam greve e alegam faltar estrutura.
Há famílias que optaram por continuar no remoto por receio da contaminação. Notícias de surtos, como os verificados em escolas do interior paulista, aumentam o temor. Ian, de 11 anos, filho da professora Adriana Daher, de 47, foi o único da turma que não voltou ao presencial. "A escola fala que, se tiver contaminação, a bolha (grupos de alunos) se recolhe. Cada vez que ouço isso, me arrepio." Ela fez um transplante e tem baixa imunidade.
Luis Fernando Dufner, de 14 anos, diz que se adaptou perfeitamente ao ensino online, que gosta da praticidade de não precisar acordar muito antes da aula e suas notas até aumentaram. Ele decidiu não voltar mesmo vendo a maioria dos amigos esta semana pelo computador, já com aulas transmitidas. "Se a vacinação melhorar, o número de mortes e contaminados cair, aí posso ter confiança em voltar."
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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