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Papa condena 'muros' e ressurgimento de nacionalismo na Europa

02/12/2021 16h28

VATICANO, 2 DEZ (ANSA) - O papa Francisco criticou nesta quinta-feira (2) os "muros do medo" e o ressurgimento dos interesses nacionalistas na Europa, lembrando os dramas no Mediterrâneo e os impactos da pandemia de Covid-19.   

A declaração foi dada durante sua viagem ao Chipre, em um encontro com sacerdotes, religiosos, diáconos, catequistas, associações e movimentos eclesiais do Chipre, na Catedral Maronita de Nicósia.   

"O continente europeu precisa de reconciliação e unidade, tem necessidade de coragem e ímpeto para seguir em frente. Pois não serão os muros do medo e os vetos ditados por interesses nacionalistas que ajudarão o seu progresso, nem a recuperação econômica por si só poderá garantir a sua segurança e estabilidade", afirmou o Pontífice.   

Francisco fez ainda alusão ao Mediterrâneo, "infelizmente um lugar de conflitos e tragédias humanas".   

"Na sua beleza profunda, é o 'mare nostrum', o mar de todos os povos que se banham nele para estar ligados, não divididos.   

Chipre, encruzilhada geográfica, histórica, cultural e religiosa, tem esta posição para implementar uma ação de paz.   

Que seja um estaleiro aberto de paz no Mediterrâneo", apelou.   

Perante aos religiosos, autoridades políticas, representantes da sociedade civil e membros do corpo diplomático, o líder da Igreja Católica apresentou-se como "peregrinos" em um "país geograficamente pequeno, mas grande pela história", a "porta oriental da Europa e a porta ocidental do Médio Oriente".   

"É uma porta aberta, um porto que une: Chipre, encruzilhada de civilizações, traz em si a vocação inata ao encontro, favorecida pelo caráter acolhedor dos cipriotas", acrescentou.   

O Papa enfatizou ainda a presença de muitos migrantes no país, com a porcentagem mais significativa entre os países da União Europeia, considerando "importante tutelar e promover todos os elementos da sociedade, de forma especial aqueles que são estatisticamente minoritárias". Os católicos representam cerca de 4,5% da população do Chipre.   

Além disso, o argentino destacou o impacto negativo da pandemia na atividade turística e as consequências da crise econômico-financeira na "pérola" do Mediterrâneo.   

"Neste período de retoma, porém, não há de ser a ânsia de recuperar o perdido que pode garantir um desenvolvimento sólido e duradouro, mas o empenho em promover a saúde da sociedade, particularmente através duma decidida luta à corrupção e às chagas que lesam a dignidade da pessoa; penso, por exemplo, no tráfico de seres humanos", ressaltou.   

Francisco foi recebido pelo patriarca de Antioquia dos Maronitas, cardeal Béchara Boutros Raï, e pelo arcebispo de Chipre dos Maronitas, d. Selim Jean Sfeir. Na ocasião, ele lembrou que "não existem muros na Igreja Católica, é uma casa comum, é o lugar das relações, é a convivência da diversidade", "A Igreja no Chipre vive de braços abertos: acolhe, integra, acompanha. É uma mensagem importante também para a Igreja em toda a Europa, marcada pela crise da fé", afirmou Jorge Bergoglio, destacando a necessidade de uma "Igreja fraterna, que seja instrumento de fraternidade para o mundo".   

A Igreja maronita, particularmente ligada ao Líbano, conta atualmente com cerca de três milhões de fiéis, sendo dois terços migrantes.   

"Quando penso no Líbano, sinto tanta preocupação com a crise em que o país se encontra e me dou conta da grande tribulação de um povo cansado e provado pela violência e o sofrimento", lamentou.   

Por fim, Jorge Bergoglio enfatizou o papel do Chipre no continente europeu, como lugar de "entrelaçamento de povos e mosaico de encontros". "Com a vossa fraternidade, poderá recordar a todos, à Europa inteira que, para construir um futuro digno da humanidade, é preciso trabalhar juntos, superar as divisões, derrubar os muros e cultivar o sonho da unidade", insistiu.   

O Santo Padre iniciou sua visita de quatro dias ao Chipre e à Grécia nesta quinta-feira (2) e já deu o tom de sua visita principalmente ao se reunir com dois grupos de refugiados e migrantes antes do embarque. (ANSA)
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