Topo

Irmã de Pablo Escobar busca redenção deixando pedidos de perdão em túmulos de vítimas

AFP
Imagem: AFP

Linda Pressly

Da BBC News em Medellín

03/12/2014 09h36

Faz 21 anos desde que Pablo Escobar foi morto por uma saraivada de balas em um telhado de uma casa em Medellín, dando fim a seu reinado como o mais famoso traficante de drogas da Colômbia, responsável por milhares de mortes.

Seus crimes podem ser perdoados? Sua irmã vem tentando fazer isso ao deixar bilhetes com pedidos de desculpas nos túmulos de suas vítimas.

"Todos os dias, penso em todas aquelas pessoas que sofreram ou que estão sofrendo por causa de meu irmão, por causa da guerra que ele travou", diz Luz Maria Escobar.

Nos anos 1980, e até sua morte, em 1993, Pablo Escobar e o Cartel de Medellín foram responsáveis por uma lista sangrenta de assassinatos e por caos na Colômbia.

Em 1991, a taxa de homicídios em Medellín, segunda maior cidade do país, era de impressionantes 381 mortes para cada 100 mil habitantes. Cerca de 7,5 mil pessoas foram assassinadas na cidade só naquele ano.

Em sua batalha contra o Estado, Escobar mirava em políticos, policiais, membros de forças de segurança, jornalistas e membros do Judiciário.

Ele declarou esta guerra para impedir que uma lei que permitia a extradição de traficantes para os Estados Unidos fosse aprovada.
 

Bombas em carros, sequestros, torturas e assassinatos tornaram-se parte do cotidiano.

Em uma tentativa fracassada de matar um candidato à Presidência, Escobar até mesmo derrubou um avião em 1989.

O homem que viria ser eleito presidente, Cesar Gaviria, não estava a bordo, mas centenas de pessoas perderam suas vidas na explosão.

Luz Maria Escobar - BBC/Getty - BBC/Getty
Luz Maria Escobar, irmã de Pablo Escobar
Imagem: BBC/Getty

Auge

No seu auge, Pablo Escobar era o sétimo homem mais rico do planeta, e seu cartel controlava 80% do tráfico de cocaína no mundo.

Mas Luz Maria diz que, em 1980, não sabia de nada sobre o envolvimento do irmão com o tráfico de drogas. Isso mudou quando ele anunciou que havia feito um testamento.

"Minha mãe estava muito triste. Ela disse a ele: 'Por que está fazendo isso? Está morrendo?'. E ele disse: 'Estou na máfia, e nenhum mafioso morre de causas naturais ou de doenças. Mafiosos morrem por causa de balas.' Nem sabíamos o que significava 'máfia'. Naquela noite, minha mãe e eu pegamos um dicionário, mas a palavra não constava dele."

A ficha só caiu para Luz Maria quando o então ministro da Justiça, Rodrigo Lara Bonilla, foi assassinado a mando de Escobar, em 30 de abril de 1984.

"Foi um dia terrível para mim. Foi quando eu soube no que ele estava envolvido e do que meu irmão era capaz."

Ela tentou fazer Escobar mudar de vida.

"Com frequência, o buscava - sempre com minha mãe. Falávamos que era um derramamento de sangue muito grande, que eram muitos massacres... Mas ele conseguia nos convencer do contrário", conta Luz Maria.

"E, depois que meu pai foi sequestrado, em 1985, Pablo me disse: 'São eles ou nós'. Ele carregava uma arma para defender a si mesmo e a sua família. Mas, àquela altura, não pensava que tudo iria tão longe - que ele deixaria uma marca no mundo tão triste e dolorosa."

Perdão

Atualmente, Luz Maria Escobar quer pedir desculpas pelos pecados de seu irmão. No ano passado, quando a morte de Escobar completou 20 anos, ela realizou uma missa na igreja do cemitério Jardines Montesacro, em Medellín.

Do lado de fora da igreja, no túmulo de seu irmão, ela pendurou um bloco e lápis.

Todos os dias, dezenas de colombianos e turistas estrangeiros visitam o local do descanso final do criminoso mais infame da Colômbia, e Luz Maria Escobar pediu a estas pessoas para deixar para ela uma mensagem de perdão.

"Sete ou oito pessoas das famílias de vítimas da violência de meu irmão vieram", ela lembra.

"E o mais legal, algo que encheu de felicidade, foi que pessoas me abraçaram e me disseram que não tinham ressentimentos em relação a meu irmão."

Ela também deixou bilhetes nos túmulos de vitimas de Pablos Escobar. "Apenas peço perdão", ela explica.

Uma vez, ela deixou uma carta no túmulo de uma mãe cujo filho tinha sido assassinado a mando de seu irmão.

"Garanti a ela que meu coração está repleto de amor por todas as vítimas e todas as pessoas que foram mortas."

Mas o que pesa exatamente em sua consciência?

"Não tenho que pedir perdão por nada como isso em minha vida. Mas a história de sua família é a história de sua família. E Pablo era meu irmão..."

Saudades

O amor do irmão é o que mais faz falta a Felipe Mejia. Jaime Hernan Mejia Garcia tinha apenas 18 anos quando foi morto em 1989. Ele estava terminando a escola e sonhava com uma carreira na Força Aérea da Colômbia.

Os bilhetes de Luz Maria geram em Mejia uma confusão de sentimentos.

"Acho que é algo bom, depois de todo o dano causado por seu irmão. Mas, se um destes bilhetes aparecesse no túmulo de meu irmão, provavelmente o jogaria no lixo, porque um pedido de desculpas não é suficiente. É uma questão de justiça", diz ele.

"Alguns dos envolvidos no assassinato de meu irmão ainda estão vivos. Eles tiveram vidas plenas - têm filhos e netos... E eu não tenho meu irmão."

Jaime foi erroneamente associado ao maior rival do Cartel de Medellín na Colômbia - o Cartel de Cali.

"Foi uma época em Medellín quando qualquer um que fosse associado ao Cartel de Cali era simplesmente assassinado. E minha família inteira foi ligada a ele por engano", lembra-se Felipe.

"Por meses após a morte de meu irmão, todos dormíamos em um mesmo quarto em colchões no chão, porque meu pais diziam: 'Se eles querem nos matar, podem matar todos juntos'."

Felipe e sua família não se mudaram - seus pais diziam que não tinham feito nada do que se envergonhar. E as pessoas as quais Felipe acredita que estejam ligadas à morte de seu irmão também não se mudaram.

"Não falo com estas pessoas há mais de 20 anos, mas meus pais os cumprimentam cordialmente. Repreendo-os por isso, e eles começam a chorar", diz Felipe.

Legado de dor

Luz Maria Escobar também chora. Ela diz que, apesar de seu coração ainda estar repleto de amor por seu irmão, seu legado é doloroso para ela.

Mas ela também defende Pablo Escobar, ao afirmar que ele foi considerado culpado por coisas que não fez. E diz que ele realizou um ótimo trabalho com os mais pobres.

"Pablo é o único político colombiano que não precisou fazer campanha", ela diz, em referência à curta carreira de Escobar no Congresso Nacional.

"Ele conquistou os votos por causa da ajuda que prestou a todos e pelo fato de ter mantido sua palavra".

Luis Ospina, cujo pai foi uma das vítimas de Escobar, não compra esta história.

"Pablo Escobar era um psicopata com muito dinheiro", ele diz.

O pai de Luis, Alfonso Ospina, era senador em Medellín, e apoiou a extradição de traficantes para os Estados Unidos.


Na manhã de 15 de novembro de 1988, ele foi sequestrado por membros do Cartel de Medellín. Foi morto no cativeiro.

"Até tivemos de pagar resgate pelo corpo, de tão ruins que as coisas estavam aqui em Medellín", diz Luis.

"O contato para isso foi uma pessoa que havia sido amiga do meu pai, mas que trabalhava para Escobar. Pedimos a este homem para nos entregar o corpo. Ele pediu dinheiro e disse que era para os sequestradores e para toda a logística que deveria ser organizada. Escobar subornava a muita gente."

Pablo Escobar foi morto em um tiroteio com a polícia em 2 de dezembro de 1993.

"Chovia muito, e o rio de Medelin estava no nível mais alto que já vi na vida, prestes a inundar toda a cidade", recorda Luis Ospina.

"E senti esta energia... foi como se uma corrente de maldade estivesse deixando a cidade."