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Em reviravolta, PD se abre ao diálogo para governar com M5S

21/08/2019 18h18

SÃO PAULO, 21 AGO (ANSA) - Por Beatriz Farrugia - O presidente da Itália, Sergio Mattarella, corre contra o tempo para dar um novo governo ao país e resolver a crise política que levou à renúncia do primeiro-ministro Giuseppe Conte.   

Nesta quarta-feira (21), como manda a Constituição, Mattarella iniciou uma série de consultas a partidos e líderes do Parlamento para sondar se seria possível indicar um novo nome para compor o governo ou se o destino final da Itália será antecipar as eleições. De acordo com analistas políticos italianos, Mattarella, ao contrário do que fez em 2018, deixando os partidos negociarem por meses uma solução para a formação do gabinete, deverá adotar uma postura mais rígida e exigir um desfecho imediato para a crise.   

Isso porque, com o fim das férias de verão no Hemisfério Norte, as atividades parlamentares italianas e europeias voltam com todo vapor em setembro, com agendas decisivas de votações que, caso não ocorram, colocariam a Itália em uma paralisia política e institucional. Na primeira rodada de consultas, Mattarella se reuniu hoje com os presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado, conversou com o presidente emérito da Itália, Giorgio Napolitano, e recebeu os líderes de partidos pequenos.   

As legendas, como LEU, SVP, Patt e UV, disseram-se disponíveis para apoiar um governo legislativo e evitar a convocação de novas eleições. Diante isso, o cenário de uma aliança entre o Partido Democrático (PD), de esquerda, e o centrista Movimento 5 Estrelas (M5S), de Luigi di Maio, para assumir o poder ganha força. Ao longo do dia, o PD, do ex-premier Matteo Renzi (2014-2016), que até agora fez oposição ao governo, demonstrou abertura para se aliar ao M5S em uma composição futura. O secretário nacional do PD, Nicola Zingaretti, anunciou que, de maneira unânime, recebeu da direção do partido o mandato de abrir uma tratativa com o M5S. Mas a legenda impôs cinco condições para governar com Di Maio: aliança leal à União Europeia, pleno reconhecimento da democracia representativa, desenvolvimento baseado na sustentabilidade ambiental, mudança na gestão da imigração - com protagonismo na Europa -, alterações das políticas econômicas e sociais e foco em investimento. Cabe, agora, ao M5S decidir se irá se juntar ao PD ou continuar com o partido de extrema-direita Liga Norte, de Matteo Salvini com quem formou o atual governo. Os pilares propostos pelo PD vão de encontro ao que o M5S-Liga vinha fazendo até então no governo, principalmente com o fechamento dos portos às ONGs que resgatam imigrantes no Mediterrâneo, e o confronto político direto entre Roma e Bruxelas. Caso a aliança entre M5S e PD realmente ocorra, a Itália passaria, então, a ter um governo de centro-esquerda, após 14 meses da direita no poder.   

Salvini, ministro do Interior, líder da Liga Norte e o nome mais forte do atual governo, sairia de cena e abriria caminho para o partido de seu rival, Renzi, voltar à cena. E o M5S, que ajudou a derrubar o governo de Renzi e dissera, há poucos dias, que jamais se sentaria em uma mesa com o ex-premier, precisará apagar as rusgas do passado. Em meio à crise política, Salvini é o que mais defende a ideia de antecipar as eleições. Foi ele quem decidiu declarar como encerrada a aliança de governo com o M5S, embalado pela vitória da Liga na Itália nas eleições parlamentares europeias, em maio.   

O político aposta que, em um novo pleito, chegaria perto de compor sozinho um governo, bastando apenas a aliança com um partido que conquistasse 8% dos votos.   

Amanhã (22), Mattarella se reunirá com as principais legendas italianas. Estão na agenda o M5S, o PD, a Liga, o Força Itália, do ex-premier Silvio Berlusconi e o Irmãos da Itália (FDI). Depois da segunda rodada, o presidente já terá uma noção mais clara de qual curso seguir: dar uma semana para que os partidos negociem uma maioria e proponham o nome de um novo premier ou convocar eleições. O presidente, segundo fontes locais, teria dito a todos os partidos que, caso não ocorram eleições, preferiria a formação de um governo sólido, capaz de aprovar medidas urgentes, e não apenas um governo "tampão", "provisório", com "data de vencimento", o que, para ele, enfraqueceria ainda mais a imagem da Itália. (ANSA)
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