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O que está em jogo na eleição para presidente da Itália?

22/01/2022 11h20

SÃO PAULO, 22 JAN (ANSA) - Por Lucas Rizzi - O Parlamento da Itália começa na próxima segunda-feira (24) a eleição que vai definir o próximo presidente da República, um pleito que pode provocar repercussões inclusive no governo do premiê Mario Draghi.   

O colégio eleitoral é formado por 1009 votantes, incluindo 630 deputados, 321 senadores e 58 delegados regionais, que vão definir o chefe do Estado pelos próximos sete anos.   

Mais do que ser uma instituição decorativa, a Presidência da República tem poder de interferir diretamente nos rumos do país, nomeando premiês, barrando indicações de ministros e até cobrando a aprovação de leis do interesse da nação.   

Porém a importância dessa eleição vai além disso: escolher um presidente demanda intensas negociações entre forças políticas muitas vezes rivais e pode até ensejar uma crise de governo.   

O próprio Draghi é um dos mais cotados para substituir Sergio Mattarella no Palácio do Quirinale, mas sua eventual eleição deixaria um vácuo no governo e a seguinte pergunta: quem seria o primeiro-ministro em seu lugar? No poder há um ano, Draghi encabeça uma coalizão de união nacional que vai da esquerda à extrema direita e, até o momento, tem conseguido lidar sem sustos com as divergências latentes dentro de seu gabinete.   

No entanto, é incerto quem poderia substituir Draghi no Palácio Chigi e manter de pé até o fim da legislatura, em 2023, uma coalizão tão heterogênea, afastando o risco de eleições antecipadas e de mais incertezas.   

"No momento, não apareceram nomes com esse perfil, mas faltam alguns dias, e espero que as partes possam chegar a um acordo em torno de uma figura que mantenha a unidade da base", disse à ANSA o senador Fabio Porta, representante da comunidade italiana no Brasil e membro do Partido Democrático (PD), sigla de centro-esquerda que integra o governo.   

Em declarações à imprensa nas últimas semanas, políticos da situação chegaram a cogitar uma reforma ministerial para incluir no governo os líderes de todos os partidos da base, algo que não acontece atualmente.   

Essa seria uma forma de dar mais peso a um gabinete sem Draghi, mas aumentaria a pressão sobre um eventual substituto, que poderia ter em seu gabinete líderes como os ex-premiês Enrico Letta, Matteo Renzi e Giuseppe Conte e o ex-ministro do Interior Matteo Salvini.   

Berlusconi - Outro nome bastante cotado para a Presidência é o do ex-primeiro-ministro Silvio Berlusconi, mais em função de seus próprios esforços em busca de votos do que pela possibilidade de ser eleito.   

Aos 85 anos de idade, o ex-premiê vem promovendo uma ativa campanha para convencer parlamentares a apoiá-lo, mas hoje conta apenas com o endosso dos partidos de direita e ultradireita, e correndo o risco de ver esse apoio corroído pelo voto secreto.   

De fato, tanto o antissistema Movimento 5 Estrelas (M5S) quanto o PD rechaçam votar em Berlusconi, de forma que uma eventual vitória do ex-primeiro-ministro também poderia decretar o fim do atual governo.   

O conservador Força Itália (FI), partido de Berlusconi, faz parte da coalizão que sustenta Draghi, mas vem tentando eleger seu líder à revelia de M5S e PD, que também integram a base aliada.   

Ao longo dos últimos dias, o Partido Democrático deixou claro que a eleição de Berlusconi representaria o fim da atual aliança de governo.   

E as objeções ao ex-premiê vão além de seu passado controverso e polarizador e de seu histórico de problemas com a Justiça, mas passam também pelo fato de ser incomum que líderes partidários sejam eleitos para a Presidência, um cargo mais institucional do que político.   

"Existe um risco de repercussão no governo se a eleição for feita com a prevalência de uma parte sobre a outra", alertou Porta - M5S e PD defendem a indicação de uma figura de perfil institucional e com capacidade de mediação.   

Uma solução que evitaria riscos para o governo Draghi seria reeleger Sergio Mattarella, mas o próprio presidente já indicou que não quer ficar mais sete anos no cargo. Em 75 anos de república na Itália, apenas um chefe de Estado foi reeleito: Giorgio Napolitano, em 2013, e ele renunciaria menos de dois anos depois, abrindo espaço para Mattarella.   

Também são cotados para o cargo a jurista independente e atual ministra da Justiça, Marta Cartabia; a presidente do Senado, Elisabetta Casellati, de centro-direita; o senador Pier Ferdinando Casini, de centro; o ex-premiê e atual comissário de Economia da União Europeia, Paolo Gentiloni, de centro-esquerda; o ex-primeiro-ministro e atual vice-presidente da Corte Constitucional, Giuliano Amato, também de centro-esquerda; e a vice-governadora da Lombardia, Letizia Moratti, de centro-direita. A Itália nunca teve uma mulher como presidente.   

Para ser eleito, um candidato precisa obter pelo menos dois terços dos votos (673), mas esse patamar vale apenas para os três primeiros escrutínios. Se o pleito chegar até a quarta votação, passa a ser necessária somente a maioria simples (505).   

Esse sistema é uma maneira de incentivar os partidos a buscar o consenso mais amplo possível. "Espero que não seja necessário chegar à quarta votação. É sempre positivo tentar eleger o presidente com a maioria mais ampla possível. Trata-se da representação da unidade do país e do guardião da Constituição", afirmou Porta. (ANSA).   

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