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Especial/2018, O ano que a prisão de Lula derrotou o PT

20/12/2018 16h04

SÃO PAULO, 20 DEZ (ANSA) - Por Luciana Ribeiro - Criador de diversas narrativas vitoriosas ao longo de 13 anos no poder, mas alvo de graves escândalos de corrupção, o Partido dos Trabalhadores (PT) sofreu o pior revés de sua história no ano de 2018: a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, fato que culminou com a derrota da legenda nas eleições à Presidência da República.   


"Foi um ano bastante complicado. O PT teve sua maior derrota simbólica por conta do presidente Lula, que se encontra preso e não pôde concorrer ao Palácio do Planalto e, paralelamente, presenciou a vitória de Jair Bolsonaro", explicou Rodrigo Prando, cientista político da Universidade Mackenzie.   


Fundado em 10 de fevereiro de 1980 por um grupo de militantes de oposição à Ditadura Militar (1964 - 1985), o partido de esquerda deixou as eleições deste ano com menos representantes, rachado e sedento por um novo rumo para "corrigir problemas" que "magoaram, ofenderam e decepcionaram a sociedade".   


Segundo Prando, desde 1989, o PT, especialmente Lula, disputou eleições no Brasil de forma direta ou indiretamente, e por isso "o ex-presidente é sem dúvida nenhuma a figura com a imagem política mais consolidada da nova república. Isso é inegável porque quando você pensa no Lula pensa no PT e vice-versa". Desta forma, as eleições sem o petista reforçaram um cenário político desfavorável ao partido, principalmente depois do atentado com faca contra o então candidato do PSL, Jair Bolsonaro. No entanto, a derrocada já teve início em 2016, quando Dilma Rousseff, herdeira política de Lula, foi condenada por crime de responsabilidade por delito fiscal e sofreu um impeachment, processo usado pela segunda vez desde a redemocratização.   


A primeira mulher eleita presidente do país foi a responsável por encerrar um ciclo de 13 anos do PT no poder.   


Entretanto, a prisão de Lula por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no caso do tríplex do Guarujá (SP), , no dia 7 de abril deste ano, apenas selou a forte queda da legenda.   


"Em 2016, o PT teve um resultado muito ruim em termos eleitorais porque o partido teve a diminuição de cerca de 60% das prefeituras municipais. Em contrapartida, em 2018, o PT conseguiu fazer a maior bancada na Câmara dos Deputados[...]. É uma queda, mas não é possível afirmar que o PT está acabado", ressaltou o professor do Mackenzie.   


Em uma escalada de derrotas, o então candidato da legenda, Fernando Haddad, sofreu outra esmagadora para o partido nas eleições presidenciais realizadas em outubro ao ser vencido por Bolsonaro. Para o cientista político, isso ocorreu em decorrência da demora de Lula para nomear o ex-prefeito de São Paulo como seu substituto. "Foi uma estratégia equivocada".   


"A demora é uma característica personalista do Lula de se achar imbatível", acrescentou o cientista político, ressaltando que o ex-presidente esperava que "as ruas clamariam [por ele] e a sociedade brasileira sairia em sua defesa, mas isso não aconteceu".   


O PT foi responsável por muitas narrativas vitoriosas, como por exemplo a batizada de "herança maldita", criada na primeira vitória de Lula, em 2002, para dizer que todos os problemas do Brasil derivavam do governo do então presidente Fernando Henrique Cardoso.   


No entanto, em 2018, o slogan "Haddad é Lula" foi se tornando prejudicial, assim como "O Brasil Feliz de Novo". A direção do PT e as lideranças do partido perderam a dimensão da disputa política, inclusive subestimando Bolsonaro, que utilizou as redes sociais para construir uma proximidade maior com seu eleitorado.   


O povo, afetado pela crise econômica, o alto índice de desemprego e os escândalos de corrupção, maximizou a imagem desgastada do PT e clamou por mudanças, que, na ocasião, era Bolsonaro a opção. Mesmo com uma disputa pautada pelas declarações polêmicas neofascistas da extrema-direita, o PT não conseguiu voltar ao poder e herdou a necessidade de um debate mais estratégico em torno das lições que devem ser retiradas da derrota. "É indiscutível que Lula é a grande liderança na esquerda brasileira", mas para Paulo de Tarso Santos, que já foi responsável pelo marketing de campanhas do PT, "o povo não acha o ex-presidente uma vítima".   


Na tentativa de voltar ao protagonismo no cenário político, o partido chegou a convocar reuniões dos diretórios regionais com a intenção de alinhar discursos e estudar estratégias.   


Mas, de acordo com Prando, o PT não parece estar disposto a fazer a autocrítica, tendo deixado isso claro mesmo depois da derrota. "Virar a página implica em dois elementos substanciais: permitir que o PT avance sem a imagem do Lula, que foi sufocante nos últimos anos; e como as novas lideranças vão se comportar para permitir que o partido caminhe com novas pautas", finalizou. (ANSA)
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