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Comitê que vazou dados do Vaticano atuava de forma 'anormal'

29/04/2016 11h43

CIDADE DO VATICANO, 29 ABR (ANSA) - Durou mais de cinco horas a audiência desta quinta-feira (28) sobre o vazamento de dados econômicos sigilosos do Vaticano, no caso que ficou conhecido como "Vatileaks 2".   

Durante a tarde, foram ouvidas duas testemunhas que trabalhavam na Prefeitura de Assuntos Econômicos do Vaticano na época do acontecimento dos fatos: Paola Monaco, então secretária do cardeal-presidente da entidade, Giuseppe Versaldi, e Paola Pellegrino, então arquivista da Prefeitura.   

Ambas relataram que o período em que a Comissão de Estudos sobre as Atividades Econômicas (Cosea) existiu foi marcado por muita "tensão" e por um funcionamento "anormal" dos processos. A Cosea foi criada pelo papa Francisco em 2013 para monitorar as contas da Santa Sé e era presidida pelo monsenhor espanhol Lucio Ángel Vallejo Balda, principal acusado de provocar os vazamentos.   

Segundo Monaco, havia reuniões periódicas de um grupo "restrito", formado por Balda, pela então funcionária da Cosea, Francesca Immacolata Chaouqui, pelo assistente do sacerdote espanhol, Nicola Maio, e pelo chefe do escritório da Prefeitura, monsenhor Alfredo Abbondi. Para a secretária, a líder das conversas desse grupo era Chaouqui, um tipo de "chefe" do grupo.   

"Ela tinha uma influência forte sobre o monsenhor Vallejo e, no meu ponto de vista, era a pessoa dominante do grupo paralelo. Eu notava que, mesmo durante as ligações telefônicas com a sra.   

Chaouqui, havia um tom de voz muito forte e tenso", disse Monaco.   

Com exceção de Abbondi, os outros membros do grupo são alvos do processo "Vatileaks 2". A acusação contra eles é de que vazaram certos documentos - especialmente àqueles ligados ao Instituto de Obras da Religião (IOR), à Causa dos Santos e de balanço das basílicas papais - por não terem sido nomeados pelo Pontífice para os órgãos econômicos "fixos" da Igreja Católica.   

Paola Monaco ainda acrescentou que considerava "legítimo o fato do 'grupo restrito' se reunir a portas fechadas, isso podia ser justificado por motivos de segurança". A questão era que "havia uma total anormalidade aos ritos do nosso trabalho e tínhamos a sensação de serem reuniões 'de complô'".   

Já a outra testemunha, Paola Pellegrino, relatou mais um fato "anormal" vivenciado pela equipe da entidade.   

"Quando a Comissão Cosea já havia sido desfeita, na primavera de 2014, a senhora Chaouqui mandou um presente para o monsenhor Lucio Vallejo Balda no escritório da Prefeitura de Assuntos Econômicos: uma tigela com pequenos peixes vermelhos. No escritório, nós interpretamos aquilo como um aviso para o monsenhor, como um convite a não falar. Os peixes depois morreram porque ninguém se preocupou com eles", contou aos juízes a ex-arquivista.   

A italiana reforçou o depoimento de outra testemunha, o ex-contador da entidade Stefano Fralleoni, de que a quantidade de documentos que foram copiados sem necessidade era tão grande que eles chamavam de "arquivo paralelo".   

Para Pellegrino, fica claro que aquelas cópias estavam sendo preparadas "para a publicação" e depois, com a divulgação do livro "Via Crucis", do jornalista Gianluigi Nuzzi, ela constatou que eram os mesmos documentos que havia visto. A ex-arquivista ainda afirmou, mas sem apresentar provas, de que tinha a sensação de que havia programas para espionar o material que guardava em seu computador no escritório.   

Além do livro de Nuzzi, o escândalo "Vatileaks 2" gerou a publicação de outra obra, "Avarizia", de Emiliano Fittipaldi.   

Ambos também são alvos o julgamento no Vaticano, mas apenas por publicarem o material. Os outros três são acusados de formação de quadrilha e de "subtração e divulgação de notícias e documentos reservados".   

O porta-voz do Vaticano, padre Federico Lombardi, informou que a nova audiência sobre o caso será realizada no dia 7 de maio e que mais testemunhas serão ouvidas neste dia. (ANSA)
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