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Procuradoria abre fascículo de sequestro para Open Arms

16/08/2019 14h21

LAMPEDUSA, 16 AGO (ANSA) - A Procuradoria da República de Agrigento, na Itália, abriu um fascículo nesta sexta-feira (16) por sequestro, violência privada e abuso de autoridade em relação à situação do navio Open Arms, da ONG espanhola Proactiva, que está com 134 imigrantes à deriva há 15 dias no Mar Mediterrâneo.   

De acordo com fontes locais, os advogados da ONG Proactiva Open Arms entraram com um recurso no órgão, que consequentemente abriu o fascículo. A Procuradoria também confirmou que há uma denúncia contra o prefeito de Agrigento, Dario Caputo, apresentada por uma associação de juristas locais, os quais alegam que o político poderia ter "violado" ou "se omitido" de executar a ordem do Tribunal Administrativo Regional (TAR) do Lazio que, há dois dias, autorizou que o barco da Open Arms entrasse em águas italianas. O navio resgatou cerca de 150 imigrantes no Mediterrâneo, mas está à deriva há 15 dias, sem autorização de desembarque em nenhum porto. Na quarta-feira, o TAR do Lazio emitiu uma ordem que permitia que a embarcação se aproximasse do porto de Lampedusa, no sul da Itália, apesar das ameaças do vice-premier e ministro do Interior, Matteo Salvini.   

O TAR derrubou um decreto de Salvini que proibia o desembarque do Open Arms. O expoente da Liga Norte até tentou renovar a decisão com um novo decreto, mas outros membros do governo se recusaram a assinar o texto.   

Com isso, a Open Arms ficou na costa sul italiana, na ilha de Lampedusa, esperando para desembarcar. Nas últimas horas, 13 imigrantes foram retirados do navio e levados para hospitais, pois a ONG alegou que precisavam de atendimento médico. Consultores que visitaram o interior do navio tinham informado que cerca de 20 pessoas apresentavam sarna e dezenas tinham sinais de traumas psicológicos.   

"A situação geral é de condições de higiene péssimas. São espaços não ideias para receber um número assim grande de pessoas. Os náufragos vivem amontados uns sobre os outros. Há apenas dois banheiros químicos e, muitas vezes, os náufragos são obrigados a fazerem suas necessidades fisiológicas onde dormem e comem", ressaltou um comunicado, ao qual a ANSA teve acesso, da médica Katia Valeria Di Natale, do Corpo Italiano de Resgate da Ordem de Malta. Porém, uma outra declaração, de um membro do hospital de Lampedusa, desmentiu que os imigrantes estejam doentes. "Dos 13 náufragos que desembarcaram da Open Arms, somente um tinha otite. Os outros não sofriam de nenhuma patologia", disse à ANSA o responsável pelo ambulatório de Lampedusa, Francesco Cascio.   

"Tem alguma coisa errada", alegou. A declaração em tom acusatório ressoou em Salvini, que demonstrou descrença na possibilidade dos imigrantes precisarem de atendimento médico. "Emergência médica a bordo da Open Arms? Balela", disse.   

"Em todo esse tempo [15 dias], eles já teriam ido e voltado a um porto espanhol três vezes. Estas ONGs, porém, fazem apenas batalha política usando a pele dos imigrantes e contra o nosso país. Mas eu não desisto", escreveu Salvini em sua conta no Twitter. Enquanto isso, o prefeito de Lampedusa, Totò Martello, lançou uma campanha com a hashtag "#IoSonoPescatore" (Eu sou pescador).   

"Sou filho de pescador e, na primeira vez que entrei em um barco, me ensinaram que toda vida humana em perigo deve ser salva. Porque o mar tem suas regras e devem ser respeitadas", comentou.   

A Comissão Europeia disse que seis países se ofereceram para receber parte dos imigrantes da Open Arms, sendo França, Alemanha, Luxemburgo, Portugal, Romênia e Espanha. No entanto, a Itália alega que nenhuma passo formal foi tomado por esses países para a divisão do acolhimento. "A Itália ainda está esperando que os outros Estados mantenham sua palavra e assumam as promessas feitas no passado", disse o Palácio do Viminale. (ANSA)
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