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Uma italiana foi vítima de feminicídio a cada 3 dias em 2020

24/11/2020 16h06

ROMA, 24 NOV (ANSA) - A Itália registrou uma queda no número absoluto de feminicídio no país nos últimos 10 meses de 2020 em comparação com o mesmo período do ano anterior: foram 91 vítimas até agora, contra as 99 contabilizadas em 2019, ou seja, uma mulher foi morta a cada três dias.   

Os dados foram divulgados nesta terça-feira (24) no relatório do instituto de pesquisas sociais Eures sobre feminicídio na Itália.   

Segundo o estudo, a redução na quantidade de mortes deve-se principalmente a uma diminuição do número de vítimas de crimes comuns, que passou de 14, em 2019, para 3 no período de janeiro a outubro deste ano.   

No entanto, os casos de feminicídio familiares estão substancialmente estáveis (de 85 para 81), mas também registra um aumento recorde na incidência. Ao todo, 56 mulheres foram mortas por seus cônjuges, como no ano anterior. Já o número de vítimas femininas mortas no bairro em que vivem aumentou de zero para quatro.   

O contexto de maior risco para as mulheres está relacionado aos parceiros ou ex-parceiros, que registra uma incidência recorde de 69,1% dos assassinatos, um aumento de mais de três pontos percentuais em relação ao ano anterior (65,8%).   

Além disso, há uma incidência recorde de feminicídios no contexto familiar, que neste ano chega a 89%, ultrapassando o limite de 85,8% em 2019. Os autores dos crimes em 94% dos casos são homens.   

De acordo com o relatório, 3.344 mulheres foram mortas em casos de feminicídio na Itália no século 21, entre o início de 2000 e 31 de outubro de 2020, o equivalente a 30% dos 11.133 homicídios voluntários pesquisados e processados pelo Instituto Eures, com colaboração do Serviço de Análise Criminal da Direção Central da Polícia Criminal do Ministério do Interior.   

A incidência dos casos têm registrado um crescimento constante ao longo dos anos, devido a uma queda acentuada dos homicídios, como o crime comum e organizado, em algumas áreas, onde as vítimas são principalmente homens, e uma diminuição mais atenuada dos homicídios familiares, onde as vítimas são principalmente mulheres.   

"Alguns dados mostram que algo está começando a funcionar melhor do que no passado, mas estamos cientes de que o Código Vermelho não é um remédio. Os dados sobre o feminicídio nos dizem que ainda há um longo caminho a percorrer", afirmou o primeiro-ministro da Itália, Giuseppe Conte, ao apresentar o relatório "Um ano do Código Vermelho" sobre medidas contra a violência à mulher.   

"O Código é apenas uma peça fundamental muito importante que diz respeito ao momento em que a violência já ocorreu: não basta.   

Uma intervenção séria requer tempo, uma abordagem sinérgica e a consciência de que o caminho para reverter dará frutos com o tempo e isso é o caminho que, como governo, juntamente com os ministros, nos comprometemos a trilhar", acrescentou o premiê.   

Segundo Conte, devido às medidas restritivas contra o novo coronavírus, foi criado "involuntariamente" um desconforto profundo que contribuiu para um aumento do fenômeno do feminicídio, "triplicando durante o lockdown, o que resultou na morte de uma mulher a cada dois dias, mesmo com uma diminuição nos homicídios".   

No contexto da violência familiar durante o lockdown, o bloqueio provou ser uma armadilha para a vítima, que em 4 de 5 casos vive com seu assassino. Entre os primeiros 10 meses de 2019 e 2020, foram registrados 49 e 54 crimes, respectivamente, um aumento de 10,2%. Ao mesmo tempo, o número de vítimas que não vivia com seu assassino caiu de 36 para 26, apresentando uma redução de 27,8%.   

Entre março e 21 de abril, as 26 vítimas de feminicídio viveram com seu criminoso. (ANSA)
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