Felipe terá grandes desafios ao assumir como rei da Espanha, diz analista
O príncipe Felipe enfrentará grandes desafios ao se tornar oficialmente o rei da Espanha a partir desta quinta-feira.
Alguns deles são consequência da grave crise econômica dos últimos seis anos, que resultou em grandes dificuldades e desigualdade crescente no país.
Seu pai, Juan Carlos, já havia admitido no discurso de abdicação ao trono que a crise - da qual a Espanha, só agora, está lentamente se recuperando - causou ferimentos profundos, que não serão superados de uma hora para a outra.
Assim, a tarefa mais importante do futuro rei será ajudar a sociedade espanhola a superar este doloroso legado.
A crise também abasteceu o descontentamento público com as principais instituições espanholas, que enfrentam questionamentos sem precedentes, e muitos temem que somente a recuperação econômica não será capaz de reconquistar o apoio do público.
O próprio Juan Carlos reconheceu tal fato, dizendo que sua abdicação significa abrir espaço para as "transformações" e "reformas" que as atuais circunstâncias exigem.
Crise na Catalunha
Como seu pai, o futuro rei terá poderes políticos limitados, e a recuperação da imagem do sistema político dependerá dos principais atores políticos.
No entanto, a Constituição de 1978 estabelece que a monarquia "arbitra e modera o funcionamento regular das instituições", o que deve permiti-lo pressionar líderes políticos a deixarem as diferenças de lado e buscar respostas criativas para problemas aparentemente sem solução.
O futuro rei não possui um mandato político para realizar alterações e, claro, não pode prejudicar o governo democraticamente eleito da Espanha, mas ele ainda quer exercitar o seu direito de ser consultado para apoiar e alertar.
O desafio político mais sério a ser enfrentado por ele será a decisão do governo da Catalunha de realizar um referendo sobre a independência da região no dia 9 de novembro. O governo espanhol e a Corte Constitucional classificaram o processo como ilegal.
Felipe - que fala catalão e conhece bem a região - pode ter uma atuação discreta em ajudar os líderes políticos a encontrarem uma maneira para superar a crise.
O caso poderia levar a uma crise institucional sem precedentes se autoridades da Catalunha tentarem uma declaração unilateral de independência.
Novos esforços para acomodar nacionalistas, incluindo catalães, dentro do Estado espanhol são esperados, e devem exigir uma reforma constitucional.
Prestígio em queda
No curto prazo, no entanto, o maior desafio do novo monarca será reformar o papel e o estilo na própria monarquia espanhola.
O prestígio da instituição foi afetado pela atual investigação sobre as atividades financeiras do cunhado de Felipe, Iñaki Urdangarin, o que forçou o príncipe a ter contato limitado com sua irmã Cristina.
A investigação em si prova que ninguém é acima da lei na Espanha, mas ainda não se sabe se será capaz de causar mais estragos à imagem da monarquia no futuro.
Acima de tudo, o escândalo trouxe à tona a importância de garantir que a família real funcione de forma mais transparente.
Felipe 6º também terá de se aproximar de setores da sociedade espanhola cada vez mais indiferentes ou hostis à monarquia.
O futuro rei pode ser menos espontâneo e caloroso que seu pai, mas ele é esforçado e disciplinado, e será o primeiro monarca espanhol com um diploma universitário.
No atual clima, estes atributos certamente o colocarão em uma posição favorável sob os olhos de seus conterrâneos.
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