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A estratégia de Salvini para conquistar 'plenos poderes'

26/09/2019 18h13

TURIM, 26 SET (ANSA) - Após ter perdido o cargo de ministro do Interior da Itália por causa de uma inesperada aliança entre populistas e sociais-democratas, Matteo Salvini lançou uma nova estratégia para voltar ao poder.   

Ao longo desta semana, as assembleias legislativas de cinco regiões governadas por seu partido, a ultranacionalista Liga, ou por aliados de direita aprovaram moções que pedem a convocação de um referendo para revogar o sistema proporcional em vigor nas eleições italianas.   

O objetivo é introduzir no sistema eleitoral um modelo majoritário que dê o governo ao partido mais votado, independentemente do percentual. Atualmente, a Liga aparece como a legenda mais popular do país, com pouco mais de 30% dos votos.   

Em caso de novas eleições legislativas, Salvini dificilmente conquistaria maioria no Parlamento e teria de formar uma aliança com outros partidos de direita para conseguir governar, incluindo o moderado Força Itália (FI), de Silvio Berlusconi.   

A estratégia está em linha com os planos de Salvini ao tentar derrubar o primeiro-ministro Giuseppe Conte, em agosto. Na ocasião, ele disse durante um comício que queria "plenos poderes" para implantar seu programa de governo.   

Regiões - As regiões que pedem um referendo são Vêneto, Sardenha, Lombardia e Friuli Veneza Giulia, todas comandadas pela Liga, e o Piemonte, cujo governador, Alberto Cirio, é do FI, mas conta com o partido de Salvini em sua coalizão.   

Para se convocar um referendo nacional na Itália, exige-se um pedido formal de pelo menos cinco regiões, porém outras duas ainda devem se juntar ao pleito: Ligúria e Abruzzo. A primeira é governada pelo FI, e a segunda, pelo partido de extrema direita Irmãos da Itália (FDI), mas em ambas a Liga faz parte da situação.   

"É oficial: na próxima primavera [entre março e junho] teremos um referendo sobre o sistema majoritário. Finalmente os 60 milhões de italianos poderão votar. Quem vence governa, e quem perde não enche o saco", disse Salvini nesta quinta-feira (26), durante um comício em Gênova.   

"Fiquem tranquilos, tentarão bloquear esse referendo, mas coletaremos milhões de assinaturas", acrescentou. A estratégia do ex-ministro também tenta evitar uma nova revisão da lei eleitoral que torne mais difícil uma vitória da Liga nas urnas. Ironias - A defesa de um sistema majoritário por parte de Salvini despertou a ironia do ex-primeiro-ministro Matteo Renzi, que em 2016 tentara reduzir os poderes do Senado e criar um sistema que determinasse um vencedor claro após as eleições.   

Seu projeto acabou barrado em um referendo no fim daquele ano, com o líder da Liga capitaneando a campanha pelo "não". "Bom dia, ele demorou três anos para acordar. Salvini é assim, precisa de um tempo. Antes ia ao sul e insultava os meridionais, agora diz que defende o sul. Em três ou quatro anos apoiará os navios das ONGs", afirmou.   

Para fazer as cinco regiões aprovarem o referendo, Salvini precisou convencer o partido de Berlusconi, que hoje é a parte mais frágil da tríade conservadora com FDI e Liga. "O Força Itália tem uma posição diferente sobre a lei eleitoral, mas, para não dividir a centro-direita, demos nosso aval ao acordo", afirmou a líder do FI na Câmara, Mariastella Gelmini.   

O partido de Berlusconi defende que o sistema eleitoral mantenha uma "cota proporcional", já que um modelo 100% majoritário poderia dar a Salvini a possibilidade de dispensar o FI para conseguir governar.   

O sistema proposto pelo ex-ministro do Interior daria uma espécie de "prêmio de maioria" ao partido mais votado nas eleições legislativas. Outra alternativa seria um sistema distrital, onde apenas o candidato mais votado seria eleito, como acontece nos Estados Unidos. (ANSA)
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