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'Não o reconhecia', diz tio de vítima de tumulto na Itália

08/12/2018 16h15

CORINALDO, 08 DEZ (ANSA) - Seis pessoas morreram pisoteadas e mais de 100 ficaram feridas em uma confusão ocorrida durante um show de rap em uma discoteca da cidade de Corinaldo, no centro-leste da Itália, na madrugada desde sábado (8).   

A tragédia ocorreu na boate "Lanterna Azzurra", onde se apresentava o rapper Sfera Ebbasta. Segundo relatos de testemunhas, o lançamento de um spray de pimenta provocou pânico no público, que derrubou uma balaustrada ao tentar fugir do local.   

Entre as vítimas estão cinco adolescentes e uma mãe que acompanhava a filha no show. Os mortos foram identificados como Asia Nasoni, 14 anos; Emma Fabini, 14; Benedetta Vitali, 15; Mattia Orlandi, 15; Daniele Pongetti, 16; e Eleonora Girolimini, 39.   

Dos 100 feridos, ao menos sete estão internados em estado grave e correm risco de morrer, incluindo duas mulheres e cinco homens entre 14 e 20 anos de idade. Eles sofreram traumatismos cranianos ou torácicos e estão na UTI, em coma induzido. Outros feridos reportaram queimaduras no rosto por spray de pimenta.   

"Tive de olhá-lo quatro vezes porque não o reconhecia", disse o tio de um dos adolescentes mortos, após fazer o reconhecimento do corpo no obituário de Ancona, a capital da província local.   

"Sou uma cretina, não devia tê-la deixado ir, ela tinha só 14 anos, era sua primeira vez na discoteca. Não me consolem, sou uma cretina", lamentou a mãe de outra vítima.   

Autoridades - Em pronunciamento, o presidente da República, Sergio Mattarella, cobrou esclarecimentos. "É uma tragédia que nos deixa petrificados. O pensamento é de proximidade e solidariedade às famílias das jovens vítimas, à sua dor dilacerante e às condições de tantos feridos, com desejo de pronta recuperação. É preciso esclarecer o ocorrido, descobrindo responsabilidades e negligências. Não se pode morrer assim", disse.   

Já o primeiro-ministro Giuseppe Conte afirmou que esse é um momento de "luto", mas que também está claro que há "muitas perguntas a respeito da responsabilidade sobre essa tragédia".   

"Será preciso encontrar uma resposta clara, rápida e unívoca", escreveu no Facebook. Tanto o premier quanto o ministro do Interior Matteo Salvini visitaram a região durante a tarde.   

Na Câmara dos Deputados, parlamentares reunidos para votar a Lei Orçamentária de 2019 fizeram um minuto de silêncio em homenagem às vítimas. O papa Francisco, por sua vez, assegurou "uma lembrança em suas orações" pelos adolescentes e pela mãe mortos nesta madrugada.   

O rapper Sfera Ebbasta também se pronunciou. "Estou profundamente entristecido pelo que aconteceu em Corinaldo, é difícil encontrar as palavras certas para expressar a dor por essa tragédia", escreveu o artista no Instagram, chamando de "perigosa" e "estúpida" a ideia de usar spray de pimenta em uma discoteca.   

Não é a primeira vez que isso acontece em um show do músico. Em agosto de 2017, uma apresentação em Modena foi interrompida porque alguém havia usado spray de pimenta no meio do público, causando correria e pânico. Na ocasião, no entanto, somente duas pessoas ficaram levemente feridas. Sfera Ebbasta suspendeu seus próximos compromissos por causa da tragédia deste sábado.   

Spray e superlotação - Os investigadores trabalham para descobrir todas as causas da tragédia. Uma das hipóteses é de que a boate, cujos donos já foram ouvidos, estivesse superlotada.   

A chefe do Ministério Público de Ancona, Monica Garulli, revelou que 1,4 mil ingressos haviam sido vendidos para o show na discoteca, cuja capacidade é de cerca de 870 pessoas. O número de entradas comercializadas é 60% maior que o permitido.   

"Os bilhetes vendidos são cerca de 1,4 mil, frente a uma capacidade de cerca de 870 pessoas", declarou Garulli, que também investiga a causa "geradora da onda de pânico que levou centenas de jovens a tentar sair da discoteca". "Falou-se de um recipiente de spray urticante", afirmou.   

Além disso, o premier Conte revelou que apenas um dos ambientes da boate, com capacidade para 469 pessoas, estava aberto. "Um dos meus filhos tinha o ingresso de número 1350. Se aquele lugar tinha pouco mais de 800 lugares, por que havia o dobro?", questionou à ANSA Carmelo Calì, pai de um adolescente que estava no show.   

Vítimas - Eleonora Girolimini, 39, única vítima adulta do tumulto, deixou quatro filhos, incluindo a menina de 11 que ela havia levado ao show do rapper Sfera Ebbasta. Residente na vizinha Senigallia, na costa do Mar Adriático, Girolimini é filha do dono de um famoso restaurante da cidade. Ao menos outras duas vítimas também viviam no mesmo município litorâneo - os alunos de cinco escolas de ensino médio de Senigallia participavam da festa. Daniele Pongetti, 16, era filho de um funcionário da Prefeitura local e jogava futebol nas categorias de base do clube amador AS Senigallia. Emma Fabini, 14, era filha do dono de uma farmácia. Já Mattia Orlandi, 15, era de Frontone, 40 quilômetros a oeste de Corinaldo, e havia ido à discoteca de ônibus. "Era a segunda vez que ele ia. Agora ninguém vai me devolver meu filho", disse o pai do jovem, Giuseppe Orlandi, ao sair do obituário de Ancona, acrescentando que "essas coisas só acontecem na Itália".   

"Minha vida e a da minha esposa acabaram", lamentou. (ANSA)
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