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'Tínhamos chegado ao fundo do poço, mas pelo visto não chegamos', afirma especialista sobre incêndio na Cinemateca

Cinemateca na Vila Leopoldina pega fogo, na cidade de São Paulo, SP, nesta noite de ontem - RONALDO SILVA/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO
Cinemateca na Vila Leopoldina pega fogo, na cidade de São Paulo, SP, nesta noite de ontem Imagem: RONALDO SILVA/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO

Maria Fernanda Rodrigues

30/07/2021 10h07Atualizada em 30/07/2021 10h07

Ex-diretor da Cinemateca Brasileira e ex-secretário de Cultura de São Paulo, Carlos Augusto Calil, hoje presidente da Sociedade Amigos da Cinemateca, classificou o incêndio que atingiu o galpão da Cinemateca na Vila Leopoldina ontem como um "desastre". Ele lembrou que este foi o 5º incêndio sofrido pela instituição — o primeiro ocorreu em 1957.

O que se perdeu agora no depósito foi o que havia sobrevivido à inundação de fevereiro de 2020. O que a água começou o fogo terminou.

O prejuízo ainda será contabilizado, mas, segundo ele, o que se perdeu, com certeza, foi algo como quatro toneladas de documentos do Instituto Nacional de Cinema, Concine, Embrafilme e Secretaria do Audiovisual.

"Perdemos 60 anos de história, toda a memória da política pública de apoio ao cinema.

Itens como projetores e aparelhos antigos, cópias e matrizes secundárias de filmes também podem ter sido destruídos.

Calil não acredita que o incêndio tenha sido uma fatalidade.

"Assim como no Museu Nacional, isso não foi uma fatalidade. O abandono das instituições públicas brasileiras de memória é um assunto escandaloso", disse.

Incêndio na Cinemateca Brasileira

E alertou que ainda há muito com o que se preocupar — inclusive no que diz respeito ao prédio principal da Cinemateca, na Vila Clementino, onde está o acervo inflamável.

A segurança da Cinemateca não se faz apenas com controles de temperatura e de segurança. Ela é feita pelo exame periódico desse acervo pelos técnicos, e a Cinemateca está sem técnico nenhum. Ela está fechada há mais de um ano.

O cineasta completa: "Estão mantendo a Cinemateca como um doente por aparelhos. Não tem ninguém cuidando do acervo, examinando o material, que precisa ser examinado para dizer que ele está sob segurança."

O que ele espera que aconteça agora?

Francamente, não sei o que esperar. Eu achava que tínhamos chegado ao fundo do poço, mas pelo visto não chegamos.