Reforma em banheiro da Casa Rosada gera polêmica na Argentina
O valor que teria sido gasto na reforma de um dos banheiros da Casa Rosada, a sede da Presidência da Argentina, tem gerado polêmicas na imprensa do país.
Segundo a imprensa, o governo teria destinado 2,4 milhões de pesos (cerca de R$ 2,2 milhões) para "restaurar, iluminar e remodelar" um banheiro no primeiro andar do edifício, junto aos gabinetes da presidente e de dois de seus principais assessores.
A imprensa cita informações do Diário Oficial ao afirmar que os recursos preveem "a compra de mármore de carrara, mosaicos para o piso, suportes para pendurar quadros e iluminação computadorizada".
"(A presidente) Cristina (Kirchner) acha que é a reencarnação de um grande arquiteto egípcio. E parece que de todas as reformas que determinou para a Casa Rosada faltava uma que pudesse ser chamada de faraônica, como a deste banheiro", publicou a revista Fortuna, do Grupo editorial Perfil, em referência a um discurso recente, no qual a presidente disse que se sentia a "reencarnação de um arquiteto egípcio".
"No Diário Oficial não fica claro qual dos banheiros será remodelado, mas está claro que é um espaço amplo, já que foram solicitados 340 metros quadrados de mosaico para o piso", disse o jornal La Nación.
O assunto era, nesta quarta-feira, um dos mais comentados nas rádios criticas do governo (como Mitre, do Grupo Clarin) e no Twitter. "Se sobrarem uns azulejos, mande para minha casa", escreveu usuário to Twitter.
Outras obras
O governo, porém, diz que as notícias são incorretas. "Não somos tão idiotas para gastar 2,4 milhões de pesos em um banheiro. Olhem o diário oficial", afirmou secretário geral da Presidência, Oscar Parrilli.
Quando as notícias começaram a ser veiculadas, Parrilli disse que este total de recursos será destinado a um conjunto de obras, que incluem a cozinha e a copa do palácio presidencial.
O jornal Clarin, no entanto, publicou em sua primeira página nesta quarta-feira que as obras da copa, cozinha e banheiro custarão 10 milhões de pesos.
Em declarações à agencia oficial Telam, Parrilli voltou a afirmar que os 2,4 milhões de pesos serão destinados a um conjunto de obras e não só a um banheiro.
"Estes 2,4 milhões de pesos que dizem que serão para um banheiro foram para restauração, iluminação, pintura, acessos e escadas para Sala dos Jornalistas, a restauração do Salão Eva Perón, a restauração do gabinete do secretário de Assuntos Políticos, melhorias na área de fotografia, corredores da Casa Rosada", disse Parrili.
A Casa Rosada é um edifício do século 19 e suas obras de reforma e restauração foram iniciadas durante a gestão de Cristina Kirchner, reeleita em outubro de 2011.
Disputa
A polêmica em torno da reforma na Casa Rosada é mais um capítulo na disputa entre o governo de Cristina Kirchner e alguns setores da imprensa.
Os jornais Clarin, La Nación e Perfil costumam ser apontados pelo governo como "opositores" e são, junto ao jornal El Cronista, os que menos recebem recursos da publicidade oficial, de acordo com dados apresentados por diretores do Grupo Clarin (de mídia) durante entrevista, terça-feira, aos correspondentes estrangeiros, em Buenos Aires.
Esta semana a Comissão de Liberdade de Expressão da Câmara dos Deputados, onde o governo tem maioria, emitiu um parecer para "repudiar" a primeira página da revista Noticias (do grupo Perfil), que dizia: "El goce de Cristina" ("O gozo de Cristina") em um desenho sugestivo de prazer.
A nova polêmica ocorre em um momento em que os principais assuntos ligados ao país (na mídia tradicional e nas redes sociais) são um protesto contra o governo marcado para 8 de novembro (batizado de 8N) e o dia 7 de dezembro (7D) quando o governo espera que entre em vigor a lei de audiovisual.
A lei, que limita o número de canais de TVs e de rádios que podem ser mantidos por grupos de telecomunicações, foi aprovada no Congresso Nacional, mas o Grupo Clarin entrou na Justiça contra dois dos artigos. A Suprema Corte de Justiça analisa a questão e deve dar uma resposta até 7 de dezembro.
Economia
As disputas que envolvem setores da mídia se aprofundam em um momento no qual a Argentina tem sido notícia na imprensa internacional também por outro assunto - sua economia.
A oposição local critica a falta de dados confiáveis da economia, como a inflação, como disse à BBC Brasil o deputado Ricardo Gil Laavedra, da UCR. "É muito preocupante que o governo não leve estas questões a sério. É uma questão econômica e também institucional e de transparência de um país", disse.
Entre os empresários, a reclamação é em relação às barreiras comerciais que dificultam a chegada dos produtos que necessitam às prateleiras dos seus negócios, alem das exigências de "exportar para importar" para exportação de suas mercadorias.
"Mas, por favor, não coloque meu nome porque tenho medo de represálias por parte de setores do governo", disse um empresário de uma loja de departamentos.
De acordo com a consultoria Abeceb, o comércio administrado pela Argentina provocou, principalmente, a redução das exportações do Brasil para o mercado vizinho.
Segundo economistas, após anos seguidos de forte expansão, a economia argentina registra desaceleração provocada por questões internacionais e por suas próprias medidas - dizem críticos.
"Mas seu ritmo depende principalmente da recuperação da economia brasileira", disse o ex-secretário de Finanças, Guillermo Nielsen.
O Brasil é o principal sócio comercial e econômico da Argentina.
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