Análise/Rússia começa a perder paciência com Donald Trump
SÃO PAULO, 13 ABR (ANSA) - Por Lucas Rizzi. A campanha eleitoral nos Estados Unidos e o período entre a vitória e a posse de Donald Trump foram marcados por uma dúvida: qual seria a influência da Rússia na nova Casa Branca? A ligação umbilical de membros da equipe do republicano, inclusive seu secretário de Estado, Rex Tillerson, com Moscou e as denúncias de interferência do Kremlin no processo eleitoral indicavam que o magnata poderia enterrar uma inimizade histórica e se aproximar do presidente Vladimir Putin.
Agora, o bombardeio à base militar de Shayrat, na Síria, um país que fica na esfera de influência russa, começa a mudar essa percepção. "A Rússia estava muito otimista quanto à melhora das relações, mas, até agora, isso não aconteceu. No início, Putin estava com certa paciência, até porque ele sabe que a posição de Trump era minoritária nos EUA, mas o ataque foi uma coisa muito forte", explica, em entrevista à ANSA, o historiador Angelo Segrillo.
Definindo Putin como um "ocidentalista moderado", o especialista, que é autor de diversos livros sobre a Rússia e a União Soviética, compara o ataque norte-americano na Síria com uma eventual operação militar de Moscou no Japão, país que constitui um dos pilares da política de Washington na Ásia.
"Isso foi considerado um golpe sério, morreram sírios em uma base onde trabalham russos, que estão começando a ficar céticos sobre se Trump quer realmente essa aproximação", acrescenta.
Tillerson, nomeado pelo republicano para comandar sua diplomacia, foi condecorado na Rússia e sempre manteve laços com o Kremlin, mas já deu diversas declarações duras em relação a Moscou.
Na última quarta-feira (12), o secretário foi recebido pessoalmente por Putin, porém o conteúdo da conversa não foi divulgado. Já nesta quinta (13), os EUA deram uma demonstração de força em outra zona no "quintal" da Rússia, o Afeganistão, lançando sua mais potente bomba não-nuclear sobre supostos alvos do Estado Islâmico (EI), um inimigo comum das duas potências.
"Donald Trump pode ter decidido lembrar ao mundo mais uma vez que a demonstração de força sempre foi um argumento da política externa americana", ironizou o senador russo Viktor Ozerov, presidente da Comissão de Defesa e Segurança da Câmara Alta.
"A paciência está diminuindo. O ataque [em Shayrat] foi uma intervenção direta em um país que a Rússia considera em sua área de influência. Isso, junto com outros eventos, pode ser um motivo para a Rússia não querer mais esse tipo de relação [de proximidade]", ressalta Segrillo.
Tal sentimento foi verbalizado pelo próprio Putin, que já disse que as relações entre Washington e Moscou "pioraram" com a posse de Trump. Novas operações militares contra Bashar al Assad poderiam agravar esse cenário, embora a Casa Branca já tenha dado sinais de que o bombardeio foi uma ação pontual.
Para a Rússia, o fim da guerra na Síria é também uma questão financeira: o país já gastou muito dinheiro para manter Assad no poder e comprou briga com o EI, em um momento em que sua economia está fragilizada devido às sanções europeias e norte-americanas e à queda do preço do petróleo.
"Até por isso, é interessante para eles resolver logo o conflito. Agora, independentemente do dinheiro, a Rússia tem essa posição de, após ter se recuperado economicamente em relação aos anos 1990, não querer deixar sua condição de potência cair mais do que já caiu", afirma o historiador.
Esse ativismo externo, incluindo a anexação da Crimeia, em 2014, impulsionou a popularidade de Putin, que ignora as dificuldades financeiras do país e se mantém acima dos 80%. Mas a participação russa no conflito sírio cobra seu preço: a maior nação do mundo está na mira do Estado Islâmico e de outras milícias.
Em 3 de abril de 2017, o quirguiz Akbarzhon Jalilov detonou uma bomba no metrô de São Petersburgo e matou 14 pessoas, incluindo ele mesmo. Há suspeitas de que o agressor tenha sido treinado por jihadistas na Síria, cumprindo um trajeto bastante comum entre muçulmanos da Ásia Central, na fronteira com a Rússia.
Com a Copa das Confederações e a Copa do Mundo chegando, o país tem o desafio de lidar com a errática política externa dos EUA e, ao mesmo tempo, preservar seu status de potência sem ser castigado pelo terrorismo. (ANSA)Veja mais notícias, fotos e vídeos em www.ansabrasil.com.br.
Agora, o bombardeio à base militar de Shayrat, na Síria, um país que fica na esfera de influência russa, começa a mudar essa percepção. "A Rússia estava muito otimista quanto à melhora das relações, mas, até agora, isso não aconteceu. No início, Putin estava com certa paciência, até porque ele sabe que a posição de Trump era minoritária nos EUA, mas o ataque foi uma coisa muito forte", explica, em entrevista à ANSA, o historiador Angelo Segrillo.
Definindo Putin como um "ocidentalista moderado", o especialista, que é autor de diversos livros sobre a Rússia e a União Soviética, compara o ataque norte-americano na Síria com uma eventual operação militar de Moscou no Japão, país que constitui um dos pilares da política de Washington na Ásia.
"Isso foi considerado um golpe sério, morreram sírios em uma base onde trabalham russos, que estão começando a ficar céticos sobre se Trump quer realmente essa aproximação", acrescenta.
Tillerson, nomeado pelo republicano para comandar sua diplomacia, foi condecorado na Rússia e sempre manteve laços com o Kremlin, mas já deu diversas declarações duras em relação a Moscou.
Na última quarta-feira (12), o secretário foi recebido pessoalmente por Putin, porém o conteúdo da conversa não foi divulgado. Já nesta quinta (13), os EUA deram uma demonstração de força em outra zona no "quintal" da Rússia, o Afeganistão, lançando sua mais potente bomba não-nuclear sobre supostos alvos do Estado Islâmico (EI), um inimigo comum das duas potências.
"Donald Trump pode ter decidido lembrar ao mundo mais uma vez que a demonstração de força sempre foi um argumento da política externa americana", ironizou o senador russo Viktor Ozerov, presidente da Comissão de Defesa e Segurança da Câmara Alta.
"A paciência está diminuindo. O ataque [em Shayrat] foi uma intervenção direta em um país que a Rússia considera em sua área de influência. Isso, junto com outros eventos, pode ser um motivo para a Rússia não querer mais esse tipo de relação [de proximidade]", ressalta Segrillo.
Tal sentimento foi verbalizado pelo próprio Putin, que já disse que as relações entre Washington e Moscou "pioraram" com a posse de Trump. Novas operações militares contra Bashar al Assad poderiam agravar esse cenário, embora a Casa Branca já tenha dado sinais de que o bombardeio foi uma ação pontual.
Para a Rússia, o fim da guerra na Síria é também uma questão financeira: o país já gastou muito dinheiro para manter Assad no poder e comprou briga com o EI, em um momento em que sua economia está fragilizada devido às sanções europeias e norte-americanas e à queda do preço do petróleo.
"Até por isso, é interessante para eles resolver logo o conflito. Agora, independentemente do dinheiro, a Rússia tem essa posição de, após ter se recuperado economicamente em relação aos anos 1990, não querer deixar sua condição de potência cair mais do que já caiu", afirma o historiador.
Esse ativismo externo, incluindo a anexação da Crimeia, em 2014, impulsionou a popularidade de Putin, que ignora as dificuldades financeiras do país e se mantém acima dos 80%. Mas a participação russa no conflito sírio cobra seu preço: a maior nação do mundo está na mira do Estado Islâmico e de outras milícias.
Em 3 de abril de 2017, o quirguiz Akbarzhon Jalilov detonou uma bomba no metrô de São Petersburgo e matou 14 pessoas, incluindo ele mesmo. Há suspeitas de que o agressor tenha sido treinado por jihadistas na Síria, cumprindo um trajeto bastante comum entre muçulmanos da Ásia Central, na fronteira com a Rússia.
Com a Copa das Confederações e a Copa do Mundo chegando, o país tem o desafio de lidar com a errática política externa dos EUA e, ao mesmo tempo, preservar seu status de potência sem ser castigado pelo terrorismo. (ANSA)
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