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Cardeais convocam jejum contra Sínodo da Amazônia

16/09/2019 14h19

CIDADE DO VATICANO, 16 SET (ANSA) - O cardeal americano Raymond Burke e o bispo cazaque Athanasius Schneider divulgaram uma declaração na qual convocam "40 dias de jejum" contra supostas "heresias" contidas no documento preparatório para o Sínodo dos Bispos sobre a Amazônia, que acontece de 6 a 27 de outubro, no Vaticano.   

A carta de Burke e Schneider é mais uma ação da ala ultraconservadora da Igreja Católica para fortalecer a oposição a Francisco, criticado sobretudo por defender aberturas a divorciados e gays e por dedicar atenção a temas ambientais.   

Em seu manifesto, o americano e o cazaque citam seis "graves erros teológicos e heresias" no instrumentum laboris do Sínodo e pedem que os fiéis façam 40 dias de jejum entre 17 de setembro e 26 de outubro para impedir que o texto seja aprovado.   

A carta foi publicada pelo National Catholic Register, jornal americano de viés conservador. O cardeal Burke, patrono da Ordem de Malta, e o bispo Schneider, que é auxiliar na Arquidiocese de Astana, também fizeram um apelo para o Papa "confirmar seus irmãos na fé com uma clara rejeição aos erros" do documento preparatório.   

Críticas - Um dos seis pontos questionados por Burke e Schneider é a proposta que prevê a ordenação de homens casados, "preferivelmente indígenas", como padres, em uma forma de combater a escassez de sacerdotes na Amazônia.   

Esses indivíduos, os chamados "viri probati", precisariam ter o respaldo da comunidade local e se mostrar capazes de administrá-la espiritualmente. Para o cardeal e o bispo, tais homens seriam "padres de segunda classe, mas capazes de realizar rituais xamânicos".   

Além disso, Burke e Schneider afirmam que o instrumentum laboris do Sínodo carrega um "panteísmo implícito" ao supostamente sugerir que Deus e a natureza são uma coisa só. Também acusam o documento preparatório de "relativizar a antropologia cristã, ao considerar o homem um mero elo na cadeia ecológica da natureza", e criticam a ideia de que o "desenvolvimento socioeconômico é uma agressão à 'Mãe Terra'".   

"O Magistério rejeita a crença de que o progresso tecnológico está ligado ao pecado", dizem o cardeal e o bispo. As críticas estão em linha com um pronunciamento feito pelo cardeal alemão Walter Brandmuller, em junho passado, quando ele disse que o documento preparatório do Sínodo pode ser considerado "herético".   

Segundo Brandmuller, o instrumento laboris põe em discussão a "revelação divina" e faz uma "agressiva intrusão" em "assuntos puramente mundanos do Estado e da sociedade do Brasil". Essa postura ecoa as preocupações do governo Bolsonaro, que teme ingerência em questões internas do país.   

Além de estudar novas formas de evangelização na Amazônia, o Sínodo deve fazer uma firme defesa da preservação da floresta e da cultura dos povos indígenas, em um momento em que o governo brasileiro é alvo de pressões internacionais por causa do grande número de queimadas na região. (ANSA)
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