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Crise na Ucrânia: Punição a Putin é teste para Obama

O russo Vladimir Putin (à direita) e o norte-americano Barack Obama em encontro em junho de 2013 - Alexei Nikolsky/EFE
O russo Vladimir Putin (à direita) e o norte-americano Barack Obama em encontro em junho de 2013 Imagem: Alexei Nikolsky/EFE

Mark Mardell

Editor da BBC News, em Washington

03/03/2014 07h17

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, ordenou medidas destinadas a prejudicar a economia da Rússia e isolar o país, como retaliação ao envio de tropas russas à Ucrânia.

Autoridades americanas dizem que o presidente russo Vladimir Putin tomou uma péssima decisão, que vai deixar o seu país em uma posição muito mais fraca.

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As manifestações começaram em novembro, depois que o então presidente Viktor Yanukovich anunciou sua decisão de não assinar um acordo de cooperação com a União Europeia, que poderia, no futuro, ter a Ucrânia como um de seus membros.

A questão, no entanto, é mais complexa e tem raízes na história recente do país, nascido após a desintegração da ex-União Soviética.

O país está no meio de uma disputa de forças entre grupos que querem mais proximidade com a União Europeia e outros que têm mais afinidade com a Rússia. Yanukovich foi deposto em fevereiro, e novas eleições foram convocadas.

As atenções agora se viraram para a Crimeia, região autônoma da Ucrânia cuja maioria é alinhada à Rússia, que convocou um referendo sobre sua soberania.

A crise política na Ucrânia acaba assim por ser um teste crítico da liderança de Obama, que vai demonstrar o quanto os Estados Unidos ainda têm de influência no mundo.

O secretário de Estado americano John Kerry está a caminho da capital ucraniana, Kiev, enquanto os Estados Unidos tentam coordenar uma resposta internacional para colocar pressão sobre o presidente Putin.

Mas altos funcionários do governo americano praticamente já descartaram a possibilidade de uma intervenção militar.

Lentidão

Os críticos de Barack Obama acusam o presidente de agir muito lentamente e, mais uma vez, permitir que alguém cruze o limite de uma "linha vermelha" traçada por ele.

Na sexta-feira à noite, Obama advertiu que haveria "custos" à intervenção militar russa na Ucrânia. Horas mais tarde, as tropas russas entraram em território ucraniano. Os EUA agora dizem que há mais de 6.000 soldados russos ocupando a região da Crimeia.

Há quem diga que Obama enfrenta um problema de credibilidade, o que tem encorajado Putin.

Certamente, o Ocidente parece mal preparado para esta escalada da crise que deveria ter sido prevista pelos líderes ocidentais. Afinal, era óbvio que Putin não iria desistir facilmente.

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Mas o fator Obama pode estar sendo superestimado aqui. Vale a pena lembrar que Putin foi à guerra na Geórgia quando George W. Bush estava no Salão Oval, e ninguém achava que o presidente americano era um pacifista.

Mas é claro que Bush pensou duas vezes antes de lutar contra outra potência nuclear por uma antiga parte do ex-império soviético.

Altos funcionários do governo reagiram furiosamente à sugestão de que o comportamento passado de Obama tenha encorajado Putin.

Eles dizem que a política do líder russo na Ucrânia falhou, e que tudo que lhe restou foi o uso do poder militar. Para eles, o mundo deveria culpá-lo, e não a Obama.

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Pressão

Deve haver muito mais articulação nos próximos dias, com os Estados Unidos tentando coordenar um aperto internacional sobre a Rússia.

O primeiro ponto de pressão é a reunião de junho do G8, em Sochi, balneário russo que acaba de sediar os Jogos Olímpicos de inverno. Estados Unidos, Canadá e Reino Unido cancelaram reuniões de preparação para o encontro.

O plano alternativo é enviar observadores internacionais para se certificar de que os russos que vivem na Ucrânia estão seguros e não correm perigo. A oferta dificilmente terá apelo junto a Putin.

Vale a pena lembrar que a Crimeia foi uma parte da Rússia a partir de 1783 e que nos primeiros anos da União Soviética era uma república autônoma dentro da federação. O líder soviético Nikita Khrushchev transferiu o território à Ucrânia em 1954.

Agora Putin o quer de volta. Retirar-se seria um fracasso e uma humilhação para ele.

O problema para Obama é que sanções econômicas levam muito tempo para funcionar. Putin pode simplesmente não se importar com a pressão diplomática - ele parece gostar de incomodar os líderes ocidentais.

É fácil ver como a situação poderia ficar muito pior - e não é clara a forma como Obama reagiria a um aprofundamento da crise.