Ex-Jovem Pan, quem é o neto de ex-presidente da ditadura investigado pela PF
Brasília
12/02/2024 10h11Atualizada em 12/02/2024 19h08
O economista e blogueiro Paulo Renato de Oliveira Figueiredo Filho, ex-comentarista na Jovem Pan, foi um dos alvos da Operação Tempus Veritatis da Polícia Federal (PF), deflagrada nesta quinta-feira, 8. A operação investiga o planejamento de um golpe de Estado pela cúpula do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) após as eleições de 2022.
Paulo é neto do ex-presidente João Figueiredo, que foi o último mandatário da ditadura militar, entre os anos de 1979 e 1985. O regime foi iniciado por um golpe militar em 1964 e durou 21 anos.
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De acordo com a PF, Figueiredo Filho atuou em suposta operação de "propagação de desinformação golpista e antidemocrática".
Juntamente com o general quatro estrelas Braga Netto e os militares Ailton Gonçalves Moraes Barros, paraquedista do Exército, o coronel do Exército Bernardo Romão Correa Neto, e o ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro, Mauro Cesar Cid, Paulo Renato de Oliveira Figueiredo Filho integrava o núcleo responsável por incitar militares a aderir ao golpe de Estado, de acordo com relatório do STF (Supremo Tribunal Federal).
As investigações apontam que a organização se dividiu em seis núcleos de atuação na tentativa de golpe.
Os diálogos entre Mauro Cid e Figueiredo Filho, obtidos pela PF, revelaram que Correa Neto sabia horas antes o nome exato dos comandantes militares que seriam expostos por Figueiredo Filho, então comentarista em programas de rádio e televisão. O que demonstra, ainda segundo a PF, a existência de ação coordenada para expor e pressionar os militares que não aceitassem aderir aos planos golpistas.
O governo do avô
O governo de Figueiredo foi marcado pela abertura política, iniciada pelo seu antecessor, Ernesto Geisel. Foi na gestão do ex-presidente, que era general do Exército, que foi extinto o bipartidarismo e promulgada a Lei da Anistia, que beneficiou perseguidos pelo regime e autoridades acusadas de torturas.
A gestão de Figueiredo também foi marcada por atentados terroristas — como o do Riocentro, que ocorreu em abril de 1981. Militares insatisfeitos com a abertura política planejaram um ataque à bomba em um show no Rio, porém, o plano falhou e os explosivos mataram um sargento.
A repercussão e as tentativas dos militares de abafar o caso acabaram selando o fim da Ditadura, que terminou na eleição indireta do ex-presidente Tancredo Neves em 1985. Após deixar a Presidência, Figueiredo se retirou da vida pública e militar, morrendo em 1999, aos 81 anos.
Investigação
De acordo com a PF, Figueiredo Filho fazia parte de um grupo responsável por incitar militares a aderir ao golpe. As acusações contra o blogueiro giram em torno de participações que ele fez em programas televisivos e nas redes sociais. O Estadão buscou contato, mas não havia localizado Paulo Renato de Oliveira Figueiredo Filho até a publicação deste texto. O espaço segue aberto para manifestação.
Segundo apontam as investigações, o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens da Presidência, acompanhado do coronel Bernardo Romão Correa Neto e do tenente-coronel Sérgio Ricardo Cavaliere Medeiros, articulavam com Paulo a divulgação de notícias falsas. Essas fake news eram produzidas para expor militares que não estavam alinhados com as iniciativas golpistas.
O objetivo, segundo a decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, responsável por ordenar a ação da PF nesta quinta, foi a de "incitar os integrantes do meio militar a se voltarem contra os comandantes que se posicionam contra o intento criminoso".
"Eu apurei que há (generais do Alto Comando do Exército) que têm se colocado de forma aberta contra uma ação mais contundente das Forças Armadas. Mas, hoje, por um dever cívico, vou dar nome aos bois, pois o povo brasileiro tem direito de saber quem é quem", disse Paulo em 22 de novembro de 2022, em publicação nas redes sociais reproduzida no relatório da Polícia Federal.
Como mostrado pela coluna do Marcelo Godoy no Estadão, a fala do jornalista desencadeou uma campanha nas redes sociais que passou a caluniar e a difamar os generais, qualificados como carreiristas, traidores e melancias. Entre os alvos, estava o general Tomás Paiva, atual comandante do Exército.
Na decisão que deflagrou a operação desta quinta-feira, 8, Moraes ordenou que Paulo fosse alvo de busca e apreensão pessoal e domiciliar e sofresse medidas cautelares diversas da prisão, como a proibição de manter contato com outros investigados pela operação e a desativação das suas redes sociais.
Histórico
Não é a primeira vez que Figueiredo Filho se vê envolvido em problemas com a Polícia Federal. Em agosto 2019, ele foi preso pela polícia dos Estados Unidos, suspeito de integrar um suposto esquema de pagamento de propinas a dirigentes do BRB, banco controlado pelo governo do Distrito Federal, em troca de recursos para a construção do então Trump Hotel, no Rio de Janeiro. O projeto depois foi renomeado para LSH Lifestyle. O empresário foi considerado foragido pela Interpol, e terminou atrás das grades por alguns dias.
Seu nome também consta em pelo menos 18 processos no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, no Tribunal Regional Federal da 1ª Região e em outros tribunais.
Em 2021, o neto do ex-presidente general Figueiredo foi afastado da programação da rádio Jovem Pan. E em janeiro do ano passado acabou demitido, quando já era investigado pelo Ministério Público Federal (MPF) por suposta disseminação de desinformação na emissora.
*Com informações da Agência Brasil, que tentou contato com Figueiredo Filho, mas não obteve resposta.