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Após Brexit,é possível salvar o projeto da União Europeia? 2

29/06/2016 18h12

SÃO PAULO, 29 JUN (ANSA) - Continuação: Com a saída do primeiro-ministro britânico David Cameron, seu homólogo italiano, Matteo Renzi, pode ser seu substituto? A Itália pode assumir um papel importante após esse processo? R.S.: Cameron é um conservador, Renzi é um progressista. Cameron será lembrado como aquele que convocou um referendo sobre a saída da União Europeia achando que ia ganhar e, ao invés disso, começou um cataclismo. Renzi e a Itália são europeístas convictos e pais fundadores da Europa.   

- O que a União Europeia pode fazer para evitar novos problemas desse tipo, como o 'Frexit' (a saída da França do bloco), o 'Nexit' (saída holandesa), etc? R.S.: Precisa tornar-se uma verdadeira federação de Estados e não ficar como uma Confederação. Dotar-se de uma política única, de um ministro de Finanças único e de um ministro do Interior único. Criar sua polícia federal (ao estilo do FBI), formar um Exército. Emitir instrumentos de débito europeu (os eurobonds).   

Se a Europa quer salvar-se deve ser a Europa. Aqui nasceu o Iluminismo, aqui ocorreram as primeiras revoluções, aqui foi redigida a declaração dos direitos do homem. É preciso coragem: precisamos pegar as nossas bandeiras nacionais e colocá-las em museus e deixar tremulando apenas a bandeira estrelada. Assim nasce a nação Europa, como nasceu os Estados Unidos.   

- No seu livro, você comenta que não há líderes visionários na Europa e que apenas o papa Francisco desempenha esse papel. Como Jorge Mario Bergoglio pode servir de exemplo para os líderes políticos? R.S.: Conto um fato exemplar. Há algumas semanas, o Papa Bergoglio foi para Lesbos [Grécia], uma das ilhas onde mais chegam refugiados pelo mar. O presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, no mesmo momento, estava em uma reunião do Fundo Monetário Internacional: bastava mudar o destino de sua passagem aérea e enviá-lo para a Grécia. Bastava seguir os passos de um homem vindo da Argentina.   

- Ainda em seu livro, você pede a volta da "cultura do indivíduo". O que seria exatamente isso? R.S.: A cultura de sermos diferentes, mas ter as mesmas ambições; a cultura de desejar o melhor usando a solidariedade ao seu máximo nível; a cultura de unir os povos lembrando aquilo que a imigração destas terras representou para as economias externas além do oceano.   

A nova Europa, para reencontrar a si mesma após anos de crise, e em vista de turbulências ainda mais difíceis, deve ressuscitar aquele espírito iluminista e visionário que diferenciou a história do homem em todas as suas grandes manifestações. Um espírito feito de equilíbrio e harmonia; de totalidade e de distinção; de racionalidade e de moralidade. Precisamos voltar à razão, à consciência e à humanidade. (ANSA)
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