Medo e impotência afetam escolas estaduais de SP após ataque
Outra coordenadora de uma escola na zona leste fala da dificuldade para tratar o tema. "Falta alguém para direcionar o que temos que fazer, que tipo de dinâmica? E se eu abro uma roda de conversa e isso vira um gatilho?" Com medo, depois do ataque à Escola Thomazia Montoro, a profissional que trabalha há mais de 20 anos com adolescentes, diz que gostaria de voltar a ensinar apenas crianças. Colegas falam em adiantar a aposentadoria.
"Desde a pandemia, os problemas de saúde mental só pioram, todo dia tenho um aluno em crise, menino tremendo, taquicardia, aí você fala para procurar o SUS, não tem vaga" completa ela, que também pediu anonimato. Estudos do Instituto Ayrton Senna mostraram em 2022 que 69% dos alunos tinham sintomas de ansiedade ou depressão na rede estadual. Pesquisas internacionais indicam alto índice de doenças psiquiátricas entre estudantes.
Na semana passada, após o caso da escola na Vila Sônia, muitas escolas ouvidas pelo Estadão disseram que passaram a mapear alunos com perfil agressivo ou isolado, numa tentativa de prevenção. "A gente levantou o nome de crianças que se isolam, que ficam no canto, com blusa no calor, criou um olhar para detectar problemas", conta a professora de História Janaína de Paula, que dá aulas em São Mateus, zona leste. "Em reunião, eu falei para focar nesses alunos mais apáticos, que se excluem de tudo e todos. Fica esse clima de medo, como se todo mundo fosse suspeito", completa a coordenadora.
Em outra escola, pais foram chamados com urgência para discutir a situação do filho. Mas profissionais relatam que muitas vezes têm dificuldades com famílias que não levam crianças e adolescentes para tratamento e, quando o fazem, o sistema é lento. "O professor virou psicólogo, psiquiatra, conselheiro tutelar", diz o coordenador de uma escola de Mauá, na Grande São Paulo, André Sapanos. "É muita apreensão, você sente que cada vez chega mais perto", diz, sobre o ataque à escola.
Atenção
Segundo a polícia, o adolescente que matou a professora Elisabeth Tenreiro, de 71 anos, havia sido encaminhado para um Centro de Atenção Psicossocial (Caps), mas não houve continuidade do tratamento. Procurada, a secretaria municipal de Saúde disse que o "tempo e a proposta de atendimento podem variar de acordo com a especificidade do caso". E que "as equipes fazem busca ativa dos pacientes faltosos".
Durante a pandemia, o governo estadual contratou uma empresa que fornecia sessões com psicólogos online. Professores reclamam que os atendimentos eram feitos com a sala toda, sem frequência definida e pouco efetivos. A gestão atual encerrou o serviço em fevereiro e iniciou o processo para contratar 150 mil horas de psicólogos que atenderão de forma presencial. A previsão é para início em maio. Em nota, também afirmou que vai aumentar de 500 para 5 mil educadores no programa Conviva, de convivência escolar, com "formação para identificar vulnerabilidades".
A gerente de projetos do Edulab 21, do Instituto Ayrton Senna, Ana Carla Crispim, diz que a situação requer trabalho intersetorial. "Não existe uma solução única, é preciso ter ações preventivas, remediativas, na saúde e na educação."
"O professor é quem mais entende da pessoa daquela idade, estão muito perto. Ao dar informações corretas para que ele possa agir, você o empodera", diz o psiquiatra e presidente do Instituto Ame a Sua Mente, Rodrigo Bressan. A ONG faz formação com professores de escolas públicas sobre saúde mental.
A diretora da Escola Estadual Olga Benatti, na Vila Prudente, Marcia Guerrise, também viu pais e professores apreensivos nesta semana. Mas a experiência que equipe já tinha em lidar com saúde mental, adquirida em formações feitas por parceiros desde 2018, deu mais segurança. "Paramos a primeira aula, os professores se reuniram com grupos de alunos e discutimos a importância de falar, de ver o adulto e o colega como seu apoio."
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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