Desmonte do licenciamento ambiental levará a avalanche de judicialização, diz ministra

A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, afirmou nesta quinta-feira, 22, que a aprovação pelo Senado do novo marco do licenciamento ambiental, o projeto de lei 2.159/2021, pode levar a uma avalanche de judicialização.

"Tem uma questão complexa que, de fato, se mantiver essa demolição da legislação ambiental, do licenciamento ambiental, os prejuízos a gente não consegue sequer mensurar agora. Mas tem um já de cara: um processo que eu acho quase que em massa de judicializações. Porque muito do que foi aprovado é algo claramente inconstitucional", disse a ministra, após evento do ministério em parceria com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), no Jardim Botânico, no Rio de Janeiro.

Segundo a ministra, o governo é contra a mudança na legislação e tem expressado sua posição em diálogo constante com parlamentares. Quanto à base governista não ter aderido à recomendação da liderança na votação, ela reconhece que a atual gestão tem enfrentado derrotas no Congresso em diferentes pautas, incluindo temas que envolvem o Ministério da Fazenda, de Fernando Haddad.

"Na verdade, o governo tem debatido o tempo todo. A posição do nosso líder Jaques Wagner (PT/BA) foi muito clara. A orientação que foi dada é de que o governo é contrário a esse desmonte do licenciamento ambiental brasileiro. Obviamente que o governo tem uma série de dificuldades em relação a uma base segura de sustentação, e isso varia para cada tema. Não é a primeira vez que a gente sofre algumas dessas derrotas, inclusive em agendas que são igualmente estratégicas. Mas vamos continuar dialogando o tempo todo com o congresso. É uma democracia. E na democracia também a sociedade tem o direito de expressar qual é a sua vontade para aqueles que a representa", defendeu Marina.

A ministra afirmou que o governo manterá o diálogo com os parlamentares durante a tramitação na Câmara dos Deputados, para que o texto retorne aos pontos defendidos pelo atual gestão. Segundo ela, esse é o momento de promover o debate que não existiu no Senado, com a chance de realização inclusive de audiências públicas, mobilização da sociedade, especialistas e juristas.

"Bem, nós estamos em diálogo constante, aquilo que o governo nos estabeleceu como sendo fundamental para a manutenção do licenciamento, é o que nós vamos defender que seja reposto no debate na Câmara dos Deputados. O tempo não foi de longe, mínimo, para o debate desse novo relatório que surgiu", disse Marina. "O tempo todo estamos em diálogo. Agora, não concordar não significa não dialogar".

O secretário-executivo do Ministério do Meio Ambiente, João Paulo Capobianco, explicou que a pasta vinha trabalhando com o relator do projeto desde 2023, mas que um novo texto foi construído sem que fosse apresentado ao ministério, sendo revelado apenas no dia em que o PL entrou em pauta na Comissão de Meio Ambiente.

"E o relatório só foi disponibilizado durante essa reunião. E na sequência, em uma semana, o processo já entrou em discussão e na outra semana seguinte em votação. Nós estivemos no Senado solicitando à Comissão de Meio Ambiente que prorrogasse o prazo, justamente para que nós pudéssemos dialogar sobre o relatório, mas a comissão não prorrogou o prazo, e não houve tempo para que nós pudéssemos buscar uma construção de um relatório alternativo", relatou Capobianco a jornalistas.

A ministra Marina Silva afirmou que não houve tempo mínimo para debate, e que o processo foi feito de forma "atabalhoada". Quanto à emenda de última hora apresentada por iniciativa do presidente do senado, Davi Alcolumbre (União-AP), pela criação da "Licença Ambiental Especial (LAE)", que abre um rito simplificado para obras classificadas por um conselho de governo como "estratégicas", Marina diz que desperta preocupação.

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"É claro que isso é um é um desmonte da legislação ambiental. O fato de ser um projeto estratégico não elimina os impactos ambientais. É estratégico, mas a realidade e a natureza não operam na nossa lógica humana de tempo, pressa e interesses, sejam eles legítimos ou ilegítimos. Então, nesse caso, é uma preocupação sim, até porque politize algo que é de natureza técnica. Se você leva para a mão do presidente definir o que vai ter licença e o que não vai ter licença, né?", concluiu Marina.

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