Após 23 anos, Papa pede perdão por genocídio em Ruanda
CIDADE DO VATICANO, 21 MAR (ANSA) - Em audiência com o presidente de Ruanda, Paul Kagame, na última segunda-feira (20), o papa Francisco pediu "perdão" pelos pecados da Igreja Católica no genocídio que deixou entre 800 mil e 1 milhão de mortos em 1994.
Um pedido de desculpas já havia sido feito por João Paulo II em 2000, durante o Jubileu daquele ano, mas indicando que a culpa fora de cada sacerdote envolvido no massacre, e não da Santa Sé em si.
"O Papa manifestou sua profunda dor e da Igreja pelo genocídio contra os tutsis, expressou solidariedade às vítimas e a todos que continuam a sofrer as consequências daqueles trágicos acontecimentos e, em linha com o gesto de São João Paulo II, renovou a súplica a Deus por perdão pelos pecados e pela falta da Igreja e de seus membros, incluindo sacerdotes, religiosos e religiosas que cederam ao ódio e à violência, traindo sua própria missão evangélica", diz um comunicado da Santa Sé.
O antigo arcebispo de Kigali Vincent Nsengiyumva (1936-1994) era da etnia hutu e amigo pessoal do então presidente Juvénal Habyarimana (1937-1994) e acusou os rebeldes tutsis de provocarem o genocídio, crime que ele nunca admitiu. Nsengiyumva foi morto em junho de 1994, com mais dois bispos e 13 padres, por membros da Frente Patriótica Ruandesa, milícia liderada por Kagame e que viraria o principal partido do país.
No encontro com o atual presidente de Ruanda, o Papa ainda desejou que o reconhecimento dos erros da Igreja contribua para "purificar a memória" e promover a "esperança em um futuro de paz".
O ódio étnico na nação africana já vinha sendo insuflado desde que a Bélgica assumira o controle do então protetorado alemão, durante a Primeira Guerra Mundial. Inicialmente, os europeus apoiaram a elite tutsi que comandava a região. Depois, na década de 1950, passaram a sustentar os oprimidos hutus, a quem ajudaram a tomar o controle de Ruanda e a implantar um sistema segregacionista contra seus rivais.
Ao se retirar do território, em 1962, ano da independência ruandesa, a Bélgica deixou um caldeirão pronto para explodir a qualquer momento. Sob o comando de Habyarimana, no poder a partir de 1973, os hutus perseguiram os tutsis durante as décadas seguintes, promovendo matanças esporádicas ao longo do tempo.
Até que, em 6 de abril de 1994, o avião do mandatário sofreu um atentado enquanto sobrevoava Kigali, e o Poder Hutu, grupo radical que pregava o extermínio da outra etnia, tomou seu lugar. A partir daí, o que se viu foi uma carnificina sem precedentes, sob o olhar conivente da comunidade internacional e a impotência das Nações Unidas.
O massacre só terminou em julho do mesmo ano, graças ao avanço da Frente Patriótica Ruandesa, guerrilha tutsi que tinha Kagame como um de seus líderes. Foram entre 800 mil e 1 milhão de mortos em apenas três meses, em um país com pouco mais de 10 milhões de habitantes. O ex-combatente assumiu a Presidência em 2000 e desde então não deu sinais de que pretende deixar o cargo. (ANSA)Veja mais notícias, fotos e vídeos em www.ansabrasil.com.br.
Um pedido de desculpas já havia sido feito por João Paulo II em 2000, durante o Jubileu daquele ano, mas indicando que a culpa fora de cada sacerdote envolvido no massacre, e não da Santa Sé em si.
"O Papa manifestou sua profunda dor e da Igreja pelo genocídio contra os tutsis, expressou solidariedade às vítimas e a todos que continuam a sofrer as consequências daqueles trágicos acontecimentos e, em linha com o gesto de São João Paulo II, renovou a súplica a Deus por perdão pelos pecados e pela falta da Igreja e de seus membros, incluindo sacerdotes, religiosos e religiosas que cederam ao ódio e à violência, traindo sua própria missão evangélica", diz um comunicado da Santa Sé.
O antigo arcebispo de Kigali Vincent Nsengiyumva (1936-1994) era da etnia hutu e amigo pessoal do então presidente Juvénal Habyarimana (1937-1994) e acusou os rebeldes tutsis de provocarem o genocídio, crime que ele nunca admitiu. Nsengiyumva foi morto em junho de 1994, com mais dois bispos e 13 padres, por membros da Frente Patriótica Ruandesa, milícia liderada por Kagame e que viraria o principal partido do país.
No encontro com o atual presidente de Ruanda, o Papa ainda desejou que o reconhecimento dos erros da Igreja contribua para "purificar a memória" e promover a "esperança em um futuro de paz".
O ódio étnico na nação africana já vinha sendo insuflado desde que a Bélgica assumira o controle do então protetorado alemão, durante a Primeira Guerra Mundial. Inicialmente, os europeus apoiaram a elite tutsi que comandava a região. Depois, na década de 1950, passaram a sustentar os oprimidos hutus, a quem ajudaram a tomar o controle de Ruanda e a implantar um sistema segregacionista contra seus rivais.
Ao se retirar do território, em 1962, ano da independência ruandesa, a Bélgica deixou um caldeirão pronto para explodir a qualquer momento. Sob o comando de Habyarimana, no poder a partir de 1973, os hutus perseguiram os tutsis durante as décadas seguintes, promovendo matanças esporádicas ao longo do tempo.
Até que, em 6 de abril de 1994, o avião do mandatário sofreu um atentado enquanto sobrevoava Kigali, e o Poder Hutu, grupo radical que pregava o extermínio da outra etnia, tomou seu lugar. A partir daí, o que se viu foi uma carnificina sem precedentes, sob o olhar conivente da comunidade internacional e a impotência das Nações Unidas.
O massacre só terminou em julho do mesmo ano, graças ao avanço da Frente Patriótica Ruandesa, guerrilha tutsi que tinha Kagame como um de seus líderes. Foram entre 800 mil e 1 milhão de mortos em apenas três meses, em um país com pouco mais de 10 milhões de habitantes. O ex-combatente assumiu a Presidência em 2000 e desde então não deu sinais de que pretende deixar o cargo. (ANSA)
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