Análise/Revolta no Irã, uma bênção para os rivais sauditas
BEIRUTE, 02 JAN (ANSA) - Por Alberto Zanconato - Um complô de "inimigos" externos. A primeira reação do guia supremo do Irã, Ali Khamenei, às manifestações que há quase uma semana sacodem o país entra no roteiro seguido quase sempre por Teerã para explicar qualquer contestação nas ruas. Mas os incidentes dos últimos dias acontecem no auge de conflitos e tensões regionais que tornam lícito levantar algumas dúvidas a propósito.
Ainda que as autoridades iranianas e a própria oposição tenham sido pegas de surpresa pela onda de protestos, é incontestável que os motivos do descontentamento, sobretudo das classes mais pobres, existem há tempos.
Enquanto o acordo nuclear de 2015 ainda não trouxe para muitos cidadãos os benefícios econômicos esperados, no último ano a opinião pública foi sacudida por eventos que contribuíram para aumentar sua exasperação: uma série de escândalos financeiros, a reação tida como inadequada do Estado ao terremoto no oeste do Irã e uma Lei Orçamentária que corta os subsídios para milhões de pessoas, aumenta vertiginosamente os impostos para saída de recursos do país e incrementa o preço da gasolina.
Tudo isso enquanto vultosas quantias de dinheiro são destinadas a fundações e centros de estudos religiosos. Mas um dos pontos contestados pelos manifestantes é o empenho militar e financeiro de Teerã, por um valor de vários bilhões de dólares, disseminado em benefício de aliados na região e para sustentar um expansionismo que as autoridades iranianas perseguem há anos no Iraque, na Síria e no Líbano, com o grupo xiita Hezbollah.
Tais iniciativas foram amplamente denunciadas por Israel, pelos Estados Unidos e pela Arábia Saudita, que entre novembro e dezembro foi alvo de dois mísseis lançados por rebeldes iemenitas houthis, aliados do Irã.
Não é de se surpreender, portanto, as palavras de apoio aos protestos ditas pelo presidente dos EUA, Donald Trump, e pelo primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, que viu Teerã reforçar suas posições nas proximidades do Estado judeu.
Riad, por enquanto, se mantém distante, mas as dificuldades internas no Irã e as contestações às suas ambições geopolíticas não podem não agradar aos sauditas. Em uma análise para a "Al Arabiya", Abdulrahman al Rashed, ex-gerente-geral da emissora saudita, expressou aquilo que pode ser a esperança de Riad: não a queda do regime iraniano, que levaria consequências "assustadoras" para uma região já marcada por conflitos e tensões de todos os tipos, mas uma "mudança na política externa de Teerã e o fim de sua abordagem agressiva".
Isso, segundo Al Rashed, seria o resultado "perfeito". Em outra frente, como era lógico esperar, o governo da Síria exprime plena solidariedade às autoridades iranianas, chamando os protestos de "conspiração".
Por sua vez, a Turquia mantém uma postura prudente. Depois de anos criticando a intervenção de Teerã na Síria, Ancara colabora hoje com o país e a Rússia na busca de uma solução para o conflito. O Ministério das Relações Exteriores turco expressou "preocupação" pelos eventos no Irã e desejou que prevaleça "o bom senso para prevenir a escalada dos eventos e evitar a retórica provocativa e as intervenções estrangeiras". (ANSA)Veja mais notícias, fotos e vídeos em www.ansabrasil.com.br.
Ainda que as autoridades iranianas e a própria oposição tenham sido pegas de surpresa pela onda de protestos, é incontestável que os motivos do descontentamento, sobretudo das classes mais pobres, existem há tempos.
Enquanto o acordo nuclear de 2015 ainda não trouxe para muitos cidadãos os benefícios econômicos esperados, no último ano a opinião pública foi sacudida por eventos que contribuíram para aumentar sua exasperação: uma série de escândalos financeiros, a reação tida como inadequada do Estado ao terremoto no oeste do Irã e uma Lei Orçamentária que corta os subsídios para milhões de pessoas, aumenta vertiginosamente os impostos para saída de recursos do país e incrementa o preço da gasolina.
Tudo isso enquanto vultosas quantias de dinheiro são destinadas a fundações e centros de estudos religiosos. Mas um dos pontos contestados pelos manifestantes é o empenho militar e financeiro de Teerã, por um valor de vários bilhões de dólares, disseminado em benefício de aliados na região e para sustentar um expansionismo que as autoridades iranianas perseguem há anos no Iraque, na Síria e no Líbano, com o grupo xiita Hezbollah.
Tais iniciativas foram amplamente denunciadas por Israel, pelos Estados Unidos e pela Arábia Saudita, que entre novembro e dezembro foi alvo de dois mísseis lançados por rebeldes iemenitas houthis, aliados do Irã.
Não é de se surpreender, portanto, as palavras de apoio aos protestos ditas pelo presidente dos EUA, Donald Trump, e pelo primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, que viu Teerã reforçar suas posições nas proximidades do Estado judeu.
Riad, por enquanto, se mantém distante, mas as dificuldades internas no Irã e as contestações às suas ambições geopolíticas não podem não agradar aos sauditas. Em uma análise para a "Al Arabiya", Abdulrahman al Rashed, ex-gerente-geral da emissora saudita, expressou aquilo que pode ser a esperança de Riad: não a queda do regime iraniano, que levaria consequências "assustadoras" para uma região já marcada por conflitos e tensões de todos os tipos, mas uma "mudança na política externa de Teerã e o fim de sua abordagem agressiva".
Isso, segundo Al Rashed, seria o resultado "perfeito". Em outra frente, como era lógico esperar, o governo da Síria exprime plena solidariedade às autoridades iranianas, chamando os protestos de "conspiração".
Por sua vez, a Turquia mantém uma postura prudente. Depois de anos criticando a intervenção de Teerã na Síria, Ancara colabora hoje com o país e a Rússia na busca de uma solução para o conflito. O Ministério das Relações Exteriores turco expressou "preocupação" pelos eventos no Irã e desejou que prevaleça "o bom senso para prevenir a escalada dos eventos e evitar a retórica provocativa e as intervenções estrangeiras". (ANSA)
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