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Efeitos da crise na Turquia podem chegar ao Brasil (2)

26/08/2018 14h48

SÃO PAULO, 26 AGO (ANSA) - Entenda a crise - A crise econômica na Turquia é resultado de uma série de turbulências políticas ocorridas desde 2013, quando um escândalo de corrupção no governo Erdogan motivou protestos que exigiam a renúncia do então primeiro-ministro.   

Erdogan acusou o "Movimento Gulen", grupo político liderado pelo clérigo islâmico turco Fethullah Gulen e que tem como principal proposta o acesso universal à educação, de estar por trás das investigações. Para o presidente, o fim da aliança política entre o seu partido, o AKP (Partido da Justiça e do Desenvolvimento, em turco), e Gulen teria motivado o grupo a tentar desestabilizar o governo.   

Desde então, o governo passou a prender juízes, promotores e jornalistas sob a alegação de que eles estariam trabalhando em nome de um "Estado paralelo". Cerca de 20 mil professores de instituições de ensino privadas perderam o direito de trabalhar por suspeitas de envolvimento com o movimento.   

Em julho de 2016, facções militares tentaram tomar o poder no país durante uma viagem de Erdogan ao Paquistão, mas foram derrotadas por forças leais ao governo. O palácio presidencial e o parlamento turcos chegaram a ser bombardeados, e houve uma tentativa frustrada de assassinato a Erdogan. Cerca de 300 pessoas morreram nos combates e outras 2,1 mil ficaram feridas.   

O presidente atribuiu a investida a Gulen, que condenou a tentativa de golpe, mas passou a ser classificado como terrorista. Os departamentos de inteligência britânicos e russos apontaram que membros do movimento estavam entre as forças que tentaram depor Erdogan, mas não encontraram evidências de que o grupo tenha apoiado a tentativa de tomada de poder.   

A vitória do governo foi seguida pelo endurecimento do regime, que fechou mais de 100 veículos de imprensa e prendeu cerca de 15 mil pessoas, entre elas o pastor evangélico norte-americano Andrew Brunson, acusado de pertencer ao Gulen. O religioso foi condenado a 35 anos de prisão por terrorismo e teve sua libertação solicitada por Washington, mas o pedido não foi atendido. A recusa deu início a negociações que duram até hoje. A situação foi agravada pelo assassinato do embaixador russo na Turquia, em dezembro daquele ano, durante uma exposição de fotografia em Ancara. Mevlüt Mert, um ex-policial turco, usou suas credenciais para conseguir se aproximar do diplomata Andrey Karlov e atirou contra ele enquanto gritava a frase "Allahu Akbar" (Deus é o maior de todos, em árabe), além de dizer: "nós morremos na Síria, você morre aqui".   

O atirador foi morto por policiais turcos, e o atentado foi apontado por Erdogan como de responsabilidade do Movimento Gulen, apesar de evidências mostrarem relação com o apoio russo ao governo sírio, que é combatido por grupos rebeldes em uma guerra civil.   

Em 2017, Erdogan chegou a propor a troca da libertação de Brunson pela extradição de Gulen, que vive na Pensilvânia desde 1999, mas o pedido não foi aceito. Mais tarde naquele ano, o vice-presidente norte-americano, Mike Pence, afirmou que a Turquia sofreria "sanções significativas" caso não libertasse o pastor.   

As punições vieram em 2018, com a tarifação das importações do aço e alumínio turcos em 20% e 50%, respectivamente. Assim, as relações de dois aliados na Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) vão se deteriorando, o que pode ter efeitos como o enfraquecimento das barreiras à passagem de refugiados sírios pelo território turco, que é temida por países como Alemanha e França, além de aproximar o país, que fica entre a Ásia e a Europa, da Rússia.   

Erdogan convidou, na última sexta-feira (24), o presidente Vladimir Putin para visitar o país e já firmou parcerias militares com empresas russas, incluindo o fornecimento de sistemas antimísseis S-400, comprados por Ancara na última semana. (ANSA)
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