Jihadista britânico que fingiu a própria morte admite crimes de 'terrorismo'
Um britânico que viajou à Síria para abraçar o extremismo islâmico e forjou sua própria morte para voltar em segredo à Europa admitiu sua culpa em quatro acusações de terrorismo no Reino Unido.
Segundo a polícia, Imran Khawaja, 27, do oeste de Londres, é um dos mais perigosos jihadistas britânicos a retornar do país árabe em guerra civil. Ele pode ser condenado à prisão perpétua, ainda que suas atividades na Síria continuem sendo um mistério.
Khawaja deixou o Reino Unido em janeiro do ano passado, usando o nome de Abu Daigham al-Britani. Após atravessar território curdo e chegar à zona de guerra síria, ele começou a postar vídeos e fotos de sua jihad pessoal.
Sempre mascarado, acabou virando um dos combatentes britânicos mais conhecidos online.
Em um dos vídeos, ele explica como um outro combatente estava de volta à batalha após levar um tiro, "graças à vontade de Alá".
Convocatórias
Khawaja era membro da Rayat al Tawheed, que significa Bandeira da Unidade. O grupo de combatentes, filiado ao grupo autodenominado "Estado Islâmico", incluía diversos cidadãos britânicos e passou mais de um ano passando mensagens convocatórias a simpatizantes e possíveis recrutas no país europeu.
O jihadista produziu campanhas por doações, diários em vídeo relatando seu cotidiano e "tours" dos quartéis-generais dos combatentes.
Shiraz Maher, do Centro Internacional de Estudos do Radicalismo (ICSR, na sigla em inglês), da universidade Kings College London, tem tentado identificar combatentes estrangeiros na Síria e no Iraque.
"O grupo do qual Khawaja fazia parte na Síria era bastante dinâmico", diz Maher.
"Eles claramente tinham pessoas com habilidades de programação [de computador] --conseguiam fazer propagandas bem produzidas e pôsteres que atraíam jovens muçulmanos britânicos. Eles conseguiram usar as mesmas âncoras culturais que essas pessoas conhecem. Falavam com eles como se fossem amigos. A Rayat al Tawheed ajudou muito nos estágios iniciais do conflito retratando a ideia do voluntariado ao jihadismo como algo glamouroso, aventureiro e nobre."
Mas a guerra da Rayat não era simplesmente nobre ou glamourosa. Parte de seu material online mostrava cenas aterrorizantes de morte. Uma delas mostrava as mãos ensanguentadas de um homem, com a legenda: "Minha primeira vez".
Outra imagem chocante incluía o próprio Imran Khawaja segurando uma sacola com uma cabeça dentro --supostamente de um soldado do Exército sírio.
Volta para casa
Enquanto isso, o serviço secreto britânico MI5 observava Khawaja à distância. Até que, em junho passado, ele decidiu voltar para casa. O motivo por trás dessa decisão não está claro.
Seu primo, o taxista Tahir Bhatti, concordou em ajudá-lo no regresso, já que a família queria vê-lo em segurança.
Khawaja primeiro pediu ao primo uma arma e dinheiro; Bhatti não deu. Porém o primo --que admitiu o crime de ter auxiliado um criminoso-- dirigiu para a Bulgária para buscar o parente.
O combatente começava a tentar encobrir seus passos. Khawaja fingiu sua própria morte com um obituário online, segundo o qual ele havia morrido em combate. O anúncio pedia a Alá que lhe concedesse a mais alta posição no paraíso.
Ele tentou então retornar ao Reino Unido secretamente. Ambos foram pegos pela polícia ao chegar a Dover, na costa da Inglaterra.
"Imran Khawaja não é um adolescente vulnerável atraído para a Síria", disse Richard Walton, chefe da unidade de contraterrorismo da polícia de Londres.
"É um homem que escolheu o caminho do terrorismo, que escolheu ir à Síria para ser treinado em um campo terrorista. Não sabemos por que ele voltou nem o que planejava, mas sabemos como ele disfarçou sua entrada e fingiu sua própria morte. É um homem perigoso."
Imran Khawaja ficou detido em uma unidade especial para suspeitos de terrorismo na prisão de segurança máxima de Belmarsh, em Londres.
Ele admitiu quatro crimes: preparar atos de terrorismo, comparecer a treinamento para terrorismo, fazer treinamento para terrorismo e portar armas com propósito terrorista.
A admissão ocorreu no mês passado, mas só pôde ser divulgada pela imprensa nesta terça-feira (20), por ordem judicial. Sua sentença será anunciada no mês que vem.
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