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Naufrágio na Coreia: comunicação entre balsa e controle tráfego revela indecisão

20/04/2014 12h07

As últimas comunicações entre a balsa sul-coreana que afundou na quarta-feira e os serviços de tráfego revelam pânico e indecisão por parte da tripulação.

Na transcrição recém-divulgada pela guarda costeira, um membro da tripulação questiona repetidamente se haveria barcos para resgatar os passageiros prontamente caso a evacuação fosse ordenada.

Às 09:24 na hora local - 29 minutos após a balsa emitir seu primeiro pedido de socorro - um controlador diz: "Por favor, vá para fora e diga para os passageiros usarem coletes salva-vidas e mais roupa''.

Mapa do naufrágio na Coreia do Sul - Arte/UOL - Arte/UOL
Imagem: Arte/UOL

 

O tripulante não identificado diz: "Se esta balsa for evacuada, vocês serão capazes de resgatá-los?"

"Ao menos faça que vistam os coletes salva-vidas e que escapem,'' o controlador de tráfego responde.

Como ele continua a instar a tripulação para se preparar para a evacuação, o tripulante duas vezes pergunta se os passageiros seriam "resgatados imediatamente".

Apenas às 9:37 - alguns segundos antes da última comunicação - ficou claro para os controladores que a evacuação tinha sido ordenada.

No sábado, o capitão da balsa, Lee Joon- seok, disse que não deu ordens imediatas de evacuação quando o barco começou a virar porque temia que os passageiros fossem arrastados pelo mar, que tem correntes fortes no local do acidente.


"Eu me curvo em desculpas às famílias das vítimas", disse. "A corrente era muito forte e a temperatura da água do oceano estava fria. Eu pensei que, se as pessoas deixaram a balsa sem julgamento adequado, se não estivessem usando colete salva-vidas, e mesmo se estivessem, seriam arrastadas e passariam por muitas outras dificuldades."

Protestos

As famílias dos passageiros protestaram furiosamente contra a operação de resgate neste domingo - o número de mortes confirmadas agora passa de 50.

A polícia parou até 100 pessoas que tentavam deixar a ilha Jindo, ao sul do país, com a intenção de marchar até a capital Seul, 420 quilômetros ao norte.

Depois de mais de três dias tentando, os mergulhadores finalmente entraram na balsa e recuperaram 26 corpos, elevando o número de mortos para 58. Contudo, outro 244 pessoas ainda estão desaparecidas desde o acidente de quarta-feira. Outros 174 passageiros foram resgatados.

Centenas de familiares estão acampados em um ginásio na ilha, aguardando notícias da operação de resgate.

Ocorreram tumultos quando alguns tentaram atravessar uma ponte para o continente, supostamente para marchar até a sede presidencial em Seul.

Parentes estão ansiosos para que os corpos sejam recuperados antes de se decompor. "Traga-me o corpo para que eu possa ver o rosto e abraçar o meu filho", gritou uma mulher.

Jonathan Head, correspondente da BBC em Jindo, contou que mesmo o primeiro-ministro desceu para tentar dissuadir os manifestantes de marchar para Seul, com o governo preocupado que a controvérsia possa se transformar em uma questão política nacional.

Cerca de 200 navios, 34 aeronaves e 600 mergulhadores participam da operação de busca, diz o correspondente.

Mas as correntes ainda são fortes e a visibilidade permanece desafiadora.

O oficial da guarda costeira Koh Myung-seok informou que os mergulhadores tinham descoberto corpos em diferentes locais do navio.

'Inexperiente'

O capitão e dois outros membros da tripulação estão sob custódia e foram acusados de negligência do dever e de violação do direito marítimo.


Autoridades disseram no sábado que a balsa estava sendo dirigida pelo terceiro-tenente, inexperiente em águas desconhecidas quando o navio afundou.

O capitão da balsa disse ontem que não deu ordens imediatas de evacuação quando o barco começou a virar porque temia que os passageiros fossem arrastados pelo mar, que tem correntes fortes no local do acidente.

As causas do acidente ainda não estão esclarecidas. A balsa, que navegava de Incheon, no noroeste, para uma ilha ao sul, virou e afundou em duas horas na quarta-feira.

Alguns especialistas acreditam que uma curva fechada feita pouco antes do acidente pode ter movido carga pesada e desestabilizado o navio, enquanto outros sugerem que o naufrágio pode ter sido causado por uma colisão com uma rocha.

Cerca de 350 das pessoas a bordo eram estudantes de uma escola de Seul e estavam em uma excursão escolar quando a balsa afundou.