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Junta recomenda abertura de processo contra Salvini

20/01/2020 15h43

ROMA, 20 JAN (ANSA) - A Junta de Imunidade Parlamentar do Senado da Itália recomendou nesta segunda-feira (20) a abertura de processo contra o ex-ministro do Interior Matteo Salvini por sequestro de pessoas.   

A solicitação foi enviada pelo Tribunal dos Ministros de Catânia e diz respeito a uma ordem do líder de extrema direita para bloquear o desembarque de 131 migrantes que haviam sido resgatados pela própria Guarda Costeira da Itália, em julho de 2019.   

A votação terminou com empate por cinco a cinco e foi boicotada pelos membros governistas da Junta, que tem 23 integrantes.   

Orientados por Salvini, os cinco senadores da Liga votaram contra o relatório do presidente do colegiado, Maurizio Gasparri, do partido conservador Força Itália (FI), que recomendava a rejeição da denúncia.   

Mas os quatro parlamentares do FI e um do partido de extrema direita Irmãos da Itália (FdI), ambos aliados do ex-ministro, foram favoráveis ao parecer. Em situações de empate em comissões, o regulamento do Senado dá a vitória ao "não".   

Agora a palavra passa ao plenário, a quem cabe a decisão final, já que Salvini tem foro privilegiado como senador.   

Disputa de datas - O objetivo do governo era aprovar a aceitação da denúncia, mas apenas na semana que vem, depois das eleições regionais na Calábria e na Emilia-Romagna, marcadas para 26 de janeiro.   

O temor da base aliada é que Salvini explore o caso politicamente na reta final da campanha, especialmente na Emilia-Romagna, um histórico feudo da esquerda italiana e onde a disputa se anuncia acirrada. O ex-ministro vê a região como uma etapa decisiva em seu projeto de voltar ao poder.   

"Não nos apresentaremos na Junta, já que a convocação de hoje é fruto de graves forçações. Os pedidos de aprofundamento não foram acolhidos, e somos contrários à utilização instrumental que a centro-direita está tentando fazer nas instituições", diz uma nota conjunta das legendas governistas Movimento 5 Estrelas (M5S), Partido Democrático (PD) e Itália Viva (IV).   

A sessão havia sido marcada para 20 de janeiro por uma decisão da Junta de Regulamento do Senado, com voto de minerva da presidente da Casa, Maria Elisabetta Casellati, acusada pela situação de violar seu dever de imparcialidade.   

O caso - O caso diz respeito a uma ordem de Salvini para impedir o desembarque de 131 migrantes que haviam sido resgatados pelo navio Gregoretti, pertencente à própria Guarda Costeira italiana, em julho de 2019, quando ele era ministro do Interior.   

A maior parte dos deslocados internacionais (116) ficou presa na embarcação durante cinco dias, até que Roma fechasse um acordo de acolhimento com outros países da União Europeia.   

A Junta de Imunidade Parlamentar é o órgão responsável por dar pareceres sobre ações judiciais contra senadores, e seu relatório final ainda será votado pelo plenário. Se o Senado aceitar a denúncia, uma eventual condenação pode levar à cassação do mandato de Salvini e de seus direitos políticos.   

A tramitação é idêntica à do caso do navio Diciotti, quando o então ministro do Interior foi denunciado por sequestro ao ter bloqueado uma embarcação da Guarda Costeira que havia socorrido 177 migrantes no Mediterrâneo.   

Na ocasião, Salvini escapou do processo graças aos votos do antissistema M5S, que hoje governa em aliança com a centro-esquerda. Na votação do caso Diciotti, quando estava no poder, Salvini pedira para seus senadores se colocarem contra a aceitação da denúncia.   

Desta vez, ele garantiu que quer a abertura do processo, afirmando estar "pronto" para encarar a prisão. (ANSA)
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