Topo

Esse conteúdo é antigo

'Não se vai derrotar Bolsonaro odiando Bolsonaro', diz ex-deputado Miro Teixeira

O ex-deputado federal Miro Teixeira - Lucio Bernardo Jr. / Câmara dos Deputados
O ex-deputado federal Miro Teixeira Imagem: Lucio Bernardo Jr. / Câmara dos Deputados

Caio Sartori

Rio

12/02/2021 13h00

Político cuja trajetória se confunde com a da Nova República, o ex-deputado por 11 mandatos Miro Teixeira está de volta ao PDT após passagens curtas por Rede e PROS.

Convidado pelo presidente da sigla, Carlos Lupi, para coordenar a campanha de Ciro Gomes à Presidência em 2022, o carioca de 75 anos topou o desafio, fazendo a ressalva de que é o candidato quem assume, na prática, a função.

Miro diz ser contra o impeachment. Para vencer o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), o ex-constituinte e ex-ministro das Comunicações no governo Lula prega que a campanha retome símbolos nacionais que considera "sequestrados" pelo bolsonarismo e mostre que há um "desgoverno" no país.

"Não se vai derrotar o Bolsonaro odiando o Bolsonaro", disse, em entrevista ao "Estadão".

Por que essa volta ao PDT?

Lupi disse que minhas ideias eram muito parecidas com as que o Ciro vinha travando, e falou para eu voltar ao PDT. Alguns deputados e o próprio Ciro começaram a me escrever, mas foi o Lupi quem comandou o processo. Eles usaram, tanto o Lupi quanto o Ciro, a história de coordenar a campanha.

O sr. vai coordenar?

Olha, eu vi todas as campanhas presidenciais desde o fim da ditadura. Quem coordena a campanha à Presidência é o candidato, não outra pessoa. A função é coordenar programa de governo. O Ciro tem isso aqui, ó (mostra um exemplar do livro "Projeto Nacional: O Dever da Esperança", de autoria do presidenciável). Acho que "dever da esperança" tem que ser o mote da campanha, em cima de outra discussão: temos de gostar do Brasil. Bolsonaro diz que ele é quem gosta do Brasil, usa o verde e o amarelo. Nós é que gostamos do Brasil.

Como será o Ciro de 2022, mais à esquerda ou como 'terceira via'?

Ciro tem as ideias dele publicadas. Acho que essa divisão esquerda-direita atualmente é criada por uma extrema-direita que se organizou no mundo para separar as pessoas, dividi-las, e criar uma radicalização que afasta a racionalidade.

Nessa linha, o sr. acha que Bolsonaro ameaça a democracia?

Ameaça à democracia acho que não existe. A democracia está garantida aqui (mostra um exemplar da Constituição). Essa história de dizer que a democracia é o que as Forças Armadas querem… Não. Elas estão submetidas à Constituição.

Mas o sr. vê movimentos de Bolsonaro nesse sentido?

Acho que Bolsonaro cria factoides. A oposição não cria problemas, então ele cria problemas para ficar debatendo com ele mesmo. Cria o problema, tem a repercussão na mídia, ele responde a mídia, depois volta atrás. É deliberado. Não estamos diante de um idiota. É uma pessoa preparada para viver na adversidade física.

Como o sr. analisa eleitoralmente o presidente para 2022?

Ele é, provavelmente, o único garantido em um segundo turno. Tem público. Não se vai derrotar Bolsonaro odiando Bolsonaro. É analisando, mostrando isso às pessoas, não caindo nesses factoides que ele cria. O que precisa ser cobrado do Bolsonaro é governo. É preciso racionalizar esse desgoverno. O que está sendo feito para gerar emprego? E para desatar os nós do desenvolvimento?

Como o sr. avalia a aproximação dele com o Centrão?

O Centrão serviria para votar o impeachment do Bolsonaro, não é? Então você vai censurar o Bolsonaro por ter levado o Centrão para apoiá-lo? Censurar o Bolsonaro por causa do Centrão, que estaria sendo aplaudido se aprovasse um impeachment, é hipocrisia.

Rodrigo Maia devia ter aberto um processo de impeachment?

Fui contra no início. Hoje, você pode encontrar razões para requerer o impeachment do presidente, em função da pandemia. Aquela ordem, por exemplo, que deu a aliados para invadirem hospitais. Estava violentando a Constituição, expondo a vida das pessoas, violando o Código Penal. Mas acho que o objetivo não pode ser o impeachment. No momento, as pessoas não estão clamando pelo impeachment.

O foco é derrotá-lo nas urnas?

Sim. Analisando o desgoverno dele. O fundamental é mostrar que ele não está governando, que não tem governo.

Quem Ciro deve buscar para formar alianças?

Isso vai surgir no curso do processo. Acredito que ele conseguirá um apoio da população para que candidaturas sejam retiradas ainda no primeiro turno. Essa história de combinar segundo turno é para quem não conhece o processo eleitoral. Creio que o Ciro vai empolgar no primeiro turno.

Alguma das forças já colocadas poderiam se unir a ele?

Acho difícil. O PT, por exemplo, não renuncia a uma candidatura própria.

O episódio envolvendo o segundo turno de 2018, quando Ciro foi para Paris, não atrapalha?

Acho que não. Eu nem me lembrava disso até você falar. No segundo turno, o eleitorado não fica esperando quem o seu candidato vai apoiar.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.