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Luigi Di Maio renuncia à liderança do Movimento 5 Estrelas

Luigi Di Maio, ex-líder do Movimento 5 Estrelas, na Itália - Gianni Cipriano/The New York Times
Luigi Di Maio, ex-líder do Movimento 5 Estrelas, na Itália Imagem: Gianni Cipriano/The New York Times

Roma

22/01/2020 16h06

Após uma série de deserções nas últimas semanas, o ministro das Relações Exteriores da Itália, Luigi Di Maio, renunciou hoje ao cargo de líder político do antissistema Movimento 5 Estrelas (M5S), maior partido da base aliada do premiê, Giuseppe Conte.

Com apenas 33 anos de idade, Di Maio tinha sua liderança questionada por causa das sucessivas derrotas do M5S em eleições regionais e das alianças fechadas pela legenda, primeiro com a extrema-direita e depois com a centro-esquerda.

"Eu confio em vocês, confio em nós e em quem virá depois de mim", disse o ministro durante um discurso no Templo de Adriano, em Roma, para uma multidão de apoiadores do movimento antissistema.

"O M5S é um projeto visionário que nunca havia sido realizado e que não tem igual no mundo. Chegamos ao governo, indicamos um ótimo primeiro-ministro e duas excelentes equipes de ministros."

"Fomos o pesadelo dos analistas, mas ainda não terminou, apenas começou."

Di Maio também pediu a "refundação" do M5S e reivindicou ter defendido a sigla de "aproveitadores" e "armadilhas".

"Temos tantos inimigos, mas os piores são aqueles que, em nosso interior, trabalham não para o grupo, mas para sua visibilidade", ressaltou.

Crise

A renúncia de Di Maio chega após uma crise que derrubou a popularidade do M5S pela metade em menos de dois anos.

Fundado pelo cômico Beppe Grillo e pelo consultor Gianroberto Casaleggio em 2009, o Movimento 5 Estrelas logo chacoalhou a política italiana, até então polarizada entre a centro-esquerda e a centro-direita de Silvio Berlusconi.

Com um discurso antiestablishment, o partido cresceu na esteira do desencanto da população com a política tradicional e calcado na promessa de não fazer alianças com o "sistema", conquistando prefeituras de cidades como Roma e Turim.

Em março de 2018, Di Maio levou o M5S à sua maior vitória, alcançando 32% dos votos nas eleições legislativas e se tornando a maior bancada no Parlamento. Apesar disso, o movimento não garantiu maioria para governar sozinho e teve de abandonar a promessa de não se aliar a partidos tradicionais.

Após meses de negociações, Di Maio fechou uma coalizão com a Liga, legenda de extrema-direita liderada por Matteo Salvini, e conseguiu emplacar o professor universitário Giuseppe Conte, até então desconhecido da maior parte dos italianos, como primeiro-ministro.

O governo M5S-Liga, no entanto, foi marcado pela deriva anti-imigrantes de Salvini, que eclipsou Di Maio e se tornou o político mais popular do país. Além disso, a coalizão fez o movimento perder eleitores mais identificados com a esquerda.

Desde então, o M5S colecionou derrotas em eleições municipais, regionais e europeias e se tornou palco de críticas cada vez mais frequentes à liderança de Di Maio. Em setembro, após o rompimento com Salvini, o movimento fez uma aliança com seu maior inimigo até então, o centro-esquerdista Partido Democrático (PD), o que ampliou a crise interna.

Ao longo das últimas semanas, diversos parlamentares defensores da coalizão com a Liga abandonaram o M5S, deixando Di Maio contra a parede. "Estou ciente de que parte do movimento se desiludiu, se afastou", reconheceu o chanceler.

As pesquisas mais recentes colocam o M5S em terceiro lugar, com metade das intenções de voto da Liga e atrás até do PD, que passa por uma etapa de reestruturação e sofreu cisões nos últimos anos. "O M5S parou de pensar em divisões de direita e esquerda. Nossa força é heterogênea, e governá-la é complicado", admitiu.

Efeitos

A renúncia de Di Maio, que continua como chanceler, pode aumentar a instabilidade do segundo governo Conte, que já nasceu frágil por reunir partidos historicamente inimigos.

Apesar disso, o ministro defendeu que a gestão siga adiante até o fim da legislatura, em 2023. "Precisamos de tempo para arrumar a bagunça feita por quem governou por 30 anos antes de nós", disse.

Di Maio também garantiu estar "orgulhoso" por ter indicado Conte como primeiro-ministro. "Ele é a mais alta expressão dos cidadãos que nunca foram da política e se fazem Estado", afirmou.

O movimento terá o senador Vito Crimi como "regente" até a escolha do próximo líder político, ainda sem prazo definido. Conte e o ex-deputado Alessandro Di Battista estão entre os cotados para o lugar de Di Maio.