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Israel usa arsenal sofisticado contra foguetes palestinos obsoletos

Jonathan Marcus

Analista para Assuntos de Diplomacia da BBC

11/07/2014 15h02

O conflito entre militares israelenses e braços armados do Hamas e de outros grupos palestinos na faixa de Gaza é uma clássica batalha assimétrica.

Os dois lados estão longe de serem equiparáveis em termos de poder de fogo, mas ainda assim podem exercer grande pressão um sobre o outro.

Inevitavelmente, a perda de vidas nos dois lados também é assimétrica. O número de vítimas entre os palestinos vem crescendo desde o início da operação israelense na faixa de Gaza, território palestino pequeno e densamente povoado.

Israel argumenta que uma proporção significativa da infraestrutura do Hamas está localizada em áreas civis.

As Forças de Defesa Israelenses (IDF, na sigla em inglês) dizem que são cuidadosas e tentam evitar, ao máximo, atingir civis.


No entanto, algumas de suas táticas de combate são contestáveis: grupos de direitos humanos em Israel criticam o fato de militares israelenses terem como alvos casas de suspostos comandantes militantes palestinos, localizadas em áreas populosas.

O hábito de Israel de telefonar para moradores para alertá-los antes dos bombardeios não tem sido eficiente na redução do número de vítimas.

Mas quais recursos estão sendo usados pelos dois lados, enquanto a guerra vai se tornando o desfecho mais provável?

Arsenal palestino

O Hamas e outros grupos palestinos mais radicais em Gaza construíram um arsenal de foguetes obsoletos que, ao longo dos anos, aumentaram consideravelmente seu alcance. Este é um fator importante. Nenhum desses armamentos é sofisticado.

A maioria conta com tecnologia da era soviética e é composta por foguetes de artilharia construídos para serem lançados em grandes quantidades em vez de individualmente.

Alguns foram contrabandeados através de túneis vindos do Sinai, no Egito; alguns são fabricados em oficinas na Faixa de Gaza, apesar de muitos deles dependerem de peças contrabandeadas trazidas do Irã e da Síria.

Sistemas de baixo alcance incluem morteiros pesados e os foguetes Grad e Qassam, com alcance de até 48 quilômetros e 17 quilômetros, respectivamente.

Há também o foguete de longo alcance Fajr-5, conhecido como M75. Pode atingir uma distância de 75 quilômetros, ameaçando grandes cidades como Tel Aviv e Jerusalém.

Mas o uso do Fajr-5 traz grandes problemas práticos. O armamento é pesado e muito grande, com 6 m de comprimento. Requer operação mecânica e precisa ser posicionado em locais escondidos dos olhos intrometidos dos drones israelenses.

A última novidade é o aparente uso pelos palestinos do foguete Khaibar-1, um sistema ainda maior de longo alcance, que seria de fabricação síria.

O armamento teria sido utilizado no início deste mês e teria alcance de até 160 quilômetros, podendo chegar até a costa norte de Israel.

O alcance deste armamentos é um fator crucial, por ameaçar a população de grandes cidades israelenses.

Isso também significa o aumento da pressão no governo de Israel, de duas formas: de um lado empurra para o aumento do conflito, mas também lembra contra o potencial custo de um conflito aberto.

O problema para o Hamas e para outros grupos armados é a habilidade limitada de manter estas operações. Fontes do setor de serviços secretos de Israel sugerem que os grupos palestinos têm milhares de foguetes de menor alcance e, no máximo, apenas alguns sistemas que chegam a centenas de quilômetros de alcance.

Os líderes palestinos também estão atentos para o fato de que o novo governo do Egito tomou medidas para fechar muitos dos túneis.

Mas os combatentes palestinos não são totalmente passivos: claramente possuem planos de defesa bem elaborados para tentar evitar qualquer incursão israelense por terra.

Existem também uma infraestrutura subterrânea sofisticada, e as práticas operacionais israelenses, de outros combates contra os palestinos, foram cuidadosamente estudadas.

A resposta israelense

A resposta de Israel ao aumento dos ataques com foguetes tem natureza tanto defensiva quanto ofensiva.

O diversificado poderio aéreo isralense tem sido usado em uma série de ataques contra locais de onde os foguetes palestinos estão sendo lançados, lojas de armas e contra os elementos de comando do Hamas e de outros grupos.

Até agora isso não interrompeu ataques com foguetes, mas fez subir o número de mortos e feridos entre os palestinos.

Outro ponto importante da estratégia isralense, além das táticas ofensivas, é que éla conta com o sistema de defesa antimísseis Domo de Ferro para defender a população civil.

O Domo de Ferro não consegue interceptar todos os mísseis; radares e sistemas de comando analisam onde os mísseis poderão cair e interceptam apenas aqueles que estariam indo em direção a áreas civis.


Além deste sistema, Israel também está se preparando para uma operação por terra, caso seja necessária. Já enviou três brigadas para a região da fronteira com a Faixa de Gaza e os reservistas foram mobilizados.

 

Futuro

Se os disparos de foguetes contra Israel continuarem, os ataques aéreos de Israel também vão continuar e o número de mortos entre os palestinos vai aumentar.

Outros países estão criticando cada vez mais o governo de Israel e o país já lançou uma ofensiva diplomática. Mas, novamente, se os disparos de foguetes não pararem muitos governos aliados vão perceber o tipo de pressão exercida contra o governo israelense.

E o Hamas está sendo pressionado também. A relação do grupo com o governo do Egito se deteriorou, eles estão com problemas financeiros e a maior parte de sua infraestrutura na Cisjordânia está sendo desmontada, o que deixa o Hamas isolado.

Paradoxalmente, a fraqueza do Hamas também é um problema para Israel. A alternativa ao poder do Hamas pode ser a anarquia na região, com grupos extremistas jihadistas assumindo o controle e outros combatentes chegando à região vindos do Sinai.

Isso não beneficiaria o futuro da segurança de Israel.

De qualquer forma os disparos de foguetes continuam e a possibilidade de uma incursão por terra aumenta.

Israel insiste que não quer fazer uma operação terrestre. Por outro lado, o maior "feito" do Hamas poderá ser desencadear esta operação.