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Nasa envia sonda Lucy rumo a asteroides troianos; entenda por que importa

Lucas Carvalho

De Tilt, em São Paulo

16/10/2021 10h02

Sem tempo, irmão

  • Lançamento neste sábado (16) ocorreu como planejado, às 6h34 (horário de Brasília)
  • Às 8h09, após queimar todo o seu combustível, a sonda Lucy se separou do foguete e seguiu viagem
  • Nos próximos 12 anos, Lucy visitará oito asteroides, incluindo os misteriosos "troianos" pela 1ª vez

Na manhã deste sábado (16), a Nasa deu início a uma de suas missões mais importantes na última década. A agência espacial norte-americana lançou ao espaço a Lucy, uma nave que vai explorar os misteriosos asteroides troianos na órbita de Júpiter.

O lançamento ocorreu como planejado: exatamente às 6h34 (horário de Brasília), o foguete Atlas V, da United Launch Alliance, foi lançado a partir do Cabo Canaveral, na Flórida, carregando a sonda Lucy rumo ao espaço sideral.

Todas as etapas seguintes do lançamento também seguiram o plano: os quatro estágios do foguete —que geram a propulsão para levar a sonda até a órbita da Terra— se separaram sem problemas. Às 7h38, o último estágio se separou e Lucy seguiu viagem só com o impulso da gravidade.

A missão começou "de verdade", segundo a Nasa, às 8h09, quando a sonda abriu seus painéis solares, que servirão para gerar energia para a sonda se comunicar com o controle da missão na Terra.

Nos próximos 12 anos, Lucy deve visitar oito asteroides, apontando suas câmeras e espectrômetros para cada um com o objetivo de estudar suas composições químicas e superfícies. Nenhuma outra missão espacial na história foi lançada para tantos destinos diferentes numa viagem só.

Os asteroides troianos são duas nuvens de rochas, todas batizadas em referência a personagens da clássica história da Guerra de Troia, da mitologia grega, que giram em torno do Sol acompanhando a órbita do planeta Júpiter há milhares de anos.

Cientistas acreditam que esses asteroides são "restos" da formação do Sistema Solar, há 4 bilhões de anos, e podem nos dar pistas sobre as origens da Terra. Já a missão Lucy tem esse nome em homenagem ao famoso fóssil de um Australopithecus de 3,2 milhões de anos descoberto em 1974.

"A comunidade científica queria ver esses objetos de perto por muito tempo", declarou Cathy Olkin, vice-investigadora principal da missão Lucy, durante a transmissão do lançamento. "É muito importante entender a formação do Sistema Solar para que possamos entender de onde nós viemos."

Os próximos passos

Os asteroides troianos ficam localizados em dois grupos que giram em torno do Sol pegando carona na órbita de Júpiter. Uma fica 60 graus à frente do planeta e a outra fica 40 graus para trás, formando uma espécie de "escolta".

O primeiro asteroide a receber a visita da sonda não será um troiano, mas sim o Donaldjohanson, uma rocha de 4 quilômetros de diâmetro localizada no Cinturão de Asteroides, entre Marte e Júpiter —o nome difícil é uma homenagem ao paleontólogo Donald Johanson, que descobriu o esqueleto Lucy nos anos 70.

Depois dessa pequena parada, aí, sim, Lucy vai seguir caminho para os asteroides troianos que seguem Júpiter. Os primeiros serão em 2027: Eurybates e seu pequeno satélite, Queta, em agosto; e Polymele em setembro. Em 2028, será a vez de Leucus, em abril, e Orus, em novembro.

Antes de seguir viagem, Lucy vai voltar para a Terra e dar mais uma volta em nossa órbita para pegar mais impulso para o resto da missão. Nesse tempo, os troianos devem mudar de posição no espaço. Quando a sonda voltar a Júpiter, acabará entrando na segunda nuvem de asteroides.

Em março de 2033, Lucy deve finalmente concluir a última etapa da missão: encontrar-se com os asteroides Patroclus e Menoetius, uma dupla de rochas presas num sistema gravitacional binário que faz com que eles voem sempre juntos.

lucy - Divulgação/Nasa - Divulgação/Nasa
O trajeto da sonda Lucy em sua missão de 12 anos rumo aos asteroides troianos na órbita de Júpiter
Imagem: Divulgação/Nasa

No entanto, a espaçonave foi projetada para continuar seguindo o seu itinerário repetidamente por 1 milhão de anos, enviando mais informações à Terra a cada "volta" pelos asteroides troianos. Isso se Lucy continuar funcionando bem até lá.

Por que importa?

Além de nos dar mais pistas sobre as origens do Sistema Solar —e, consequentemente, da Terra e toda a vida que existe no planeta—, a missão Lucy também espera deixar um "legado".

Assim como as sondas Pioneer e Voyager, que levam consigo placas e discos de ouro com mensagens para possíveis civilizações extraterrestres que elas possam encontrar fora do Sistema Solar, Lucy também levará consigo um "recadinho" da humanidade.

Trata-se de uma placa com mensagens criadas por autores premiados com o Nobel de Literatura, poetas norte-americanos e até membros dos Beatles —cuja música "Lucy In the Sky With Diamonds" também serviu de inspiração para o nome da missão.

Além disso, a placa tem uma representação do Sistema Solar como o conhecemos hoje e especificações da trajetória de Lucy. A ideia é que a mensagem sirva como uma "cápsula do tempo" para futuras gerações de terráqueos que encontrem a sonda voando por aí daqui algumas centenas ou milhares de anos.