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Promotoria pede que vereador de Caxias do Sul pague indenização por xenofobia

Vereador Sandro Fantinel (Patriota), que promoveu um discurso xenofóbico em defesa das empresas que mantinham empregados em condições análogas à escravidão - Reprodução
Vereador Sandro Fantinel (Patriota), que promoveu um discurso xenofóbico em defesa das empresas que mantinham empregados em condições análogas à escravidão Imagem: Reprodução

Pepita Ortega

Em São Paulo

06/03/2023 18h11Atualizada em 06/03/2023 18h57

O Ministério Público do Rio Grande do Sul acionou a Justiça para que o vereador Sandro Fantinel (Patriota) pague uma indenização de R$ 300 mil por danos morais coletivos em razão de declaração xenofóbica sobre baianos proferida na Câmara de Caxias do Sul no último dia 28.

A Promotoria e a Polícia Civil também investigam o parlamentar, na esfera criminal, por causa da 'sugestão' para que empresários do setor agrícola não contratem pessoas da Bahia, 'povo que vive na praia tocando o tambor', 'acostumado com carnaval e festa'.

Na ação protocolada hoje, a promotora de Justiça Adriana Karina Diesel Chesani argumenta que Fantinel 'ofendeu a dignidade e o decoro' dos nordestinos, 'com mais contundência', aqueles nascidos na Bahia. Além disso, o vereador 'incitou a população à prática de discriminação, preconceito e discurso de ódio', narra a autora da ação.

"As falas do demandado, amplamente divulgadas por diversos meios de comunicação e viralizadas nas redes sociais dada a gravidade de seu conteúdo, demonstram, além de ignorância, aversão ao povo nordestino [...]. Tal conduta demonstra falta de respeito, conhecimento, e intolerância do requerido com brasileiros de diferentes culturas e origem diversas das suas", sustentou a promotora.

Segundo o MP, o valor requerido como indenização leva em consideração 'a gravidade do fato, a extensão do dano, a intensionalidade e a reprovabilidade extremas da conduta'. O valor deverá ser destinado ao Fundo para Reconstituição dos Bens Lesados (FRBL).

O órgão destaca que 'a incitação do preconceito e da discriminação' promovida no caso se deu 'no âmbito do debate público de grande alcance e relevância, eis que relacionado a situação extremamente grave de violação de direitos humanos' e em discurso proferido em sessão pública.

A Promotoria quer coibir 'novos comportamentos semelhantes' que possam vir a ser reproduzidos não apenas pelo próprio vereador, 'como pelos demais sujeitos que venham a se sentir encorajados pela ausência de consequências de maior gravidade'.

A declaração que motivou o pedido de indenização ocorreu durante sessão da câmara da cidade gaúcha em referência ao resgate de mais de 200 pessoas - muitas da Bahia - que foram submetidas a situação análoga à escravidão em vinícolas de Bento Gonçalves.

"Gente, só vou dar um conselho: agricultores, produtores, empresas agrícolas que estão me acompanhando não contratem mais aquela gente lá de cima (estado da Bahia, no Nordeste), disse Sandro Fantinel.

"Com os 'baiano', que a única cultura que eles têm é viver na praia tocando o tambor, era normal que tivesse esse tipo de problema (de trabalho análogo à escravidão)" afirmou.

"Que isso sirva de lição. Deixem aquele povo, que é acostumado com carnaval e festa, para vocês não se incomodarem novamente", completou.