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Após recuperar bebê na Holanda, brasileira desiste de 'sonho' europeu

"Não tenho a menor intenção em voltar à Europa depois deste pesadelo. Fico pensando como as pessoas se enganam achando que aqui é um paraíso. Pode ser, para quem tem papel (documentos regularizados)", disse Ariane - BBC
"Não tenho a menor intenção em voltar à Europa depois deste pesadelo. Fico pensando como as pessoas se enganam achando que aqui é um paraíso. Pode ser, para quem tem papel (documentos regularizados)", disse Ariane Imagem: BBC

03/02/2012 15h21

Após ficar em situação precária, depender de ajuda para ter onde dormir e ter tido que recuperar seu bebê que estava em poder da avó holandesa, uma brasileira decidiu deixar seu "pesadelo europeu" para trás e retornou ao Brasil na última terça-feira, na companhia do filho de cinco meses.

Ariane Crespo, de 25 anos, é uma entre centenas de brasileiros que, após passarem dificuldades como imigrantes, acabam pedindo ajuda para retornar aos seus países de origem. Na Holanda, no ano passado, a Organização Internacional de Migrações (OIM) ajudou 250 brasileiros, em condições semelhantes, a regressarem ao país.

"Não tenho a menor intenção em voltar à Europa depois deste pesadelo. Fico pensando como as pessoas se enganam achando que aqui é um paraíso. Pode ser, para quem tem papel (documentos regularizados)", disse Ariane, pouco antes de regressar ao Brasil.

A mineira havia viajado à Europa em 2008 para casar-se com um italiano, relação que durou apenas dois anos e meio.

Foi quando ela voltou a ter contato com um antigo namorado holandês, que conhecera seis anos atrás, na Bahia. Decidiu ir para a Holanda em outubro de 2010, acreditando que sua permissão de residência na Itália seria válida para trabalhar e estudar, o que não aconteceu.

Ariane engravidou, mas seu namorado holandês acabou sendo preso após uma briga de rua. Ao mesmo tempo, uma complicação nos rins durante a gravidez a impediu de retornar ao Brasil.

Ajuda de terceiros

A mineira ficou na Holanda amparada por amigas, freiras católicas e ONGs brasileiras. Até que a criança nasceu, em setembro de 2011, e o advogado de Ariane entrou com o pedido de permanência baseado na ascendência holandesa da criança.

"Foi um período difícil. Eu não sabia como iria comprar leite para o meu filho. Vendi o anel que ganhei de minha mãe (já morta) e garanti a alimentação dele por duas semanas. Eu não estava irregular no país por ter um processo em andamento, ao mesmo tempo em que, como brasileira, não podia me registrar na prefeitura para receber assistência social do Estado holandês", contou.

Após o nascimento de Brian Junior, a avó holandesa da criança ofereceu casa e apoio a Ariane, mas a relação entre ambas foi conflituosa. Ariane afirma que, por descumprir exigências da avó, a holandesa a denunciou ao Conselho Tutelar de Menores local para poder ficar com o bebê.

A brasileira diz que retornou com o filho ao abrigo temporário das freiras, mas aceitou que a avó visitasse a criança.

Segundo a brasileira, a avó pediu que o bebê dormisse uma noite na casa dela, mas teria se recusado a devolver a criança no dia seguinte. Ela teria ligado a Ariane comunicando que denunciaria às autoridades holandesas que a brasileira havia abandonado o filho. Ariane recorreu, então, à polícia.

Resgate

As primeiras investigações constataram que não havia indícios de que Ariane maltratasse o filho e que a criança ainda não havia sido reconhecida pelo pai holandês. Portanto, juridicamente, a avó não tinha parentesco com a criança, segundo declarações do policial responsável pelo caso à BBC Brasil.

As autoridades iniciaram então uma ação para resgatar o bebê. Os policiais passaram por endereços diferentes até encontrar a avó, que devolveu a criança ao receber ordem de prisão por tentativa de sequestro.

Nas últimas três semanas, mãe e filho ficaram em vários lugares secretos até que foram concedidas passagens de retorno ao Brasil pela OIM, pelo programa Repatriamento Voluntário.

Por meio de uma ONG, a mineira pediu recursos do fundo europeu Retorno sob Medida (MbT, sigla em holandês), que ajuda na reintegração de migrantes retornados a seu país de origem. Ariane espera obter o dinheiro para seguir um curso de guia de turismo ou recepcionista de hotel, ou para vender sabonete artesanal.

"Deixo para trás o que eu trouxe: meu laptop e meus documentos, que desapareceram, mas levo comigo meu bebê, que sei vai ser a razão para eu recomeçar minha vida no Brasil", disse a brasileira.