O que a Polícia Federal tem de informações contra Braga Netto; veja motivos
São Paulo
14/12/2024 13h47
A Polícia Federal acusa o general Walter Braga Netto, preso preventivamente neste sábado, 14, de ter participação direta no plano de tentativa de golpe de Estado. Segundo relatório da PF, o vice na chapa de Jair Bolsonaro (PL) organizou em sua casa uma reunião para discutir planos do golpe, pressionou militares de alta patente a aderir a empreitada, apoiou financeiramente uma tentativa de assassinato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do vice-presidente Geraldo Alckmin e o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, e ainda tentou ter acesso à delação premiada do general Mauro Cid para interferir na investigação. A defesa de Braga Netto ainda não se pronunciou.
Como mostrou o Estadão, Moraes vê que há "fortes indícios" de que ele tenha contribuído em "grau mais efetivo e de elevada importância do que se sabia anteriormente" para o plano que visava manter o ex-presidente Bolsonaro no poder.
Reunião na casa de Braga Netto para planejar o golpe
Segundo a PF, militares que planejavam o assassinato de Moraes, Lula e Alckmin se reuniram no dia 12 de novembro de 2022 para planejar impedir a posse de Lula.
Poucos dias antes, no dia 9, o general Mário Fernandes elabora e imprime o planejamento operacional, chamado de "punhal verde e amarelo" usando uma impressora no Palácio da Alvorada, residência presidencial.
Após a reunião do dia 12, Cid conversa com o major Rafael Martins de Oliveira. Nessa troca de mensagens, Cid estima que precisaria de R$ 100 mil para custear a logística do plano. Cid diz também afirma que estariam arregimentando pessoas do Rio de Janeiro para o apoio do ato.
O plano seria consumado no dia 15 de dezembro. No dia seguinte ao golpe, aponta relatório da PF, seria instalado um gabinete de crise, que ficaria sob comando dos generais Braga Netto e Augusto Heleno.
Coação a militares para participar do golpe
Braga Netto tentou coagir militares para participar da tentativa de golpe de Estado ao longo do mês de dezembro de 2022, aponta a PF. O principal foco era o general Marco Antônio Freire Gomes, então comandante do Exército, e o ex-comandante da Aeronáutica, Carlos de Almeida Baptista Júnior.
Depoimentos dados à Polícia Federal apontam que Bolsonaro reuniu-se com Freire Gomes e apresentou argumentos jurídicos que permitiriam uma ruptura democrática. O general então recusou a proposta.
Esse plano também foi apresentando para o então comandante da Aeronáutica, Baptista Júnior, que também recusou. Apenas o comandante da Marinha à época, Almir Garnier Santos, aderiu a empreitada golpista.
Naquele mês Braga Netto determinou ao ex-major do Exército Ailton Gonçalves Moraes Barros que ele fizesse ataques a Freire Gomes, orientou a atacar o então comandante da Aeronáutica, Baptista Júnior, a quem adjetivou de "traidor da pátria" e pediu que elogiasse Garnier.
Em outra conversa com Ailton Barros, no dia 14 de dezembro, Braga Netto atribuiu a culpa "do que está acontecendo" a Freire Gomes e diz que ele é "omisso e indeciso". Barros diz para oferecer a cabeça do ex-comandante aos leões e Braga Netto concorda. "Oferece a cabeça dele. Cagão", escreveu.
Braga Netto tentou atrapalhar as investigações
Além de pressionar Freire Gomes e Baptista Júnior a participarem da empreitada golpista, Braga Netto atuou para tentar obter informações que estavam no acordo de delação premiada feita por Mauro Cid.
A Polícia encontrou um documento na mesa do coronel Flávio Peregrino, assessor de Braga Netto em que haveria respostas dadas por Cid a alguém. As perguntas tocam em temas relativos a investigação da tentativa de golpe.
"O contexto do documento é grave e revela que, possivelmente, foram feitas perguntas a Mauro Cid sobre o conteúdo do acordo de colaboração realizado por este em sede policial, as quais foram respondidas pelo próprio, em vermelho Braga Netto teria agido para atrapalhar o inquérito", diz a PF.
Braga Netto ainda procurou os pais de Mauro Cid para ter mais informações sobre a delação. Nessa conversa, os pais de Cid negaram conteúdos sobre a delação divulgados na imprensa.
Mauro Cid implicou Braga Netto em sua colaboração premiada. A delação estava sob ameaça de rescisão, até que o tenente-coronel mudou de estratégia e resolveu entregar o ex-ministro, em depoimento prestado diretamente a Alexandre de Moraes, em novembro.
Documento encontrado com assessor de Braga Netto diz que 'Lula não vai subir a rampa'
A Polícia Federal encontrou na mesma mesa do coronel Peregrino um documento que preparava a chamada "operação 142", que teria como fim anular a eleição, estender mandatos, trocar todos os ministros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e impedir que Lula subisse a rampa.
O nome da operação faz alusão ao artigo 142 da Constituição, que trata de emprego das Forças Armadas e passou a ser usado por bolsonaristas com uma interpretação distorcida para fomentar a ruptura institucional.
O manuscrito registrou "interrupção do processo de transição", "anulação das eleições", "substituição de todo TSE" e "preparação de novas eleições". Tinha, ainda, a anotação "Lula não sobe a rampa".
Braga Netto financiou tentativa de golpe
A PF também diz que Braga Netto financiou a ação golpista dos oficiais das Forças Especiais do Exército, os "kids pretos". O general teria entregado recursos aos golpistas em uma sacola de vinho. A informação foi repassada por Cid.
O dinheiro teria sido entregue ao major Rafael Martins de Oliveira, preso na Operação Contragolpe, e serviria para o "financiamento das despesas necessárias a realização da operação".
Em depoimento, Mauro Cid afirmou, segundo o próprio Braga Netto, o dinheiro "havia sido obtido junto ao pessoal do agronegócio". A Polícia Federal não identifica quem teria enviado o dinheiro.
"Braga Netto também teria atuado de forma direta e pessoal no financiamento das ações ilícitas, fornecendo recursos financeiros em uma sacola de vinho, ratificando sua atuação preponderante na execução dos atos criminosos", afirma a PF.
General já ameaçou processo eleitoral de 2022 e disse que pleito daquele ano só poderia acontecer se houvesse voto impresso
O Estadão revelou que em julho de 2021, Braga Netto usou um interlocutor político para enviar um recado ao presidente da Câmara Arthur Lira (PP-AL). Braga Netto pediu para comunicar, a quem interessasse, que não haveria eleições em 2022, se não houvesse voto impresso e auditável.
Ao dar o aviso, o ministro estava acompanhado de chefes militares do Exército, da Marinha e da Aeronáutica. Bolsonaro repetiu publicamente a ameaça de Braga Netto no mesmo dia. "Ou fazemos eleições limpas no Brasil ou não temos eleições", afirmou Bolsonaro a apoiadores, naquela data, na entrada do Palácio da Alvorada.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.