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Doria isenta PM de culpa por 9 mortes em Paraisópolis

03/12/2019 17h35

SÃO PAULO, 03 DEZ (ANSA) - O governador de São Paulo, João Doria, afirmou nesta terça-feira (3) que as mortes de nove jovens em um baile funk em Paraisópolis, favela da zona sul de São Paulo, foram causadas por um "descontrole da população" em função de disparos feitos por criminosos.   


Em entrevista coletiva a correspondentes estrangeiros no Palácio dos Bandeirantes, o tucano disse "lamentar" o ocorrido e prometeu punição para os culpados, mas não admitiu falhas no modo de atuação da Polícia Militar. "Não se trata de uma ação policial ou do estado, nenhuma ação policial efetiva que tenha proporcionado a morte de qualquer um deles. Uma situação de descontrole da população... Tinha 5 mil pessoas agrupadas na madrugada em uma região onde nem sequer deveria estar havendo uma manifestação desse tipo, era proibido pela Prefeitura", declarou Doria, ao ser questionado pela ANSA.   


Os nove mortos - oito homens e uma mulher - tinham entre 14 e 23 anos, e nenhum deles morava na comunidade. A PM afastou das ruas seis policiais que participaram da ação e os alocou em funções administrativas.   


"Determinamos uma investigação rigorosa para verificar onde há e onde não há participação policial, mas não generalizando. O governo de São Paulo não generaliza nem se atemoriza diante de situações desse tipo. Analisa, investiga, avalia e decide. E se tiver que punir, punirá. Mas a ação generalizada e muitas vezes oportunista para satisfazer o interesse de alguns e atender o anseio de outros, esse governo não fara", acrescentou.   


O caso é investigado pela Polícia Civil e pela Corregedoria da Polícia Militar, com apoio do Ministério Público. Sobre os vídeos que mostram cenas de abuso policial, Doria disse que ainda não se sabe se as imagens são da madrugada de 1º de dezembro.   


"O que não impede a condenação, porque não há nenhuma justificativa para agressão com as mãos, com cassetete, com arma, de qualquer outra forma, à população", afirmou o governador, ressaltando que "não se pode condenar uma corporação se dois, três, quatro, cinco ou seis policiais" cometeram irregularidades.   


O prazo para conclusão do inquérito é de 40 dias, prorrogáveis por mais 20.   


Versões - O episódio ocorreu na madrugada do último domingo (1º), no Baile da 17, festa famosa em Paraisópolis, a segunda maior favela de São Paulo e lar de 100 mil habitantes. A versão da PM é de que agentes patrulhavam o entorno do "pancadão" para evitar "crimes adjacentes".   


Segundo o coronel Marcelo Vieira Salles, comandante da PM de São Paulo, três policiais da Rocam (Ronda Ostensiva com Apoio de Motocicletas) foram alvejados por dois indivíduos em uma moto quando estavam atrás de um carro em "atitude suspeita".   


"Os policiais militares começaram a acompanhar esses dois infratores da lei. Só que, em 400 metros, eles entraram à direita, e era justamente em um dos pontos dessa festa. E entraram - a narrativa que nos chega é essa - atirando contra os policiais", declarou Salles.   


O coronel disse que os agentes pararam e foram atacados com pedras e garrafas atiradas pela multidão, mas "não atiraram". Os três policiais, mais três de uma segunda patrulha da Rocam, são os seis afastados da rua pela PM. De acordo com Salles, o "gatilho" para a confusão foram os tiros dos "infratores da lei".   


O comandante também reconheceu que os vídeos de abusos policiais são "gravíssimos" e admitiu que a narrativa da PM ainda pode ser alterada pelo surgimento de fatos novos. O secretário-executivo da Polícia Militar, coronel Alvaro Batista Camilo, ainda alegou que "não foi uma ação contra o 'pancadão'".   


Já frequentadores do baile afirmam que os policiais fecharam as ruas onde acontecia a festa e dispararam tiros de armas de fogo, bombas de gás e balas de borracha. Atestados de óbito obtidos pelo portal UOL indicam que duas vítimas, Gabriel Rogerio de Moraes e Luara Victoria Oliveira, morreram por asfixia mecânica por sufocação indireta.   


A PM afirma que as mortes ocorreram por pisoteamento. "Qualquer outro fato, nós vamos apurar", disse o coronel Camilo. (ANSA)
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